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OBRIGADO NINO!

Surpresa e dor: perco, em pouco tempo, dois amigos e irmãos: Benjamim e Nino. Agora, foi o Nino. “Oi, velho!”, foi assim que nos saudamos quando nos reencontramos em São Gabriel da Cachoeira, em 1975.

Alguns momentos gostosos de vida são meras recordações. Vou me reencontrar com algumas delas. 

Nosso encontro primeiro foi em Belém, fins da década de 70. Tu, trabalhando na EST e eu, Pós-Noviço em férias na mesma EST. Um dia chegou um carregamento de alimentos da “Aliança para o Progresso” (organismo dos EUA para os povos subdesenvolvidos do mundo), em tão grande quantidade que tu foste à minha casa é lá deixaste um fardo generoso de alimentos. Conversaste então com meu pai, num diálogo especial, pois meu pai era bem conversador e tu, econômico em palavras. Tornaram-se amigos. Estando eu numa temporada na EST, meu pai foi me visitar várias vezes, tendo que arregaçar as calças para poder passar pelos grandes poças de água que então marcavam a Pedro Miranda. Novo encontro contigo e novo descontraído papo. Quando dirigias o mondrongo (carros de guerra vindos da Suíça), sempre buzinavas quando passavas em frente à minha casa meu pais diziam: “Passou o Nino!”. Depois, um Círio fluvial; eu com os alunos do Carmo e tu e meu pai papeando, e meu pai te envolvendo tua escuta com seus relatos de suas longas viagens marítimas.

E um novo encontro em São Gabriel da Cachoeira. Em 1975-76. Dois anos de convivência e fraternidade. Às noites, no baralho de canastra. Eras o incansável administrador da Diocese. Nino, sem descanço no carregar mercadorias, alimentação que seriam distribuídas para as demais missões. Nino, o apoio integral ao meu trabalho na horta comunitária. Então conheci de perto uma de tuas facetas: tinhas alergias a quem fosse preguiçoso. Quem preguiçoso te encontrava com a cara emburrada. Nino , meu cúmplice nas armadilhas endereçadas às salesianas. São Gabriel da minha prisão e senti tua ansiedade e teus esforços para me libertar. Nino, sempre na costumeira fidelidade: despertar cedo, presença pontual às práticas de oração. Nino: vida despojada, o andar nervoso e rápido, o sorriso oportuno, a rosto sempre concentrado. Nino sem quaisquer exigências, acolhendo a mais que precária alimentação. Nino: o do gosto permanente por banana, muita banana e um jeito especial para cuidar e cativar cachorros. Nino que fugia de reuniões e de palestras longas (“perda de tempo”). Por causa delas, tu sofrias nos retiros anuais, mesmo que te dedicasse plenamente ao cultivo do silêncio.

1993, uma nova convivência no Pró-Menor Dom Bosco, em Manaus. Eras o mesmo, como que mumificado. Mais velho, mas com a mesma aparência despojada e crescentemente essencial, à beira do desleixo. Tu, eras o braço direito e esquerdo do Pe. Marcelo Bertolusso. A espinha dorsal de todas as atividades do Pró-Menor. Nino agitado, correndo de lá pra cá, com mil chaves de todas as portas e porões, encontrando uma solução para qualquer aperto inesperado em qualquer setor. Não esperavas ser chamado, tomavas a dianteira. Nino, sem descanso, sem TV. O sorriso na essencialidade parecida como de austero asceta, as palavras medidas, a conta gotas. O olhar concentrado e tenso. O teu sangue era o trabalho, possivelmente com certo gosto de ativismo. Partilhavas, às vezes, as dores de reumatismo que te afligiam, e que sentias, de modo especial, quando alguma tempestade se aproximava. O Nino que tinha ojeriza a médico.

Esta canseira de trabalho sufocou o artista da escultura que tinhas no coração. Servir aos outros foi mais inspirador para ti. Calejaste tuas mãos habilidosas, em mil serviços pesados, nas máquinas, no óleo, na serra, na furadeira, no martelo. Teu trabalho incansável esculpiu tuas mãos de salesiano serviçal e em atenta disponibilidade. Encarnaste aquele salesiano coadjutor à moda antiga: “O lugar é meu, o coração é meu e aqui estou pro que der e vier!”. Os aprendizes do Pró-Menor Dom Bosco de Manaus, do Centro do Menor de Porto Velho, do Centro Juvenil de Humaitá e da Escola Salesiana do Trabalho, que um dia talvez tiveram algum medo de ti, por tua laboriosidade severa e exigente, certamente lamentam a partida de um educador, que a seu modo, mostrou viver feliz sendo “grão que cai na terra e morre”.

Tenho certeza de que eu sentiria o teu mesmo abraço e o mesmo sorriso quando do próximo nosso encontro, no fim de ano, aí em Belém. 

Obrigado por conviver contigo, velho! Meu velho irmão, meu amigo!

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