Pe. Pascual reflexões sobre a fragilidade vocacional
A Comunidade Salesiana do Teologado Gerini Roma, recebeu no dia 23 de março às 18:30h a visita do Reitor-Mor, Pe. Pascual Chavez, como tradicionalmente faz a cada ano, a fim de contagiar com sua presença animadora em meio aos teólogos e comunidade formadora.
Pe. Pascual foi acolhido com alegria pelos teólogos que entoaram jubilosos ¨Salve, D. Bosco Santo¨, com breve apresentação da comunidade internacional composta por 40 teólogos de 23 paises provenientes de 24 inspetorias além de 5 formadores.
Após saudações iniciais o reitor-mor, com muita abertura e generosidade, fez uma conferência a todos sobre a fragilidade vocacional conforme as últimas reflexões do Dicastério da Formação e do Conselho Geral.
Pe. Pascual acentuou sobretudo o dom e o desafio da formação hoje em um contexto pluricultural e individualista. Ressaltando a competência e exigências à formação hoje. Destacou sobretudo a importância de uma formação que responda às necessidades dos tempos presentes sem se amedrontar diante das incertezas e angústias do jovem do século XXI.
Classificou o tema da fragilidade vocacional em quatro grupos e seus respectivos perfis, apontando situações e exemplos concretos que acontece hoje particularmente na vida salesiana.
O primeiro grupo é composto por jovens que estão em nossas casas, que iniciam o processo formativo e ao longo deste, conforme acompanhamento e discernimento sério se dão conta de que não são chamados à vida religiosa salesiana, e pedem para sair conscientemente do processo formativo, em vista de almejar sua própria realização.
O segundo grupo é composto por jovens que iniciam o processo formativo e por falta de um respectivo acompanhamento e discernimento sério, ou ainda, motivos banais e passageiros ou por puro egoísmo deixam a vida salesiana, porém posteriormente se arrependem de tal decisão, Pe. Pascual comparou ao matrimônio, que precisa de paciência e autocompreensão diante de situações e crises.
O terceiro grupo é composto de salesianos que permanecem na congregação. Os anos passaram e resolve ficar por pura comodidade, pois a ¨tranquilidade¨ da vida religiosa parece um oásis seguro e eterno. Tem medo de enfrentar a vida fora, porque goza de ¨vida fácil¨ permanecendo. São como que ¨arrastados¨ pela comunidade, mas a fundo não tem mais motivações, Pe. Pascual acentuou que fidelidade nao é permanência ou vice-versa, porém deveriam realmente deixar a congregação.
O quarto grupo enquadra aqueles irmãos que estando na comunidade a pouco ou muitos anos tomaram consciência de que estão esmorecendo, sem ânimo e sem vigor, porém decididamente retomam o caminho motivacional, como um caminho de conversão e apelo vocacional a fazer a experiência contínua do chamado como o ¨Eis-me aqui!¨ (1Sm 3,4), a fim de retomar o fôlego e o ânimo de outrora, em virtude de reavivar elementos genuínos que o fizeram assumir a vida salesiana e finalmente reacendem a chama vocacional e a vivem com intensidade.
Frente a essa panorâmica de grupos que se encontram em fragilização na vida religiosa como um todo, seja membros de vida contemplativa ou de vida ativa. Pe. Pascual ressaltou alguns desafios da nova era que amedronta a formação como o desafio do pré-noviciado onde hoje a proveniência dos que iniciam este processo é bastante variegado, dado as experiências diversas, pois em tempos idos todos proveniam do aspirantado e praticamente tinham a mesma média de idade, hoje acolhe-se jovens de 40 anos que fazem junto a jovens de 16 anos esta mesma experiência.
Adultos que têm experiências e competências profissionais e jovens que chegam com uma formação intelectual mínima. Jovens que chegam com uma profunda experiência de igreja e jovens que agora começam a dar os primeiros passos da vida sacramental, ou seja, destacou a disparidade de experiências e níveis de maturidade.
Como resposta a esses desafios emergentes a maioria centrado ou iniciado ao longo do processo formativo, afirmou que o centro ou o ponto de convergência a ser redescoberto ou reafirmado, clara e precisamente, é a centralidade do chamado vocacional cuja raiz e fonte única é Deus, radicado na pessoa singular de seu Filho, Cristo Senhor, cume e ápice da vida religiosa. Recordando S. Bento em suas palavras ¨Nada e ninguém deve preceder o amor de Deus¨, afirmou a necessidade de se viver com paixão essa centralidade na vida consagrada, primado da vida de unidade, chegando a ponto de afirmar como disse S. Teresa ¨Só Deus basta¨, afirmando que o salesiano deve ser capaz de renovar quotidianamente essa aliança seja pela meditação e vida quotidiana consciente de que escolheu um único e salvífico amor cuja precedência e fonte vital é Deus.
O reitor-mor completava: hoje somos homens técnicos e demasiadamente intelectuais. Agimos instrumentalmente e perdemos sensibilidades humanas sérias diante dos conselhos evangélicos. Afirmava por exemplo a presença do ¨sino¨ ou da ¨campainha¨ em nossas casas. Age-se porque a ¨obrigatoriedade¨ da comunidade formaliza o quotidiano, não que essa tradição do ¨sineiro¨ tenha que ser abolida, mas metaforicamente acentuava a incapacidade de muitos em assumir as responsabilidades devidas das mínimas as maiores na comunidade salesiana, precisando sempre de alguém que o diz como e quando agir, roubando a espontaneidade e criatividade típicas de um bom salesiano. Recordava portanto que precisamos assumir os compromissos quotidianos não por mera formalidade, mas por autoconsciência da vocacão que precede a ação como serviço, responsabilidade, coerência.
Assim o reitor-mor acentuou a necessidade hoje de uma formação integral e personalizada. Integral porque acolhe o ser humano em toda sua inteireza sem esquecer, negligenciar ou camuflar as demais dimensões, como exemplo concreto referiu-se a castidade assumida como entrega e não como privação, a necessidade de se reconhecer integralmente como pessoa (Ratio 54). Personalizada porque se centra sobre a pessoa não sobre as coisas, atende ao indivíduo e não prioritamente as estruturas. É adaptada, justa, próxima, conhece a fundo o formando, gera reciprocidade, transparência, maturidade.
Por fim Pe. Pascual acentuou que se em 1985 tivemos uma das melhores Ratio como processo coeso de vida formativa, dada suas posteriores revisões. Dispomos hoje da nova Ratio como um magnânimo compêndio formativo, preciso e claro. Porém, precisamos sobretudo da prática, ou seja da praxis da nossa ação educativa que se faz testemunho e coerência de vida, como experiência consciente e decisiva de vida religiosa radical.
Concluindo sua condivisão o reitor-mor acentuou aos teólogos: ¨Vocês são privilegiados, porque se encontram por idade, em uma etapa de vida decisiva. Porque é no teologado que se faz a opção pela profissão perpétua e posteriormente o ministério sacerdotal. Portanto, jovens alegrem-se e vivam intensamente a experiência de vida salesiana que Deus vos oferece¨.