VIVA O CORAÇÃO DE JESUS PRESENTE NA EUCARISTIA!

“… Resolvamos meus caros de não mais angustiar de modo algum este Coração, mas de amá-lo ardentemente, colocar nele nossa confiança e compensá-lo com zelo vivíssimo e bom exemplo, dos escândalos que recebe dos homens”. (Beato Miguel Rua).

Caros irmãos, encerramos o mês de maio, vivido em nossas comunidades com muito fervor e uma vibrante alegria pascal. Damos graças ao Senhor por tudo aquilo que ele realizou em nossos corações neste tempo. Agradecemos pelos significativos momentos que tivemos a oportunidade de testemunhar em nossa inspetoria e no mundo católico. Damos graças pela ordenação de D. Edson Damian, novo bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira; agradecemos o serviço prestado em todos esses anos por D. Song; agradecemos o dom da santidade na família salesiana, representada neste mês em Domingos Sávio (06), Madre Mazzarello (13) e tantos salesianos que viveram no silêncio e no anonimato a santidade e são todos os dias recordados em nosso necrológico. Finalmente com a Solenidade de Nossa Mãe Auxiliadora, permanecemos em cenáculo a espera do Espírito Santo.

Agora a Igreja , como mistagoga da fé, continua a nos apontar a direção, o caminho de seguimento e conversão ao Senhor que passa pelo seu Sagrado Coração.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é um dos grandes pilares da espiritualidade Salesiana, querida e incentivada por Dom Bosco. Dão testemunho disto, seus escritos, conferências e, sobretudo, a quantidade de templos, obras e casas dedicadas ao Sagrado Coração durante as primeiras décadas de sua jovem Congregação.

Na contemplação do Coração de Cristo gerações de salesianos santificaram-se e nos deixaram um belíssimo testemunho de doação aos jovens. Dentre eles tem destaque especial o Venerável André Beltrami, que não via as horas passarem e nem era capaz de distrair-se em suas meditações matinais quando mirava os olhos no Coração de Cristo, que lhe parecia vir ao encontro. Desta escola de santos conhecemos também a devoção do Beato Miguel Rua, quando respondendo ao apelo de vários irmãos e valendo-se do convite do Papa Leão XIII, que propusera a Consagração do Gênero Humano ao Sagrado Coração de Jesus na passagem do século XIX ao século XX, convocou, com carta circular do ano de 1900, os salesianos do mundo inteiro a consagrarem-se Solenemente ao Sagrado Coração de Jesus.

A fim de que este ato tivesse um valor espiritual duradouro o Beato propôs, nessa mesma circular, cinco práticas a serem vivenciadas em nossas casas como ato de amor reparador ao Sagrado Coração, a saber: a prática dos Nove Ofícios; a Guarda de Honra; a Comunhão Reparadora, a Hora Santa e a devoção das primeiras sextas-feiras do mês.

Nossas casas empenharam-se em vivenciar estas orientações com prontidão e alegria. Não faltaram publicações de opúsculos contendo as orações para estas diversas práticas, que eram rezadas geralmente antes do almoço.

Com o passar dos anos, sobretudo, no período pós segunda guerra, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus começou a esmaecer. Parecia para muito uma devoção demasiadamente emotiva, pouco atraente para os tempos que estavam se firmando. Estava claro que a devoção do Sagrado Coração de Jesus havia sido bonita e importante para os tempos de Margarida Maria, porém, pouco dizia para o século XX. Parecia mesmo está fadada ao desaparecimento. Carecia de fundamentação bíblica e assim por diante…

Em 1956, sua santidade Pio XII escreve a Encíclica Haurietis aquas in gaudio, propondo uma teologia do Sagrado Coração como resposta e incentivo a esta devoção tão querida pelos místicos de todos os tempos. Em nossas casas até este momento a devoção continuava sendo vivamente incentivada entre os alunos com diversas iniciativas.

Tendo o concílio vaticano II definido a hora média como hora canônica, as comunidades passaram a adotar a oração da Igreja, coisa muito certa. A Coroinha ao Sagrado Coração, os ofícios… até então rezados em comunidade, ficaram a encargo pessoal de um e outro salesiano.

Não demorou que estas práticas caíssem em quase total esquecimento. Somente alguns salesianos mais antigos podem testemunhar a validade e a autenticidade carismática de tais práticas.

Por ocasião do centenário da basílica do Sagrado Coração de Roma (1987), Pe. Egídio Viganò, também escreveu uma carta circular exaltando esta devoção e falando de sua importância na vida do salesiano. O resultado deste apelo porém resumiu-se a iniciativas isoladas e direcionadas para os festejos do centenário e, nos parece, não para um reassumir da devoção. Mesmo hoje, sendo o Sagrado Coração de Jesus padroeiro das casas de noviciado do mundo todo e de muitas casas de pós noviciado, pouco ouvimos de iniciativas neste sentido. Infelizmente em muitos casos esta devoção tão bela não consegui superar o estigma de devoção para senhores e senhoras idosos e não uma devoção viva, dinâmica, vibrante, que arde em caridade, como é o Coração de Jesus.

A prática dos nove ofícios, foi iniciada pelas religiosas da Visitação, fundadas por São Francisco de Sales. Os textos e ofícios foram extraídos em grande parte das revelações feitas por Nosso Senhor Jesus Cristo a Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa da referida ordem. Percebemos com clareza traços marcantes da tradição salesiana: simplicidade, espiritualidade do cotidiano, consagração das ocupações diárias.

Por isso estimulamos os irmãos a cuidarem com particular carinho neste mês de oferecerem um significativo tempo para a meditação deste Sagrado Coração, considerando a resposta dada por Dom Bosco ao Beato Augusto Czartoryski quando este perguntou-lhe qual era a melhor devoção – “ A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, palpitante de amor na Santíssima Eucaristia”, respondeu Dom Bosco. Com freqüentes visitas e com uma digna preparação e participação neste sacramento de amor amemos seu Coração.

Compreendemos que estamos em um momento muito diverso daquela devoção expiatória do século passado, a linguagem, a teologia deu passo, as concepções mudaram. Não muda porém, o convite de Jesus – Vinde a mim … Não passa seu apelo para que façamos de seu Coração centro e síntese de nossa ação pastoral.