Em seus doze discursos de sua primeira viagem apostólica internacional Bento XVI marcou um estilo e definiu orientações, constata Jean Marie-Guénois, redator do diário parisiense «La Croix».
Guénois, considerado como um dos maiores especialistas em jornalismo religioso na França –foi durante uma década correspondente em Roma, onde fundou a agência de notícias especializada I-Media–, apresenta também um programa de informação religiosa dominical na televisão pública France 2.
–Bento XVI passou no teste?
–Guénois: O novo Papa não era esperado como um messias, mas como um Papa alemão que regressava a seu país natal, assim como pela «geração João Paulo II». Já a maneira em que Bento XVI desceu do avião a sua chegada, de maneira discreta, sem efeitismos, preocupado de não tropeçar nas escadas, marcou o tom. Consciente da importância do momento, se entregou, em certas ocasiões com alguma timidez, com freqüênte incômodo ante a grande multidão, sempre com muita humanidade, prestando atenção a cada um, na medida do possível. Leu seus discursos com cuidado, sem retórica, com sues grandes óculos. Não buscou a sedução, mas palavras calibradas, das quais não espera o efeito imediato do aplauso, mas que ficam arraigadas a longo prazo. Ainda que alguns jovens que esperavam um gesto forte pudessem ficar decepcionados, a maioria já se adaptou.
–Nasceu uma «geração Bento XVI»?
–Guénois: Certamente este termo não seria em nada agradável a seu interessado. Sobretudo é ainda muito cedo para avaliar seriamente o impacto do novo Papa entre os jovens.
Agora, é impressionante ver como se dirige a eles. Não evocou questões de moral, preferindo converter-se em catequista para começar em certo sentido desde o zero e compartilhar o gosto de ser cristão. Em lugar do «carisma dos gestos» de João Paulo II, que levantou multidões, Bento XVI possui um «carisma da palavra», de mestre.
Muito pedagógico, muito concreto, em certas ocasiões foi cru –quando deplorou em sua primeira entrevista que a sabedoria cristã «não é algo com sabor rançoso»; em certas ocasiões é provocador –como quando falou da adoração como de «contato boca a boca» ou de «fusão nuclear» para ilustrar a potencia do sacramento–. Portanto, não se pode dizer que não tenha conseguido comunicar aos jovens. É diferente. Uma «geração Bento XVI» poderá acabar criando-se, especialmente entre os adolescentes, que conheceram a João Paulo II com forças diminuídas. «É curioso ver a um Papa que caminha», observava um deles…
–A Alemanha se reconciliou com Roma?
–Guénois: Não era o objetivo principal destas Jornadas Mundiais da Juventude, programadas há três anos na Alemanha, e que aconteceram na pátria do Papa recém eleito. Três encontros permitiram estabelecer laços dos quais haverá que se verificar a solidez: a acolhida no aeroporto, onde a alegria e o orgulho do presidente da República pareciam ir ao uníssono deste povo, ao menos nesse instante; a visita à sinagoga, que permitiu a Bento XVI passar simbolicamente aos olhos de todo o mundo uma página obscura e dramática da consciência coletiva desta nação; o encontro com os bispos alemães, o domingo 21 de agosto, no qual o Papa afirmou sua proximidade a esta língua, convidando-a a capitalizar todas as energias que mobilizou por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude.
–Que mensagem deixou?
–Guénois: A nível político, lançou dois sinais de alerta. O auge do anti-semitismo, contra o que o Papa alertou firmemente em sua visita à sinagoga. E o terrorismo de origem religiosa, frente ao qual, ante os responsáveis muçulmanos, o Papa indicou como melhor caminho o da luta contra a intolerância e o do respeito, rejeitando a fatalidade do ódio para construir uma civilização de paz.
A nível pastoral, se podem destacar duas linhas fortes. Em primeiro lugar, continuidade com seu predecessor e com a linha do Concílio Vaticano II para avançar para a unidade dos cristãos, o ecumenismo, assim como no diálogo com o judaísmo e o islã, a condição de conhecer bem e assumir as diferenças, às quais não se podem renunciar.
Em segundo lugar, se deu uma novidade no programa proposto aos jovens. No primeiro dia, na vigília do sábado, ou na missa do domingo, propôs uma idéia ambiciosa: nada mais e nada menos que a de «mudar o mundo». Mas não com a força do poder, nem com «ordens dadas do alto de um trono», mas aprendendo o «estilo de Deus»: não «nos construímos um Deus particular», de maneira que «não há caminhos particulares» na Igreja, explica Bento XVI. Os jovens têm que desenvolver uma «sensibilidade para com as necessidades dos demais», que se manifesta «na disponibilidade para compartilhar».