A manchete pode ser um tapa para que despertemos do sono ufanista : “Brasil, sexto pais mais violento do mundo”. Nosso rosto balança. E a bandeira, idem.
Situação classificada de “bastante grave”. Os números foram apresentados no seminário “Segurança Internacional: perspectivas brasileiras”, no QG do Exército brasileiro.
E qual o nosso lugar na macabra escada?: Perdemos somente para El Salvador (50,1 mortes por 100 mil habitantes); Colômbia (45/100); Guatemala (34/100); Ilhas Virgens (31/100); Venezuela (30/100); Brasil (25,8/100). Um rápido olhar e outro tapa: todos os citados são países da América e cinco da América Latina. Outros números da hemorragia interna: três Estados brasileiros têm percentual maior do que a média nacional: Alagoas (59,6/100), Espírito Santo (53,6/100), Pernambuco(53,1/100). Outra sacudidela: no ranking, à frente do Brasil, com melhor situação de segurança: Paraguai (12), México (19), Chile (28), Argentina (32), Uruguai (35). Todos da América Latina. Números confirmados pela Secretaria de Assuntos Estratégico Presidência da República.
Somos uma economia pujante e em crescimento. O nosso verde-amarelo tremula em pé de igualdade com outras cores nacionais, como as dos tigres da Ásia ou as do Brinc. Mas como pode viver feliz um povo sem segurança e com saúde tão precária? Que futuro terá uma sociedade cujas crianças são vitimadas por balas perdidas ou atropeladas na calçadas da casa enquanto brincam inocentes? E nem dá para esquecer a recente Campanha Nacional contra o Extermínio de Adolescente e Jovens: “alguma novidade no Front”?
"Que futuro terá uma sociedade cujas crianças são vitimadas por balas perdidas ou atropeladas na calçadas da casa enquanto brincam inocentes?"
A precariedade de vida de milhões de brasileiros será um desafio para o próximo Presidente ou para os próximos. A economia do país avança mas muitos brasileiros questionam a verdadeira consistência de sua cidadania. Conclusões de recente pesquisa feita pelo IBOPE indicam: a segurança pública que, em 2006, era a terceira maior preocupação dos brasileiros, agora é a segunda. E 63% da população aponta a saúde como primeira urgência (em 2006 eram 43%). Os índices apontam 7,7 de crescimento econômico, podendo chegar a 9,0% ao final do ano, mas… “Sentimos que o Brasil tem um melhor nível de vida, mas os serviços públicos não estão acompanhando essa evolução da economia brasileira”, afirma Fernando Abrúcio, da Fundação Getúlio Vargas.
Aí eu recordo o título de um livro que li em minha juventude: “Porque me ufano de meu país?”. Ontem e hoje está sendo difícil encontrar respostas mais fundamentadas, se não debelarmos estes indicativos.
Os números configuram o retrato de nossas vulnerabilidades: desigualdades extremas entre regiões, etnias e gêneros, degradação ambiental em diversos biomas, mortes oriundas do crimes organizado, ausência do Estado em comunidades carentes, amplas áreas desprovidas de serviços mínimos de urbanização, déficits quantitativos e qualitativos de educação, saúde, lazer e transporte. Todos estes fatores estão no relatório oficial.
Eis a opinião de um especialista: “ O Brasil está se revelando um gigante com pés de barro” (Antônio Wrobleski, da AWRO Participações e Logística). Estamos escondendo nosso possível calcanhar de Aquiles? As realidades sociais são interrogações ao país que acolherá uma Copa e uma Olimpíadas Festas delirantes quando fomos escolhidos para estes dois eventos esportivos mundiais Um filé mignón para a mídia. As multinacionais acionadas em seus patrióticos patrocínios. Em muitas capitais brasileiras, grandes investimentos para reconstruir ou derrubar e construir novos estádios. Vistos pelas maquetes, estádios monumentais. A suspeita é de que, antes e durante a próxima Copa do Mundo, e as Olimpíadas, a violência consentida e tolerada insista passear ao redor dos novos estádios, fazer arrastão pelas novas avenidas, aterrorizar as novas praças.
Estes desafios sócio-econômicos avançam como ondas fortes e chegam à vida e ao trabalho de todos os grupos da Família Salesiana: estamos dando consistência ética e de consciência cidadã à nossa proposta de formar o “honesto cidadão”?.
E uma reminiscência final. Recordo um presidente militar, dizer, após viagem ao Nordeste: “O Brasil vai bem, mas o brasileiros vão mal”. De novo?
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