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Segunda síntese do curso de salesianidade

“Que detalhes, Senhor, tiveste comigo quando me chamaste”. Assim começa um canto espanhol que costumamos cantar aqui no rito da comunhão. Quando cantamos na igreja de São João Evangelista, no bairro de Vanchiglia, onde o próprio Dom Bosco construiu uma bela igreja poucos anos antes da sua morte, senti a necessidade de começar a escrever esta segunda síntese para agradecer a Deus e também partilhar com os irmãos de algumas coisas que vivi desde a última comunicação.

O que posso dizer de tantos momentos vividos nesses dias? A semana começou com a visita as obras da Marquesa Julia Colbert de Barolo: o refugio para mulheres que saiam das prisões de Turim e o pequeno hospital de Santa Filomena para meninas órfãs. Dom Bosco trabalhou como capelão em ambos ambientes e atendeu as meninas e as mulheres. Sua dedicação foi muito grande. A marquesa fundou até uma congregação religiosa a pedido das próprias mulheres para que elas mesmas se dedicassem as ex-detentas e meninas pobres. Foram chamadas de Madalenas. Conheci também o pátio do oratório. Fiquei imaginando o barulho.

Em seguida fizemos todo o percurso do oratório migrante. É uma historia que comove. Tudo está muito perto, porém, as fronteiras eram imensas. É uma fase de um Dom Bosco muito mais espontâneo, livre, jovem e cheio de iniciativas. Sua única preocupação era acolher os meninos pobres da Turim que se modernizava. Os meninos procuravam Dom Bosco e encontravam o oratório. Então, o conceito de oratório se reestrutura. Não se trata tanto de um ambiente, mas de uma pessoa. Dom Bosco é o oratório. Onde ele estava os meninos encontravam um ambiente de acolhida, lazer, formação e evangelização. 

O itinerário desembocou na casa mãe – Valdocco – com sua evolução histórica. Fui descobrindo em cada lugar a história de uma conquista, de um Dom Bosco empreendedor e confiante na providência de Deus. A grande emoção foi retornar ao escritório e ao quarto onde ele viveu e poder tocar nos objetos e observar com calmo seus livros de maior referencia, alguns escritos, suas devoções mais íntimas: Nossa Senhora rainha, São Jose, São João Batista, São Francisco de Sales, o quadro do encontro de Jesus com Maria no caminho do calvário. É toda uma espiritualidade que permeava Dom Bosco e nos marca como discípulos missionários dos jovens.

Na grandiosa Basílica de Maria Auxiliadora tive a oportunidade de concelebrar e visitar com calma todos seus ambientes. O imenso quadro de Maria Auxiliadora de 7mx4,5 impressiona. E pensar que num sonho de 1844 Dom Bosco já imagina esta igreja. Evidente que o que existe hoje com todo seu esplendor não foi construído por Dom Bosco, mas os elementos originais foram conservados. Os santos e santas que estão perpetuados na Basílica nos dão a ideia da espiritualidade que formou Dom Bosco. Ele foi um homem de Igreja. Aberto a escola espiritual de São Vicente de Paulo, São Filipe Neri, São Francisco de Sales, Sagrado Coração de Jesus, São José, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Antão, etc. Isto me desafia a conhecer mais e melhor estas fontes de espiritualidade.

Outro momento importante foi conhecer o museu do ressurgimento italiano. A complexidade da mudança de época que atingiu Turim exatamente a partir de 1848, quando Dom Bosco está começando sua obra, nos fez pensar nas opções que ele fez e nos riscos que passou numa sociedade das liberdades: cultural, politica, econômica, social, religiosa. Conhecer mais detalhadamente os fatos, os personagens, as leis que surgiram e a explosão da consciência cidadã me ajudou a entender o que Dom Bosco queria dizer com a frase: bons cristãos e honestos cidadãos. Ser um bom cristão na Turim dos anos 40 até os anos 70 era um desafio enorme. Ser cidadão naquela complexidade social era muito mais que garantir direitos, mas ter direitos. Hoje, na atual mudança de época, também somos desafiados.

Com estas questões na mente e no coração continuamos a peregrinação em Valsalice. Uma obra não querida por Dom Bosco porque era um colégio para meninos ricos, mas afinal aceita e transformada num grande estudantado para formar os novos salesianos. Por ali passaram grandes personagens da nossa historia salesiana. Dois ambientes foram significativos para mim: a capela e a casa de acolhida para idosos André Beltrame. A capela construída por Dom Bosco contém os elementos fundamentais da espiritualidade salesiana: o Sagrado Coração de Jesus – evidentemente relacionado a Eucaristia – Santa Margarida Alacoque, São Francisco de Sales – referencia a bondade e comunicação – São Filipe Neri – referencia aos oratórios, alegria e evangelização dos jovens – São Vicente de Paulo – referencia a promoção humana – nos levam ao centro da formação salesiana. A casa dos idosos nos encheu de alegria porque ali não se vive mergulhado em tristeza, mas de apoio, fraternidade e verdadeira compaixão.

Voltamos ao tema Barolo com a visita a igreja de Santa Júlia construída pela marquesa. Impressiona conhecer melhor a espiritualidade do casal Barolo e de sua influencia em Dom Bosco. Imaginar que a marquesa queria fundar uma congregação religiosa masculina sob a proteção de São Francisco de Sales, mas o destino deixou a Dom Bosco esta proeza. Embora as sementes estivessem no coração da marquesa. De lá fomos a Superga, um lugar mágico, tantas vezes visitado por Dom Bosco e os meninos do oratório nos famosos passeios. Um grande santuário que guarda os restos mortais dos nobres da casa de Saboia. Imaginar Dom Bosco naqueles passeios com os oratorianos mostrando sempre os lugares elevados para melhor se encontrar com Deus. Impossível imaginar a vida salesiana sem o lúdico. O Joãozinho Bosco dos Becchi, Castelnuovo, Chieri, Turim é um homem apaixonado pela natureza, pelos grandes passeios, no contato com as pessoas, no descanso e na promoção da cultura. Uma vida salesiana sem isto é morta.

Visitamos ainda o famoso oratório de São Luís de Gonzaga no bairro de Vanchiglia. Fiquei impressionado com tudo aquilo que vi. O oratório mãe, ali no lugar primitivo por onde passaram o padre Cimati, Caravário, Filipe Rinaldi, Dom Rua, etc, com um pensionato para jovens universitários italianos, casa de acolhida para jovens estrangeiros e um espaço para migrantes filipinos. Encontrei até um jovem brasileiro. Fomos também guiados por um salesiano a igreja de São João Evangelista construída e inaugura em 1882 por Dom Bosco, com a belíssima estatua de Pio IX, “seu terníssimo pai”; depois o diretor nos levou a conhecer um segundo oratório que está localizado numa grande praça para acolher os meninos que chegam de vários países e lhes oferece não apenas o lazer e um ambiente saudável, mas o estudo da língua italiana, o conhecimento dos direitos civis dos estrangeiros no país e os alertas contra o tráfico e consumo de drogas. Tudo isto com a colaboração de jovens voluntários. É uma nova fronteira. Imaginei o quanto é possível fazer com nossos espaços ociosos.

Fomos também ao cemitério monumental de Turim construído pelo Marques Carlos Tancredi Falletti di Barolo quando era prefeito da cidade. Ao longo dos anos sofreu muitas ampliações, mas guarda ali tumbas de grandes personagens que fizeram a história do Piemonte e da congregação salesiana. Inclusive encontrei a tumba do padre Pascoal Jalongo, missionário entre nós na Isma. Alguém pode perguntar: para que visitar um cemitério? Pois é, numa sociedade que perde o sentido do passado isto é perda de tempo, mas para quem alimenta o presente e projeta o futuro é algo profético e místico que nos compromete ainda mais com a fidelidade criativa. Para mim foi um momento intenso e de grande responsabilidade. No silêncio daquele imenso campo santo é possível reencontrar o valor da história e sua narrativa hoje e amanhã. Terminamos o dia na obra de São Leonardo Murialdo. Uma obra tão próxima e ao mesmo tempo tão especifica. Alimentada pelo mesmo Espírito, embora com matizes singulares. Dois santos e duas histórias para dizer que Deus é ousado e criativo. 

Concluo esta semana com a certeza de que Dom Bosco caminha. Os estragos da perda de consciência de uma sociedade mergulhada no hoje podem ser ultrapassados com a construção de um amanhã mais ousado. Acredito, portanto que,
1. Conhecer melhor Dom Bosco é tocar fundo na sua visão eclesial;
2. É saborear de sua contemplação da vida religiosa e da ousadia profética que isto significa;
3. É também aprender a olhar com seus olhos a sociedade para vislumbrar melhor o potencial das pessoas, sobretudo dos jovens;
4. É, sobretudo, buscar os sinais dos tempos e correr à frente deles sem medo de errar, pois o tempo não para;
5. Saber discernir novas fronteiras, a partir do que temos, aproveitando dos espaços e dando novo sentido;
6. É, contudo, ser prudente e inteligente no saber governar com suas principais virtudes: concórdia, verdade, conhecimento e segredo.

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