Devido à longa distância, não poderei estar presente na despedida do querido bispo que me precedeu e me ordenou como seu sucessor em São Gabriel da Cachoeira, no dia 24 de maio de 2009. Quando escolhi esta data para minha ordenação, sem dar-me conta de que era também a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Dom Song logo me disse: “Bem que estava vendo o dedo de Nossa Senhora na tua indicação para ser bispo daqui”.
Primeiro e até agora único bispo chinês no Brasil, Dom José Song Sui Wan conquistava a todos com sua simplicidade, sua bondade, seu sorriso alegre e cativante. As crianças de todos os recantos por onde ele passou jamais esquecerão o padre e o bispo mágico e músico.
Os alunos do Colégio de São Gabriel quando vinham me saudar e conhecer me perguntavam: “Bispo, você faz mágica?” Sem jeito, dizia que não. Olhavam para o piano que Dom Song deixou na sala e perguntavam: “Bispo, você toca piano”. Mais sem graça, repetia que não. E eles com olhar desapontado pareciam me dizer: “Coitado, este bispo não está com nada!”
Na última viagem à Roma, durante a “visita ad limina” na companhia dos bispos do Amazonas, Dom Song tocou algumas músicas e fez mágicas diante do Papa João Paulo II, ambos padecendo do mal de Parkinson. O Papa ria muito e reagia como as crianças que, após cada apresentação, pediam: “mais uma!”
Seguindo o exemplo do Bem Amado Irmão e Senhor Jesus que falava em parábolas, Dom Song em todas as suas pregações ou conferências contava historinhas que todos compreendiam e assim conseguiam captar o sentido da sua mensagem.
Dom Song deixou também marca indelével junto às famílias. No início de seu ministério visitou todas as casas, uma por uma, em todas as ruas. Na Cúria Diocesana encontra-se um fichário com informações preciosas sobre cada família.
Em meados de julho visitei Dom Song pela última vez. Devo agora pedir-lhe perdão por não ter sido possível atender um pedido que me fez com insistência. Queria retornar comigo à São Gabriel para entregar seus sofrimentos e seus últimos dias pela Igreja do Rio Negro e ser sepultado lá onde viveu os fecundos sete anos como bom pastor dos Povos Indígenas.
Obrigado, Dom Song, pelo bem imenso que fez aos “parentes” das mais de quinhentas aldeias indígenas espalhadas ao longo do Rio Negro e de seus numerosos afluentes. Foram dias incontáveis navegando de “voadeira” sob o sol abrasador ou sob as chuvas torrenciais para levar às comunidades a alegria da visita, a força da Palavra e a graça dos Sacramentos.
Na pessoa do Pe Edson Donizetti Castillho, Inspetor de São Paulo e do Pe Reinaldo de Oliveira Barbosa, Diretor do Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, agradeço em nome da Diocese de São Gabriel da Cachoeira o cuidado especializado e o carinho fraterno que os salesianos dedicaram ao Dom Song nestes quatro anos de calvário a caminho da ressurreição.
Agora, extasiados, já podemos contemplar nosso amado Dom Song encantando os Anjos e os Santos com suas músicas e magias na festa que no céu nunca se acaba. Até logo, Dom Song. E vai preparando um lugarzinho para nós que não queremos perder a festa de jeito nenhum!
Dom Edson Tasquetto Damian
Pobre bispo do mato
São Gabriel da Cachoeira, AM, 16 de novembro de 2012.
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1 comentário em “Obrigado, Dom Song!”
Não há como não se emocionar ao recordarmos de D. Song. O conheci no inicio de minha caminhada vocacional em S.G.C. O mesmo se propoôs a ensinar a nós postulantes a tocar teclado… De fato era um servo de Deus que encantava pela simplicidade, pelo sorriso afável e pela música, que expressava a serenidade do seu ser.
Quando D,. Edson comunicava às famílias presentes na Festa da Família do Colégio S. Gabriel no dia de ontem, viu-se lágrimas a rolar no rosto desta gente simples, grata a este Bispo que soube se fazer próximo… Que D. Song interceda muitas graças a Igreja , à Diocese de São Gabriel da Cachoeira.