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Vida religiosa provisória: 2a. parte

A questão de base de toda esta problemática reside na re-definição do ser humano que estamos vendo no atual contexto, ou seja, passa-se do valor comunitário para o valor da “historia pessoal do individuo” . Segundo Merkle o que o individuo busca é ser o centro de toda a realidade, ele reduz a religião e a vida religiosa a sentimentos íntimos, é um pertencer de forma “liquida” e “fazer o que se gosta” . Ora, quem apenas gosta de algo ou deixa de gostar não aprendeu a amar. Vive-se do puro subjetivismo infantil como uma criança que bate o pezinho ora para protestar contra alguém ora para exigir um afeto e realizar um capricho. Então, o que isto significa para a vida religiosa? É muito simples e preocupante: O individuo com uma dependência absoluta busca um grupo ou um estilo de vida, não para ter uma vida partilhada no comum da fraternidade, dos conselhos evangélicos e da missão, mas para ter garantias de sua privacidade, por isso não cria vínculos de pertença, não partilha da historia do outro e não age em conjunto. Quando sua carência básica de consumo não é satisfeita ele migra para outro grupo abandonando sem dificuldades o que vinha desfrutando. Acontece também que estas comunidades formadas na base do privativo interesse “quando se reúnem para programar, programam sempre em coisas mínimas: o mínimo de oração, o mínimo de sacrifício, o mínimo de vida comunitária, o mínimo de entrega comunitária aos outros. Por outro lado há o máximo de individualismo, o máximo de liberdade, e o máximo de comodidade. Resulta, assim, num projeto de vida que não encanta a ninguém, um projeto para ser vivido sem muitos problemas” . Este sim é o verdadeiro eclipse da vida religiosa seja ela na sua vertente tradicional ou provisória.

3. Questões de significado:

Ora, “a vida religiosa contesta a atitude da sociedade segundo a qual os investimentos humanos são sempre provisórios” . O fato das Sociedades de Vida Apostólica, algumas, terem como doutrina de que os conselhos evangélicos são renovados a cada ano, por exemplo, As irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo, não quer dizer que as mesmas vivem do provisório, muito menos que a vida religiosa é funcional. Mas se trata de um dinamismo inerente ao próprio carisma fundacional que caracteriza não a busca do individuo, mas sua plena realização dentro de um projeto comum, pois a vida religiosa não é um fazer coisas segundo interesse pessoal, mas um ser pessoa interdependente, que partilha um projeto comum e age em comunhão com os outros. O provisório, por outro lado, é apenas o voltar-se para si, mesmo que trabalhando com os outros, porém, sempre fechado no próprio bem-estar, sem vínculos.

Quando um religioso/a professa revela ao mundo e a Igreja que Jesus Cristo é o Sentido pleno de toda a sua vida, seu modo de SER pessoa em relação. “Isto significa essencialmente em optar por transcender a si mesmo, por abandonar a atitude egoísta de abrir-se para Deus, para a realidade e para os outros no amor” . A autotranscendência no amor é a base de qualquer vida religiosa. Agora, o drama de muitos religiosos na atualidade é cair na tentação do romantismo, ou seja, fechar-se em si mesmo, em seus problemas, em suas necessidades, em suas buscas de preenchimento. O desafio está em aceitar o realismo da vida, sobretudo o deixar-se questionar a partir dos destinatários da missão, a partir dos pobres. Quando isto é assumido coletivamente, a comunidade religiosa e cada pessoa nela, se torna capaz de assumir compromissos coletivos. Trata-se do saber “viver juntos por causa de, não a fim de” .

4. Questões de identidade:

Contudo, a crise do ser, assim chamado pós-moderno, é de viver no provisório. As relações são provisórias, os casamentos são cada vez mais provisórios, o trabalho é provisório, as alianças e pactos políticos são também provisórios e oportunistas. É um clima de incerteza quanto ao dia de amanhã que espanta a todos. Enquanto isto, a vida religiosa de modo geral, sustenta a perpetuidade dos compromissos, mesmo sofrendo as amargas perdas de pessoal. A questão é que as novas gerações não respiram o clima cultural religioso católico herdado da família. Eles chegam de diversas experiências todas ou a maioria delas transitórias, sobretudo religiosas. É possível até dizer, que as várias religiosidades e espiritualidades, transitam na vida das pessoas . O sincretismo perpassa a longa linha da vida e parece que a fé professada na sua dimensão de anúncio e conversão, não chega a tocar as pessoas em profundidade. O processo formativo das novas gerações de religiosos/as muito menos. A argumentação dos valores e das atitudes religiosas, forma uma casca que se perfurada revela a fragilidade do ser que tem dificuldade de internalizar a cultura religiosa carismática do instituto, e, portanto, se comporta segundo o padrão esperado pelo seu grupo de interesses, mas não está disposto a agir no conjunto e sim no privado. É uma vida religiosa romântica e fragilizada, na qual o aburguesamento desde os inícios da formação mina a caridade, onde o consumismo enche os olhos e esvazia o coração, o individualismo ofusca o valor da comunidade e cria-se uma dependência do instituto, pois tudo se espera receber como um ser totalmente dependente do afeto da mãe; neste caso tanto o Instituto como a comunidade eclesial, se transformam na mãe que faltou ao religioso. Isto si significa que a pessoa não foi educada para administrar fracassos, frustrações. “O problema é o amor, a caridade” .

Neste sentido a vida religiosa provisória, expressa muitas vezes nos novos movimentos religiosos, “são os sinais de uma rejeição muito mais radical das Igrejas institucionalizadas do que o ateísmo da modernidade, porque criam substitutos” ; esta nova realidade pode ser até uma resposta à pergunta pelo sentido da vida, mas nada garante. Isto acontece porque é sempre mais “liquido” o sentido de pertença, e a diversidade de referencias, contribui para a busca da identidade sempre mais desafiante porque a ofuscada experiência do transcendente elimina o confronto salutar da dúvida e do mistério. A dúvida não é um mau em si, é a brecha pela qual pode entrar a certeza de um projeto de vida centrado no bem-estar do outro; por sua vez o mistério é a oportunidade de cavar fundo na existência para encontrar a presença do totalmente Outro que se revela seja no privado quanto no coletivo.

É também possível que a vida religiosa perpétua, institucionalizada aos longos dos séculos, que tem a pretensão de ser sinal de testemunho e profetismo, seja porque favorece uma resposta pela busca de sentido seja porque cria segurança para a pessoa, pode se tornar algo relativo, exatamente porque o individuo a privatiza. É por isso que muitos jovens buscam a Deus, mas rejeitam ao Deus tradicional que encontram na vida religiosa institucionaliza . Daí as grandes decepções no atual cenário dos Institutos religiosos tradicionais com saídas inúmeras, sobretudo nos primeiros anos de votos temporários e da ordenação presbiteral. Contudo, há também outro elemento: O idealismo. Pessoas que criam castelos de areia e imaginam a vida religiosa como uma vida sem conflitos, sem incoerências, sem patologias; quando encontram estas coisas, que infelizmente existem, devido à nossa humanidade, se desencantam, e não conseguem responder com uma relativa maturidade. Por isso é preciso educar a nova geração ao realismo, sem perder, no entanto, o encanto do sonho.

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