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Pensar o Pentecostes

Pensar o Pentecostes desde a cruz do Senhor.

Em nossos dias não é comum aceitar a cruz. A sociedade da estética e da velocidade não aceita a dor, muito menos o sacrifício. Há, uma corrente forte do pensamento pós-moderno que rejeita a liberdade da experiência do transcendente e do sofrimento. É o espírito neoliberal agnóstico.

A cruz torna-se assim o símbolo dos fracassados. Aliás, uma onda neopentecostal desviada na natureza do cristianismo prega o milagre – cura – libertação de todo sofrimento e tribulações – e a prosperidade, lucro e consumo, como o avesso da cruz de Cristo. Mergulharam, desgraçadamente, no buraco negro do neocapitalismo, como bem diz Max Weber: “O homem é dominado pela geração do dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida” (Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, 5a ed., 2008, p. 51).

O que isto tem a ver com Pentecostes? Em algumas camadas religiosas, Pentecostes deixou de ser apenas uma festa religiosa. Ela ganhou, sobretudo no Brasil, uma armadura de luta pelo poder religioso. Com exceção das Igrejas da Tradição Protestante (Luteranos, Anglicanos, Metodistas, Presbiterianos, etc) as atuais denominações neopentecostais, chamadas “evangélicas”, querem o poder de Estado. Buscam pela influência da mídia mostrar uma espécie de bem-estar que condena e humilha os assim chamados “fracos”, quer dizer, aqueles que são julgados como “sem a benção de Deus”: os pobres, os doentes, os portadores de doenças crônicas, as pessoas em condição homossexual, os de outras igrejas tidas como não evangélicas. Esta má influência também se manifesta, desgraçadamente, em movimentos católicos.

No avesso de tudo isto o católicismo popular realiza a festa de Pentecostes no espírito do nascimento da Igreja a partir da cruz do Senhor, enquanto os neopentecostais se juntam numa massa compacta para manifestar a força e o domínio, é a imagem tópica da “marcha para Jesus”, cópia desfigurada de nossas procissões. Eles querem dominar com o braço forte do poder religioso. Um pecado que também nós católicos, no longo processo histórico da humanidade já tivemos, mas, graças a Deus, abandonamos.

Pentecostes, no entanto, é a colheita do melhor que temos para ofertar ao Senhor da vida. E o que temos? Apresentamos nossos esforços para uma missão evangelizadora que unicamente busca a transformação das estruturas injustas deste mundo segundo o Evangelho. Queremos uma sociedade humana, livre, acolhedora de todos os filhos e filhas de Deus alimentados pelo fogo do Espírito. Nosso empenho está em favorecer aos homens e mulheres a experiência de Deus. Queremos que nossa oferta neste Pentecostes seja de uma ação humanitária e religiosa capaz de influenciar nas Leis e nos homens e mulheres que nos representam no Estado de Direito para que a corrupção não predomine e a justiça seja transparente.

Jamais podemos renunciar aos desafios que a cruz, símbolo da finitude humana, que nos mostra que todo poder é finito e somente Deus é absoluto. Não renunciamos também a aceitar os limites da nossa humanidade como as tribulações, a fome, o perigo, a morte, porque sabemos que em Jesus Cristo somos mais que vencedores. É Pentecostes! É festa da Igreja que rejuvenesce a cada dia superando toda e qualquer tribulação e “feridas”.

Cremos no Espírito Santo que paira sobre nós como língua de fogo porque Deus é o nosso auxiliador. Rezemos nesta semana de oração pela Unidade dos cristãos para que chegue o dia no qual realizaremos também uma festa de Pentecostes ecumênica para dizer a este mundo dividido em discórdias que caminhamos para ser “um só coração e uma só alma” em Jesus Cristo.

Pe. João Mendonça, sdb

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