Jovens evangelizam o mundo – Cardeal Hummes

Centenas de milhares de jovens, vindos de todos os continentes da Terra, para não dizer de todos os países, vão reunir-se na Alemanha, na cidade de Colônia, de 16 a 21 deste mês de agosto, para participar de mais uma das memoráveis Jornadas Mundiais da Juventude, que João Paulo II criou para se encontrar com os jovens. Será a 20ª Jornada. A maior delas foi a de Roma, no ano 2000, que reuniu 2,5 milhões de jovens. Estive lá e fiquei profundamente impressionado.

Nesses encontros mundiais, João Paulo II construiu aos poucos uma forte relação de confiança com os jovens. Estes o ouviam com abertura de coração, com carinho e esperança. O papa, por sua vez, procurava conduzi-los, sem concessões, pelos caminhos exigentes do Evangelho de Jesus Cristo. Os jovens procuravam segui-lo e o amavam como a um pai sábio e bom, em quem se pode confiar.

Lembro-me de que em Roma, no ano 2000, ano do grande jubileu de Jesus Cristo, naquele inesquecível encontro de João Paulo II com os 2,5 milhões de jovens, o papa os recebeu inspirado, perguntando: “O que vocês vieram buscar em Roma?” Então, parou um instante e se corrigiu, dizendo: “Não pergunto o que vieram buscar em Roma, mas a quem vieram buscar.” A pergunta, já por si só, abria um imenso horizonte e representava uma orientação clara e inequívoca. Os jovens foram a Roma não em busca de algo, mas de alguém.

Não foram em busca de lazer, diversão ou bens materiais, nem em busca de uma teoria, ideologia ou mera doutrina, mas foram em busca de alguém. E o papa se apressou em fazer-lhes entender que não era ele esse alguém, mas Jesus Cristo. O papa só queria conduzi-los a Jesus Cristo.

Agora, em Colônia, será Bento XVI quem os receberá. Será um novo tempo. Cada novo papa significa um novo tempo. Não será a repetição do anterior, ainda que o essencial continue em seus novos invólucros. O essencial é confiado como um depósito a cada papa, que o deverá transmitir fiel e integralmente às gerações futuras.

Mas este essencial se encarnará em cada momento distinto da História. Tomará feições novas. Assimilará elementos de cada época, que poderão durar ou desaparecer com o tempo. É a aculturação da Igreja e a inculturação da fé cristã em cada cultura. Que relação se construirá então, aos poucos, entre os jovens e o novo papa? Só o tempo dirá. No momento, todos vão de coração aberto a este primeiro encontro.

O fato de ser realizado na Alemanha e o papa ser alemão forjará também relações especiais com os jovens alemães? A juventude alemã estará aberta para a mensagem de Bento XVI?

A cidade de Colônia oferecerá ingredientes próprios a este encontro. Ela tem uma das maiores e mais célebres catedrais góticas do mundo. De fato, a Catedral de Colônia é um grandioso monumento de fé católica, que começou a ser erguido há quase 800 anos, em 1248. Durou séculos a sua construção.

Alçando suas imensas e lindas torres góticas ao céu, atravessou os séculos, enfrentando os desgastes naturais, as intempéries, as guerras – e que guerras! Hoje está aí, ainda sempre em obras. Dizem os colonienses que, no dia em que terminarem as obras da catedral, o mundo acabará. Mas ela está aí, deslumbrante, desafiando qualquer imaginação humana!

Segundo a tradição, na Catedral de Colônia estão conservados para a veneração pública, num grande e precioso relicário, os restos mortais dos três Reis Magos, que, guiados por uma estrela, vieram do Oriente para adorar o Menino Jesus, em Belém, na Palestina da época. Ainda segundo a tradição, seus nomes eram Belquior, Baltasar e Gaspar.

Eles, embora pagãos, vieram de longe, do estrangeiro, para adorar o Menino-Deus. Representavam como que a humanidade inteira aos pés do Salvador do mundo, recém-nascido. Isso significava que Jesus era o Messias-Salvador não apenas de Israel, mas de todos os povos.

Percebe-se logo que Colônia, com as relíquias dos Reis Magos, pode oferecer muitos significados para esta Jornada Mundial da Juventude. Com efeito, também os jovens peregrinos de hoje acorrem de todo o mundo para a cidade de Colônia, seguindo, por assim dizer, o chamado dos Reis Magos, que, como a estrela de outrora, os guiam aos pés de Jesus.

Também daqui, de nossa cidade de São Paulo, muitos jovens irão. Eles e seus colegas de todos os continentes são os peregrinos deste novo milênio. Vão para, juntos, adorar Jesus. De fato, o lema desta jornada é: “Nós viemos para adorá-lo”

(Mt 2,2), que foram as palavras dos Reis Magos quando chegaram a Belém. Os jovens vão encontrar-se em Colônia para adorar Jesus Cristo.

Ali serão acolhidos pelo papa, que os conduzirá de novo ao encontro com o único e verdadeiro Salvador de toda a humanidade, Jesus. Este é o “alguém” a cujo encontro os jovens de hoje peregrinam. Alguém a quem possam confiar a sua vida e o seu futuro. Vão para adorá-lo, ouvi-lo e com ele compartilhar a sua vida e as suas aspirações. Segundo a abertura do seu coração, deste encontro podem sair transformados.

O mundo inteiro presenciará este testemunho de fé dos seus jovens. A mídia mundial espalhará pelos quatro cantos do globo esta boa notícia. Com esta peregrinação, os jovens evangelizam o mundo. Significa que se pode ter ainda fundada esperança nas futuras gerações. Não são as violências e os terrorismos, com seu ódio e selvageria impiedosa, que vão arrebatar o porvir da humanidade.

Os jovens têm projetos de vida mais positivos, pois sonham com felicidade, amor, paz, fraternidade, amizade, justiça e dignidade para todos.

Dom Cláudio Hummes é cardeal-arcebispo Metropolitano de São Paulo

Artigo publicado em O ESP, dia 03 de agosto de 2005