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Reflexões de um retiro

Quais seriam as glórias de hoje?

No sonho de São Benigno Canavese de 1881, durante o retiro dos diretores, as cenas que se sucedem de forma pedagógica: otimismo, angústia e encorajamento, têm duas sentenças básicas: 1. O que a Congregação deve ser e, em seguida, 2. O perigo que corre de se tornar. A tensão metódica que surge está entre a fidelidade e a infidelidade ao carisma fundacional. Há, contudo, em todo o sonho a faísca de um final redentor, por isso citarei artigos das nossas Constituições que iluminam este itinerário.

Os diamantes, num total de 10 (fé, esperança e caridade sobre o peito, trabalho no ombro direito e temperança no esquerdo sustentado assim todo o manto. Atrás obediência, pobreza e castidade, prêmio e jejum) que simbolizam as virtudes cristãs básicas. Todos mudam drasticamente de função e simbologia no decorrer das cenas. Uma luz intensa e raios convergem para o diamante principal tanto na frente – caridade – como na parte de trás do personagem – obediência. É muito interessante a posição desses diamantes porque eles quase que se fundem dando origem ao núcleo central da missão salesiano: predileção pelos jovens. Outro fato é que na angústia de redigir o sonho Dom Bosco mudou os nomes dos diamantes, pois aparece a castidade no lugar da obediência. Na sequencia traças e buracos negros enormes engolem todos os diamantes. Um quase anseio de morte. Com isto se passa das glórias para perdas irrecuperáveis, mesmo que na cena final o personagem, que é o próprio Dom Bosco fundador, apareça glorioso em forma de menino, contudo sem os diamantes. O que isto significa? Poderíamos dizer que os 10 diamantes são apenas ferramentas de um longo processo que somos chamados a fazer como também aparece no sonho dos 9/10 anos (1825), do caramanchão de rosas ( ), de Lanzo (1876)e tantos outros? 

Quais seriam, então, as glórias de hoje? Numa sociedade que muda rápida e radicalmente (DAp 44), sugando de nós a sensibilidade e a capacidade de contemplar os êxitos, ou seja, os avanços e as conquistas, porque facilmente consideramos como aqueles 15 minutos de fama, portanto, efêmero e liquido, pois, não chegam a tocar em profundidade nossas vidas e muito menos nosso projeto vocacional (FSD,), reconhecer as glórias se assemelha a uma profunda perda de sentido. Não obstante esta cultura é possível reconhecer os diamantes nas seguintes glórias:

É inegável o crescimento da Congregação salesiana no quadro atual da vida religiosa (C. 28.37). Aqui e ali, detectamos certa estagnação, embora na África, Oceania e mesmo na América Latina, o número de noviços ainda é bastante expressivo. Sem dúvida, trata-se de um êxito diante da secularização, do hedonismo e da perda de valores que assolam as famílias e as comunidades cristãs. Que Deus continua chamando com a mesma força como um dia convocou o profeta Samuel, Jeremias, Maria, Paulo, Agostinho, Inácio de Loyola, Santa Tereza de Ávila, Dom Bosco, Madre Tereza de Calcutá e tantos outros, é inegável, embora o clima religioso seja diferente e mais desafiador. Estamos, como bem disse Bento XVI, num deserto árido. Para muitos jovens é mais prazeroso migrar nas redes sociais do que nas exigências da fé. Precisamos ter a coragem de sair do deserto com os jovens. 

O testemunho de homens que gastam a vida ao lado dos mais pobres, nas lutas sociais e no árduo cotidiano da inculturação do Evangelho é uma força que ainda inquieta (C. 29-30.34). Salesianos que dão o salto corajoso e deixam para trás um projeto meramente pessoal e assumem a causa do Evangelho, movidos somente pelo amor ao Reino, é um êxito que não se mede com régua, mas com a constância de suas convicções e a eficácia de suas ações. 

Como entender que numa sociedade marcada pelo egocentrismo ainda temos forças para formar redes que trabalhem em sinergia pela salvação dos jovens (C. 42): rede salesiana de escolas, rede salesiana de ação social, rede salesiana de faculdades e universidades, etc. Trata-se de um êxito contracultura que rompe com o afã de lucro e prosperidade pessoal; nós, porém, buscamos a comunhão pela vida em abundância com e para os jovens.

Como entender que a passagem da urna de Dom Bosco com suas relíquias reacendeu a luz nos olhos e na vida de muitos salesianos que pareciam distantes do fundador? Aqueles dias com a urna foram de rejuvenescimento. A relíquia de Dom Bosco rasgou o véu da incredulidade, da distância e da materialidade. Cada salesiano teve e ainda está tendo a possibilidade de silenciar diante da urna que encanta multidões (C. 1). É um êxito, uma glória que nossos olhos viram, nossos ouvidos ouviram, nossa mente contemplou e nossas mãos tocaram, com o mesmo vigor da primeira geração que desfilou diante do fundador adormecido em 1888. Como bem ensinou Santo Tomás sobre os sacramentos: o fato acontecido no passado torna-se atual – demonstrativo – no hoje da historia e aponta para o futuro – prognóstico – como sal e luz que não deixa apodrecer. 

Por conseguinte, não dá para desconsiderar a presença de Deus que fortalece nossas fraquezas e recria o tempo todo a Congregação; apesar de nossos fracassos humanos. A Congregação salesiana, com toda sua enorme estrutura, avança como a barca de Pedro em meio aos ventos e tormentas que a fazem balançar, mas não a sucumbe. É um milagre da Providência. Na verdade, trata-se da personificação da perfeição, tão cara a Dom Bosco, ou seja, a constância nas práticas de piedade, a fé viva na Eucaristia, a esperança na vida eterna, o otimismo e a alegria que transparecem em todas as ações e a busca da comunhão, inclusive nas contrariedades.

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