Por Padre João Mendonça, sdb
As polarizações no país chamado Brasil, terra de Santa Cruz, continuam ainda nos palanques. Não foi suficiente o processo eleitoral para mover os eleitores de um lado para o outro e gerar divisões e rancores. Muito menos a velha política que, na busca por votos, usa todas as armas, não importa a ética.
A pior polarização, neste momento, é a religiosa. De um lado há quem defenda o Estado laico, de outro, alguns ainda sonham com o Estado independente e democrático, mas há forças que desejam o teocentrismo, ou seja, Deus acima de tudo. O problema é: que deus é esse que muitos querem fazer falar e pousar a mão sobre seus protegidos? Certamente não é o Deus revelado por Jesus porque se ele está acima de tudo, não está no meio de nós. Muito menos quem ele unge para servir seus interesses. O messianismo troca de pessoa e de lugar. Passa a ser aquele cujo bem maior é o sentimentalismo, no lugar da razão.
Surgem, além dos partidos políticos, já divididos e sem rumo, as tais bancadas religiosas: bancada evangélica, cuja meta é o poder; e a bancada católica, cujo interesse é o conservadorismo acima de todos. Ambas não servem a Deus, mas ao ídolo que criaram para justificar a própria insensatez política.
Ontem, num ato de aparente religiosidade, um grupo de religiosos e parlamentares foram ao Planalto para consagrar o Brasil ao Sagrado Coração de Maria, ou seja, reforçar a ideia de que Deus está acima de tudo e o “messias” escolhido triunfará, graças ao coração de Maria. Trata-se do uso inadequado do sagrado, pelo menos é o meu juízo, de algo que até poderia ser positivo, se fosse em outra conjuntura e sem a polarização que pode desencadear no país.
A manipulação do sagrado, seja por esta ou qualquer outra crença, é sempre muito perigosa porque dá o aval divino a tudo e a todos; inclusive na defesa do poder em questão como se ele fosse escolhido, ungido e enviado diretamente pela divindade, portanto, intocável. Ai de quem ousar dizer algo contra os eleitos e ungidos do Senhor. Esquecem, no entanto, que o profetismo verdadeiro nunca esteve á mercê da corte. No Antigo testamento profetas como Amós, Jeremias, Elias, Natan, etc… foram oposição e colocaram o dedo na chaga dos monarcas mostrando o pecado, a arrogância e a prepotência. João Batista gritou no deserto contra Herodes. E Jesus foi enviado a Pilatos pelo Sumo Sacerdote. São detalhes importantes que não podem passar despercebidos. E, atenção, não existia o comunismo no tempo desses profetas.
Por falar em comunismo. É importante desconfiar de quem usa do termo para denegrir a verdade. Comunismo sistêmico nunca existiu no Brasil e, na atual conjuntura não existirá porque já passou o tempo e a hora. O que temos hoje são fanatismos exacerbados, individualismo egocêntrico e uma boa dose de intolerância que nos envergonha.
Precisamos pensar o bem de todos, sobretudo dos pobres que estão à deriva, sem emprego, sem saúde de qualidade, sem moradia, sem transporte, sem educação de qualidade, sem políticas públicas sérias e de continuidade. Faltam governantes que tenham a peito somente o bem comum… isto sim é estar a serviço de todos.
Quem a luz do Círio pascal aqueça nossos corações e ilumine nossas mentes.