Visita ao triângulo Tucano

Partilho com os irmãos a experiência que fiz em 12 dias de viagem pelo alto rio negro, conhecendo e me encontrando com a juventude das três paróquias do triângulo Tucano (Taracuá, Pari-cachoeira e Iauareté), entre os dias 12 à 22 de agosto deste ano na companhia do bispo diocesano D. Edson Damian.

Em 2007, quando estava no pré-noviciado foi nos dada à oportunidade de realizar um trabalho de animação pastoral nas férias em Santa Izabel do baixo rio negro. Foi uma experiência impar. Recordo-me que escrevendo sobre o lugar dizia encontrar-me diante do Gênesis de Deus: Aqui a natureza, o belo, está sendo criado a cada instante, Deus faz-se visível em sua criação. O Gênesis está constantemente diante de nossos olhos. A oração vira poesia e a poesia expressa uma fração da perfeição de Deus que criou tudo isto… É belíssimo… É orante estar aqui!

No final do ano passado outra oportunidade foi a de conviver com os Indígenas Yanomami de Maturacá do médio rio negro por 20 dias. De tudo me recordo com particular carinho a viagem que fiz de São Gabriel na companhia de um grupo de Yanomami que subiam. Não compreendia nada da língua, mas aqui e acolá, um professor que estava na voadeira, dizia: Aqui padre Góes passou o natal quando quebrou o barco, aqui alagou padre José Schneider, e assim por diante. Meu sentimento era de estar vivendo a experiência daqueles primeiros salesianos. Uma tarde, uma noite, entre chuvas e relâmpagos, não pôde tirar o ânimo daquela viagem extraordinária. Acompanhei de um modo privilegiado um pouco da sensação e das dores dos meus primeiros irmãos arautos dos Yanomami.

Nesta viagem, não tenho dúvidas: Fiz meu segundo noviciado! Um retiro sem interrupção, minha peregrinação salesiana, pois estive o tempo todo em lugares salesianos, marcados pela presença e ação de uma multidão de padres, irmãos coadjutores, freiras e colaboradores, muitos deles e delas sepultados aqui. A cada curva dos rios, a cada cachoeira, a cada construção que se levantava sobre os montes só podia exclamar: Como trabalharam nossos irmãos e irmãs. Entendo agora o que significa dizer: Deram a vida pela missão.

Estas narrações não pretendem reconstruir dados históricos, oferecer com precisão nomes e sobrenomes, isto outros poderão fazer com maior acerto, meu desejo, como foi expresso acima, é somente partilhar os sentimentos que me tocaram nesta viagem, e que, se não me traírem as palavras, desejo toquem igualmente aos irmãos que ainda não conhecem esta região. A propósito, ouso até sugerir à comissão organizadora dos festejos do centenário da presença salesiana na Amazônia, pensar com carinho na possibilidade de oferecer este valioso presente aos irmãos. Seria uma peregrinação renovadora.

Para não me tornar demasiadamente cansativo dividi o texto em três partes, sabendo que alguns temas necessitariam de outro escrito dada as muitas particularidades que apresentam. Vale ressaltar que se nossa escrita é carregada de sentimentos, de modo algum deve ser entendida como uma narração triunfalista da nossa presença ou uma apresentação romântica do passado, ao contrário, nosso coração reconhece com sentimentos de humildade e justa penitencia, de que se em determinados contextos pecamos, maior foi a Graça de Deus que redundou, até mesmo as lágrimas, em benefícios aos seus filhos todos. Aqui viemos em nome da Igreja, em obediência ao santo padre, e em nome desta mesma Igreja continuamos dispostos a oferecer as nossas melhores energias, isto certamente é um mérito de nossos irmãos que já nos precedem na casa do Pai!