Manaus/AM – No dia 1 de junho, em São Gabriel da Cachoeira-AM, morreu afogado o jovem advogado Pedro Yamaguchi, 27 anos, paulista. No município, realizava trabalho jurídico voluntario junto às comunidades indígenas do Alto Rio Negro e integrava o Projeto Missionário Sul1- Norte1 da CNBB. Estava há três meses na região e pretendia trabalhar por três anos. Um banho nas água do rio e aconteceu-lhe a fatalidade.
E porque digo que foi um mergulho parcial? Morreu afogado o jovem com intenso gosto de viver, o jovem encantado pela beleza das águas negras do rio. Afogou-se o corpo sadio, a vida pujante, o jovem destemido, a juventude seduzida pela velocidade das correntezas, o filho de deputado federal, o jovem advogado. Este Pedro foi englido pelas águas que a tantos nativos e estrangeiros já afogaram. Um dia, eu também quase morri nas mesmas cachoeiras; era 1976. Um jovem indígena, aluno interno, me resgatou pelo cabelos. Guardo seu nome até hoje.
Mas há um outro Pedro: o jovem que abre mão de um futuro garantido para ir às periferias do Brasil grandioso, o homem que acredita na dignidade humana, o profissional liberal que acolhe a diversidade cultural, o cidadão solidário com os pobres, o servidor entre as populações indígenas, o paulista sem complexo de superioridade, o missionário voluntário, o cidadão inquieto e comprometido, o carregador de sonhos, o construtor de partilhas. No blog do pai, no dia 22 de fevereiro, Pedro explicitou os motivos de sua viagem:”Essa decisão é fruto de um antigo desejo de viver mais profundamente na realidade social de nosso país, de sentir na pele o que as pessoas mais simples e esquecidas sentem. A partir dessa partilha, colaborar para transformação da realidade”.
E por que afirmo que o mergulho foi parcial. Viver mais profundamente a realidade social, sentir na pele a vida dos pobres e simples, partilhar a vida com eles, transformar a realidade, trocar as as possibilidades inúmeras de São Paulo pelas precariedades da região, deixar a segurança do convívio familiar. Isto não desaparece nas correntezas de nenhum rio. Sonhos deste tipo não afundam nem se afogam. Isto é Projeto de Vida que não submerge. Este serviço missionário bem pode ser a concretização do “não há maior prova de amor do que dar a vida”. Sua jovem vida missionária pode ser lida como “fazer-se Eucaristia”. Outros Pedros poderão vir para reafirmar seu desprendimento e seus sonhos. E como seria interessante ver outros tantos jovens indígenas já formados na capital sonharem reassumir a luta pela dignidade das populações nativas, ao lado de seus irmãos da região, indo além da preocupação por garantir uma pessoal vida com algum conforto e segurança na capital.
Só jovens com sonhos inquietos e fundamentados podem seguir os passos de Pedro. Seus pais ficam calados na dor. Seus amigos paulistas e rio-negrinos choram. O bispo também. Entristecida, a Bela Adormecida chora, mas olha para o horizonte além das montanhas à espera do próximo jovem, formado na generosidade e coragem e audácia, com um “coração grande para amar e forte par lutar”.
Pedro, que as águas negras do rio sejam tuas vestes quando estiveres diante de Deus. Então, sorrindo, possas dar tuas últimas braçadas e, definitivamente e plenamente, faças teu último mergulho no Amor!.
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