Manaus/AM – O Dia foi o 15 de Novembro: entre outros focos, uma especial celebração do Dia Nacional da Juventude – DNJ. Sempre acompanhado pelos Pré-Noviços, fiz uma leitura em sete tomadas que denomino lances:
Lance da causa: tempo de chuviscos insistentes e ameaças de temporal, mas os jovens não arredaram o pé. Cantavam, gritavam, sacudiam freneticamente uma enorme bandeira da PJ e outras bandeiras como as brancas da RCC, e as vermelhas levadas pelo Pé-Noviciado. Antes e possivelmente depois da JMJ, o DNJ, segundo a CNBB, é o evento eclesial que reúne o maior número de jovens, num só dia.
Lance da parceria: durante muitos anos, o DNJ foi patrimônio da PJB, mesmo que entre nós afirmássemos que este Dia fosse o Dia de todos os jovens e não somente dos jovens católicos ou ‘igrejeiros’. Tempos novos estão surgindo: tempos de parceria. Animados e participando altamente do evento encontramos os jovens dos grupos do Movimento Equipe de Nossa Senhora, jovens organizados pelo ‘Ministério Jovem’ da Renovação Carismática Católica – RCC, com quem anos antes, a PJ digladiava realizando eventos paralelos no mesmo dia e mesma hora. Parceria também com a Cáritas, com quem a PJ realizou a Semana da Solidariedade.
Lance do sonho: impressiona que, depois de mais de 16 anos de sua morte, os jovens ainda delirem com as composições de Renato Russo. Nelas há um fogo de rebeldia e inconformismo que sempre cabe no coração jovem.
Lance da mentalidade que chega: na mesma caminhada, com igual empolgação, lá estavam grupos cujos cantos não eram os da Legião Urbana, mas cantos tipo “O Senhor é Rei”. Retratos dos diversos cenários entre os quais a Evangelização da Juventude tenta encontrar seu rumo.
Lance da comunicação incomunicada: no grande recinto cedido pela Secretaria Municipal de Juventude- SEJUS no Centro do Idoso, enquanto a maioria pulava, dançava(, faziam cordão de correrias (entre eles, os Pré-Noviços), um grupo de não menos de vinte jovens(numa das vezes que eu contei) se mostrou totalmente distante e desligado da festa e da folia que aconteciam no palco e na quadra; eles estavam sentados ao logo da parede do recinto manipulando seus celulares; o seu mundo individual os desligou do momento comunitário; estavam se comunicando tão bem com os distantes seus outros amigos. A festa coletiva e o isolamento, lado ao lado.
Lance das ausências: a pergunta, feita por Dom Mario Antônio no Grito dos Excluídos, se repetiu: onde estão os padres? Em certo momento, foram citados os nomes de uns quatro padres presentes. Pelos menos, dois salesianos sacerdotes marcaram presença no evento e, pelo terceiro ano consecutivo, fui convidado a dar a benção final do evento. Ausentes os jovens dos grupos organizados em Manaus por Movimentos ligados a Congregações Religiosas. A nossa AJS bem que poderia ter marcado o espaço jovem com mais impacto: entre mínima e nula, foi a presença de jovens de algumas obras nossas em Manaus. E também me perguntei: onde estão os religiosos/as, cujo carisma está centrado na causa juvenil?
Lance da fragilidade: um dos pontos chamativos do evento foi uma encenação de cunho religioso, positiva para que a celebração não fosse vista somente como um grande oba-oba festivo e barulhento. Esta peça teatral pode sinalizar quanto as propostas de evangelização das juventudes precisam aprofundar suas metodologias: o centro da cena era um encontro entre Jesus e o diabo num diálogo estranho diante de um personagem que representava Deus Pai. Jesus (sempre na defensiva) e o diabo discutem sobre se o homem deveria ser perdoado ou precisaria de alguém que sofresse por ele. Na argumentação daquela espécie de tribunal final, Jesus perde para o diabo e vai ao suplício da cruz. Poderíamos dizer que tudo era mera ficção, mas a ficção também pode encobrir fragilidades de nossas convicções.
Mas valeu? Muito além destes lances, sobressaíram o vigor dos jovens, seu protagonismo, sua alegria contagiante, sua energia sem limites, seus sonhos de liberdade, a importância dos símbolismos, a re-afirmação da validade de minha vocação salesiana, a beleza da causa juvenil.
Uma lição para um pejoteiro idoso como eu.
Por Pe. José Benedito A. Castro, sdb
Confira as fotos:
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