A partir da quarta-feira de cinzas a Igreja católica inicia o tempo da Quaresma para repensar atitudes a partir da oração, do jejum e da caridade. O demônio, por sua vez, tem o projeto da perversão: abundância (Lc 4,3-4); Poder (vv.5-8); Prestígio (vv.9-12), mas Jesus resiste. Por isso os quarenta dias que nos separam da Páscoa, a maior festa religiosa da Igreja, apelam para repensar a Amazônia, seus povos, seus recursos naturais, e sobretudo, sua justa inserção num sério projeto político nacional de libertação e vida para todos!
1. Tempo de oração: a Quaresma nos pede uma inovação na atitude oracional. A oração mais do que repetições de frases e jaculatórias é uma abertura de coração a Deus na confiança. Nada de pedir demais, exigir, desafiar ou transferir para Deus nossas debilidades como doenças e falta de trabalho. A oração não é consumista, não é negociada, não é uma troca de favores; nada disso. A oração é diálogo consciente com Deus na intimidade do coração humano, sacrário onde somente Deus penetra sem invadir nossa privacidade. Portanto a oração liberta, mas compromete; é lúcida, mas criativa; é leve, porem constante. Rezar, na e pela Amazônia significa, então, o desejo consciente de que seus povos tenham vida justa num território livre e valorizado pelo seu potencial.
2. O tempo do jejum: uma grande maioria da população da Amazônia sobrevive com poucos recursos alimentícios. O tema da fome é aqui básico e não pode esperar. A fome é uma doença generalizada que desestabiliza, gera violência; enfim leva a morte. Trata-se de um grande paradoxo. Enquanto alguns se banqueteiam e torram dinheiro, milhares vivem debaixo das mesas recolhendo as migalhas. É uma violência vergonhosa que nega princípios fundamentais do cristianismo. O jejum, então, será à busca do equilíbrio. Podemos jejuar dos projetos políticos irresponsáveis que estão internalizando a Amazônia; podemos jejuar da ignorância sobre a realidade antropológica da Amazônia; podemos jejuar dos preconceitos contra os indígenas, os caboclos, os afro-descendentes; os ribeirinhos, os posseiros, os centros urbanos. Nosso jejum não busca o resultado estético, e sim o ético.
3. O tempo da caridade: o resultado da mudança de mentalidade com a força da oração e do jejum é a capacidade de saber partilhar. O que queremos com a caridade é fortalecer os laços de solidariedade com a Amazônia rompendo com os projetos de poder que lutam para manter a Amazônia como um ponto verde apenas sem considerar o valor dos povos ali existentes. Uma campanha da caridade começaria pela própria Igreja do Brasil apoiando, por exemplo: a educação fundamental e profissional infanto-juvenil; o uso auto-sustentável dos recursos naturais da flora e da fauna; a formação de agentes de evangelização para o interior da Amazônia carente de pessoal e de alternativas. Para concretizar essas e outras iniciativas é importante organizar nas igrejas locais A COLETA DA SOLIDARIEDADE no domingo de ramos (Cf. texto base, p.140-149).