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Pensando as juventudes e evangelização: inquietações pastorais.

Evangelizar é mais do que informar sobre doutrinas, trata-se de comunicar um querigma: JESUS É O SENHOR! A palavra Senhor resume na realidade tudo aquilo que de Deus nos foi revelado em Jesus como comunidade trinitária. Paulo acrescenta ainda a este termo Senhor duas realidades essenciais: ELE MORREU SEGUNDO AS ESCRITURAS. O Senhor do céu e da terra um dia se fez carne e osso assumiu nossa natureza; quis partilhar de nossas dores e esperanças; foi tão coerente que entrou em choque com um sistema religioso legalista e uma sociedade excludente.


Jesus assumiu as dores dos últimos. Não mediu esforços para manifestar a essência de Deus: O AMOR. Aliás, Bento XVI nos deu de presente uma encíclica que põe em evidencia exatamente esta realidade de Deus. Por isso Jesus assumiu o caminho do calvário como gesto de total despojamento, de fato ele morreu. Contudo, o mesmo Paulo nos diz que ELE RESSUSCITOU SEGUNDO AS ESCRITURAS. O Senhor não poderia permanecer nas trevas da morte. Ele a redimiu.


Este conteúdo da Evangelização não pode ser apenas um trocadilho de belas palavras. Ela necessita encontrar o areópago juvenil, ou seja, os contextos nos quais as juventudes vivem. São tantos que não sabemos mais quais ganchos usar para propor o evangelho. Parece que a semente cai em meio ao caminho e os pássaros comem rapidamente sem deixar criar raízes, ou pior, cai no meio de espinhos e são sufocadas pela mania passageira do modismo. Tudo é tão passageiro que nada é mais saboreado. Algumas sementes caem também no meio de pedras, mas não chegam a criar raízes, são inconsistentes.



Os contextos juvenis atuais são bem diferenciados porque a sociedade na qual a Palavra de Deus é semeada é muito complexa. Bento XVI, consciente deste fenômeno, propôs aos jovens nesta XXI Jornada Mundial o tema da Palavra. Diz ele aos jovens na mensagem: “Queridos jovens, exorto-os a adquirirem intimidade com a Bíblia, a tê-la em mãos, para que seja para vocês como uma lanterna que mostra o caminho a seguir. Lendo-a, vocês aprenderão a conhecer a Cristo”.Eis o desafio para a evangelização das juventudes hoje. Ajuda-los a serem íntimos de Deus. De um Deus que é Senhor, mas um senhor que não maltrata, que não discrimina, que não exclui, que não se fixa no exterior, pois ele conhece o interior de cada homem e de cada mulher.



Sim é um desafio esta intimidade porque ela esbarra nas leis, na moral, no canonismo. Esbarra no preconceito e nos pré-juízos! As juventudes são filhos de culturas e sub-culturas que a própria sociedade está gerando. Temos a juventude abandona nos guetos dos bairros de periferia. A grande maioria é considerada como delinqüentes que ameaçam a cínica paz social. Uma sociedade que não é capaz de articular políticas de socialização começando pelas famílias. Uma Igreja que também não sabe o que fazer com esta juventude e cria barreiras de acesso às expressões juvenis. Em nossas igrejas estão os jovens considerados bonzinhos, se não o são, é feito tudo para converte-los. Conversão que nem sempre significa crer no Senhor, mas aceitar as regras de convivência que o grupo religioso acredita ser o melhor. Alguns desses jovens estão distribuídos nos diferentes grupos de interesses: jovens da Renovação Carismática, jovens da PJ, jovens que apenas freqüentam os momentos celebrativos, jovens catequistas, jovens militantes de movimentos sociais, jovens artistas, jovens músicos.Temos ainda as tribos juvenis dos grandes centros urbanos embalados pelo consumo, pelas baladas, pelas drogas, pelos estudos, pela busca de trabalho, pelo erotismo desfalcado do amor ágape.



O Papa exorta a assumir a Palavra feita carne, palavra que hoje se faz carne e osso nos contextos das juventudes. Trata-se de um novo paradigma da encarnação a partir dos jovens: O Senhor ouviu o clamor dos jovens! A questão é: Onde estão os evangelizadores jovens e adultos para esses jovens? Fico preocupado imaginando que nossas propostas boas e objetivas, não conseguem mais atrair a atenção de uma significativa massa juvenil. Nos deparamos com alguns fenômenos bem definidos:



1.A ausência de utopias: existem alguns grupos juvenis que ainda sonham com a justiça, a igualdade social, contra o fim do preconceito como é o caso do movimento negro. Contudo ainda predomina uma sensação de que não vale mais apena lutar por causas nobres porque a corrupção está em todo lugar. Existe uma frustração social juvenil. No campo da política, por exemplo, muitos jovens não acreditam que seja possível haver mudanças a partir do legislativo e do judiciário. Há um vazio de Estado, quase um deixa pra lá para ver como fica. Porém, anda existe uma inquietação. Talvez esta mesma juventude desiludida com o contexto atual possa criar algo totalmente novo. Uma nova ordem social capaz de incluir. Nisto eu acredito.



2.A síndrome de Peterpan: muitos jovens não querem crescer porque a vida é dura demais fora do ninho familiar. Eles não se sentem em condições de iniciar uma nova família. Eles gostam da família, mas não sabem e não podem ter a própria porque a luta pela sobrevivência é dura e desigual. Para muitos é melhor ficar com os pais até que a morte os separe. Evidentemente que existem jovens ousados que se lançam na luta por um lugar ao sol. Alguns conseguem espaço no meio artístico e ficam ricos e famosos outros vão para a vida do glamour cheia de holofotes e fama, alguns entram na carreira política e conseguem avançar com bons propósitos de mudanças. Há aqueles que tem os pais como padrinhos e apoio para o sucesso. Mas um bom grupo permanece isolado em seus bairros e ambientes sem muita perspectivas e oportunidades.



3.A religiosidade: percebo que muitos jovens ainda buscam na religião algo de significado. Muitos buscam novas formas de religiosidade, alguns até simpatizam e abraçam formas radicais de vida, por exemplo, a toca de Assis, o exército de Deus, etc. São propostas ousadas que não têm medo de exigir sacrifícios. Enquanto isso as formas antigas de religiosidade vão perdendo espaço no complexo mundo juvenil, por exemplo, as formas de vida religiosa tradicional. Muitos jovens chegam até a entrar nestas Instituições, mas aos poucos se frustram, se desencantam com os modelos de vida. Numa recente pesquisa da CRB sobre as novas gerações de religiosos (as), uma resposta me chamou a atenção. Dizia que um dos fatores do abandono da vida religiosa é porque não existe coerência entre o ideal do carisma e a vida de comunidade. Isto nos assusta, pois, aqui reside o sentido da missão. Respeitando as formas de religiosidade e vida religiosa, é preciso rever o valor que elas ainda representam para um público juvenil tão diversificado. Agradar a todos será impossível, mas responder às demandas é fundamental, pois o valor da experiência de Deus continua sendo um elemento de significatividade, mesmo na atual onda subjetiva contemporânea.



4.A necessidade do grupo juvenil como espaço de vida: é interessante o crescente fenômeno dos grupos juvenis como espaço de socialização. Isto é normal, visto que a família não consegue mais ser este paradigma social. Então, os grupos de interesses, se tornam o pai e mãe substituto. Dependendo da liderança esses jovens podem crescer em valores e iniciativas ou simplesmente debandar em ações anti-sociais.



5.A ausência de lideranças: outro fenômeno que chama a atenção nestes tempos é a fala que temos de líderes que sejam propositivos. Podemos dizer que o ultimo que chamou os jovens de todas as classes e opções religiosas para a reflexão e a peregrinação foi João Paulo II. O papa fez um itinerário com os jovens. Lançou um projeto de vida baseado no seguimento de Jesus Cristo. A cruz das jornadas mundiais simboliza ainda hoje este itinerário. Faltam lideranças na esfera política, recentemente o jornal acritica de Manaus do dia 26 de março 2006, publicou um estudo sobre os políticos jovens, ficou claro que as novas gerações de jovens políticos são apáticos, inoperantes e ausentes dos debates. Faltam lideres jovens na Pastoral da Juventude. Não temos pessoas com carismas de animação. Aqueles que tentam se projetar acabam desanimando porque os coetâneos não respondem como eles sonham. Faltam lideres nas Igrejas. Nossos bispos estão cada vez mais silenciosos; nossos padres estão cada vez mais assoberbados de atividades; nossos religiosos e religiosas encolheram e envelheceram. Nossos irmãos protestantes lutam numa cruzada para ganhar mais e mais fiéis. Surgem formas novas de igrejas propondo céus e terras no além com praticas religiosas que remontam ao século oitavo, que deixariam Lutero perplexo e confuso. É um tempo de grande perplexidade e complexidade. Quais seriam os sinais dos tempos? Ou será que estes tempos se transformaram em sinais? Oh Deus, onde estás que não te escuto, gritaria o profeta Jeremias, se aqui estivesse. Do outro lado da medalha assistimos impotentes o crescimento da violência urbana. Grupos de adolescentes e jovens que aderem ao trafico de drogas, galeras que atacam nas ruas e matam outros jovens, quadrilhas armadas até os dentes que enfrentam a polícia e chegam a colocar medo impondo o toque de recolher nas periferias mais pobres. São formas de lideranças no avesso da ordem igualitária que sonhamos.



6.O preconceito: somos conscientes que nosso país é preconceituoso e racista. Não faltariam exemplos. Atualmente estamos assistindo uma onda de preconceitos contra cidadãos de outros Estados brasileiros que vivem em Manaus. Existem acusações de que as gangues, os bandidos e homicidas são do Pará, Maranhão, etc. Isto vem criando uma violenta aversão aos nossos irmãos desses Estados. É uma leviandade que nos levará a graves problemas sociais. “O que surge como brincadeira, transforma-se, com o passar do tempo, em gracejo de mau gosto, ofensivo” (Tenório Telles). Um jovem matou o outro porque foi chamado de paraense; um deputado na tribuna afirmou que os bandidos são do Pará. É hora de um basta! Lutemos juntos, comunidades, ambientes acadêmicos, políticos, religiosos e religiosas, lideranças, governo para inverter esta triste situação de exclusão social. Na evangelização das juventudes não pode faltar uma re-educação para a tolerância, reciprocidade e hospitalidade.



Essa crua realidade pastoral estará em pauta, com muitas outras questões, nas reflexões dos senhores bispos na próxima reunião de Itaicí. Evangelizar as juventudes será o tema. Que bom que nossos pastores voltam a refletir sobre isto. A hora é oportuna. Que Deus ilumine ações de evangelização bem concretas, pois nossos adolescentes e jovens estão gritando aos céus por justiça.



Concluo esta breve reflexão com um trecho da poesia de Celdo Braga ( Filhos da Amazônia):



Eu gosto do Amazonas também gosto do Pará; a pupeca é daqui, maniçoba é de lá. Refresco de murici, Tapioca com açaí é de lá e é de cá.



A Virgem da Conceição, padroeira nossa é. No Pará troca de manto e se chama Nazaré: ambas são Nossa Senhora, madrinhas da nossa fé.



Todos os rios abraçados chegam finalmente ao mar, E nós aqui do Amazonas, onde queremos chegar com pilhérias de mau gosto desdenhando do Pará.



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