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Reflexões de um retiro 2

Reflexões de um retiro 2

A proposta de retirar-se e ter como fonte inspiradora o famoso sonho de Dom Bosco ocorrido entre os dias 10 e 11 de setembro de 1881 proporcionaram-me algumas reflexões que julgo interessante socializar. Descrevi no primeiro artigo as glórias – êxitos – neste segundo artigo elaboro algumas perdas.

Quais seriam as perdas?

No sonho dos 10 diamantes de 1881 o personagem central é Dom Bosco, os destinatários são os diretores e o contexto é uma grande sala, ou seja, a Congregação já estruturada e, em plena ação missionária pelo mundo. Dom Bosco tinha 66 anos de idade. É importante analisar estas perdas tendo nas mãos nossas Constituições.

Nas costas do personagem, no apagar das luzes, símbolo da falta de fidelidade, surgem grandes buracos negros que engolem os radiantes diamantes. É uma cena horrorosa que profetiza a morte e faz tremer e desmaiar os diretores, entre eles homens da primeira hora como Ghivarello, Rua, Costamagna. Neste sentido, os diretores representam a figura carismática de Dom Bosco que continua na história da Congregação. Os animadores das comunidades, vigilantes do carisma, cultivadores da Família Salesiana, em síntese, aqueles que devem ser a personificação de Dom Bosco na fidelidade dinâmica ao carisma fundacional (C.55. R.175-176).
A cena profetiza o caos da Congregação num futuro. A negação, portanto, do projeto sonhado por Dom Bosco em 1825. É como se nas trevas e luzes estivesse uma grande LUZ que a tudo temporaliza. E quais seriam as perdas?

É possível afirmar que a fragilidade das vocações na atualidade com a entrada fácil do egoísmo, das murmurações, da desobediência sistemática aos superiores e do comodismo, formam um conjunto de grandes perdas (C.18). São traças que corroem o projeto carismático e rompem com os laços de fidelidade a Dom Bosco, no seguimento de Jesus Cristo. A perda de numerosos salesianos é o sinal visível do apagar das luzes nesta grande sala da Congregação. Na caneta e nos lábios de muitos que nos deixam há uma expressão que inquieta: deixo porque estou desencantado. Talvez nunca tenham estado encantados porque não encontraram o significado da vocação e a generosidade da entrega (C. 2.12), contudo, para nós que permanecemos em que isto nos interroga?

A crescente dificuldade no estar com os jovens e mais ainda, de saber propor a eles o Evangelho é outra perda que questiona a todos nós salesianos (C. 14.15.26.39). Para Dom Bosco, estar com os jovens era uma experiência oratoriana, ou seja, de alegria e evangelização. Para muitos de nós, ao contrário, é penoso, exigente, problemático e, por que não dizer, perda de tempo, pois até o barulho nos incomoda. É muito mais confortável estar com as pessoas que nos enchem de presentes, que nos aplaudem, que não nos questionam, que respondem imediatamente às nossas carências. Por vezes, apadrinhar, blindar e nutrir amizades muito particulares e fechadas é muito mais prazeroso.

Não é novidade o fato de que a vida fraterna em comunidade é outra perda substanciosa da nossa vida religiosa (C.16.49-52). Entretanto, é comum encontrar religiosos que buscam a comunidade como uma realidade acabada e não a ser construída. Escolhem os irmãos a dedo e sugam tudo que podem, mas nada contribuem, nada partilham, nada colaboram na missão comum. Tornou-se comum uma falsa fraternidade, na qual cada um escolhe os tempos de oração, quando rezam, os momentos isolados de férias, descanso, viagens e independência econômica. Muitos diretores não conseguem animar, propor, escutar, acompanhar e ser uma presença paterna (C.55). A orfandade torna o religioso salesiano frágil, carente e insatisfeito. Incapaz, portanto, de ser pai, amigo e companheiro dos jovens.
Perde-se também o significado do oratório como casa da experiência de vida cotidiana (C. 20.38), pois, para Dom Bosco a casa salesiana é um oratório, quer dizer, pátio, escola, paroquia, lugar de diálogo, encontro. Ao trair o ideal carismático, destinamos uma estrutura chamada oratório e, claudicamos do espírito oratoriano. Os raros momentos de encontro comunitário, lazer, oração e trabalho, são vividos de forma desconexa, às vezes até, segundo o interesse de cada um e não da comunhão (C. 85-88).

Perdemos a leveza do carisma fundacional e no lugar criamos estruturas pesadas com muitas normas, proibições, preconceitos e subjetivismos morais e éticos que alimentam incongruências e taras que pesam coibindo o testemunho de fé, esperança e caridade, diamantes caros a Dom Bosco. A leveza inicial de Valdocco estava, sobretudo no espírito de família (C. 16) e na caridade pastoral (C.3). Aquela leveza favorecia a expansão da Congregação, a qualidade das vocações e a criatividade apostólica (C.19).

A atual mesmice e mediocridade para com a Família Salesiana é outra perda carismática séria (C.5). No lugar de convocar forças apostólicas, como bem realizou Dom Bosco e seus sucessores, abandonamos pouco a pouco os grupos da Família Salesiana e aderimos a outras espiritualidades e formas associativas que são boas, mas não respondem ao nosso ideal carismático. É cada vez raro encontrar salesianos que amam e dedicam tempo e imaginação para suscitar colaboradores segundo o espírito de Dom Bosco.

Jejuar, portanto, não seria hoje a superação de todas essas perdas (C. 18) ? O prêmio não seria a salvação que, ao mesmo tempo é dom e conquista?

Pe. João Mendonça,sdb

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