Mesmo que os discursos de alguns políticos são insistentes em dizer que o Brasil está muito bem, podemos ainda considerar que “a sociedade brasileira é, hoje, uma das mais desiguais do mundo” (CNBB, documento 85, n. 84). Trata-se de uma desigualdade escandalosa cujas matrizes estão no desemprego, na criminalidade e no tráfico de drogas. A juventude, por conseguinte, é a mais vulnerável nesta conjuntura. Agrava-se nesta triste realidade a corrupção institucionalizada e a impunidade. O que suscita uma espécie de indiferença social e falta de perspectiva quanto ao futuro.
O desemprego é uma chaga social que assola muitos jovens, sobretudo nas periferias. Há uma sensação de que estudar é perda de tempo porque não se consegue um trabalho digno correspondente à qualificação adquirida. Contudo, é notória a realidade de que a qualificação profissional oferecida aos jovens não é de primeira, mas insuficiente e até desigual. O tempo que muitos jovens passam trabalhando para sobreviver impede que eles estudem e se qualifiquem num tempo justo e necessário. Por conseguinte, a falsa propaganda do crescimento econômico e de carteiras assinadas não corresponde à grande maioria de jovens desempregados. O que ocorre é que o marketing torna a maioria minoria e vice versa, o que é falso. O número de jovens desempregados é muito maior que os daqueles que trabalham com carteira assinada e mais ainda dos que trabalham de forma autônoma.
A criminalidade é outra chaga gravíssima da nossa sociedade, geradora da indiferença, do medo, da impunidade e do extermínio dos jovens. Matar ou morrer se tornou uma lei que agrava a cada dia a convivência social. Em nossos dias estamos perplexos com a triste constatação de que o ser humano se tornou um inimigo para outro. Um verdadeiro lobo que devora o outro sem piedade. O crime não tem nome nem limites. Infelizmente nossas leis são anacrônicas e permitem que criminosos paguem fianças e saiam pelas ruas roubando e matando sabendo que cedo ou mais tarde podem ser presos, embora não por muito tempo. Os criminosos manipulam e utilizam adolescentes e jovens para crimes porque sabem que nada acontecerá porque haverá sempre uma brecha na Lei para livrá-los.
O tráfico de drogas entrou em muitos ambientes da sociedade. Até as escolas, faculdades e universidades, se tornaram ambientes propícios para a passagem de drogas. Os jovens são usados como mulas e consumidores. Ninguém sabe o que fazer. Somos todos impotentes diante do problema. Nossos bairros estão cheios de bocas de fumo e os mais pobres roubam para traficar e manter o vício. O pior é que nos presídios a droga também rola solta confirmando que a sociedade não tem instrumentos reais para prevenir a entrada e muito menos corrigir o problema.
O que fazer? A questão é cultural. O vazio está no processo educativo. Enquanto o Estado não entender e levar a sério que educação e qualificação dos jovens é prioridade, viveremos sob ameaças de armas de fogo e temendo o outro. Uma sociedade assim não ama seus jovens, não prepara o futuro.