Em tempos em que comemoramos os 50 anos do Concílio, nada mais oportuno do que provocar reflexões e contribuir para dar destaque à sua importância, uma vez que constamente nos deparamos com situações que caracterizam um retroceder para uma vivencia pré-conciliar, o que é lamentável pelo fato de que o Concílio representa o esforço mais amplo de reforma já feito na Igreja. Temas amplos e variados estão presentes nos documentos conciliares e se revestem por um valor único, pois os outros concílios anteriores foram motivados por heresias ou desvios. É também a primeira vez que um concilio enfrenta problemas inéditos como a grande miséria na humanidade, a corrida armamentista, busca da unidade dos cristãos, a ameaça de destruição da humanidade.
Hoje corremos o risco de esquecer o imenso trabalho realizado, iniciado por João XXIII e continuado por Paulo VI. Os anos passaram, mas o passado ainda não desapareceu porque está na mente coletiva formada por acontecimentos felizes e menos felizes na história da igreja. Os 50 anos do Concílio não somente faz memória, ele nos lança ao futuro que apenas começou. Trento perdeu memória num período de 400 anos, Vaticano II assinara uma mudança muito mais ampla que Trento. Temos que considerar que o ritmo acelerado que vivemos pode ofuscar a grandeza do sinal do Vaticano II. Quando cessar essa sua força de apontar para o futuro e para a esperança é sinal de que é necessário convocar outro. O contato direto com os textos é fundamental, porém não servirá para nada se não estivermos abertos para essa vivência.
Entre as profecias deste precioso momento podemos destacar a hierarquia da Igreja colocada como povo; Igreja e mundo substituído por Igreja no mundo; do Povo de Deus faz parte também os não católicos e ateus; restaurou o diaconato permanente, mas pena que esta sendo desperdiçado, pois sua principal finalidade seria de alcançar o espaço onde o sacerdote não tem como chegar.
O Vaticano II trouxe ares novos e possibilidades de novos caminhos o que se traduz em frutos na America Latina conforme temos claro nas palavras do Teólogo Antônio Manzatto: “No continente latino-americano o Concílio será muito bem recebido, e nos anos subsequentes ele vai ser referência constante para a Igreja e a teologia que aqui se desenvolvem. No espírito do Concílio Vaticano II é que acontecem as conferências do CELAM em Medellím (1968) e Puebla (1979), fundamentais para a compreensão da Igreja na América Latina. É no mesmo espírito que se desenvolvem as comunidades eclesiais de base e a teologia da libertação, responsáveis por um florescimento eclesial nunca antes visto em nossa história. É ainda no espírito do concílio que a Igreja se compromete com os fracos, formulando sua opção preferencial pelos pobres, e que ela contempla o aumento significativo do numero de seus mártires”.
A realidade na qual vivemos tem perguntas a fazer tanto a Tradição quanto a renovação. Estamos vivendo uma mudança de época com valores e desafios, e nós católicos não estamos fora do mundo e tudo nos interroga e nos questiona. João XXIII com sua sábia leitura dos sinais dos tempos deu origem ao Concílio Vaticano II, e sua importância focal é reconhecida mundialmente assim como a difícil trajetória de sua recepção. Como comprometer-se com um Concílio querido por Deus sem conhecer? Então é necessário conhecer.