Inácio é do século 16, Afonso do século 17. Dois grandes personagens da historia da Igreja que marcaram profundamente Dom Bosco.
Inácio de Loyola era um militar brilhante. Homem da guerra e das grandes aventuras. Mais um dia a vida dele cruzou com a paixão de Jesus Cristo. Na guerra de Pamplona ai pelos 1530, aos 30 anos, Inácio foi atingido por uma bala de canhão. Ferido gravemente foi internado num hospital e condenado a não andar nunca mais. O homem forte e imbatível se viu prostrado numa cama sem alento e consolo. Contudo os enfermeiros que por ali passavam deixavam livros para o entretenimento dos pacientes. Um destes livros caiu nas mãos de Inácio. Era exatamente a obra clássica de Tomás de Kempis, a Imitação de Cristo. O jovem militar começa a ler e se encontra com a pessoa de Jesus. Começa a acontecer nele uma reviravolta a partir de dentro. Quando se deixava guiar pelas fantasias da vida passada perdia forças e ficava aborrecido, mas quando lia e pensava em Deus ganhava animo e alegria. Um dia entregaram a ele a vida de São Francisco de Assis, o jovem cruzado, que depois de muitas lutas e aventuras, escutou a voz do Senhor e deixou tudo para ser com e para os pobres. Esta obra tocou muito na vida de Inácio. Depois leu também a vida de São Domingos de Gusmão, outro espanhol corajoso que deixou tudo para seguir os apelos do Senhor.
Diante de tanta provocação e apelos que vinham da vida, Inácio se retira em oração numa vida eremítica, mas aos poucos percebe que não é aquilo que Deus queria para ele. Vai a Paris e estuda. Depois começa a compor sua obra clássica: Os exercícios espirituais. Com eles queria ajudar o retirante a entrar num processo de discernimento da vontade de Deus para seguir Jesus livre de toda amarra. Sua proposta de vida espiritual ganha força e ele consegue reunir um grupo de companheiros destemidos como ele forma a Companhia de Jesus, um Instituto religioso clerical pronto para assumir as tarefas mais difíceis em beneficio da Igreja.
Dom Bosco quando adolescente aos 16 anos, na pequena cidade de Chieri, entrou pela primeira vez em contato com os retiros de Santo Inácio quando visitava a Igreja dos jesuítas perto de sua casa. Escutava as pregações, ia ao catecismo e depois reunia os amigos e repetia as homilias. No seminário de Chieri durante os estudos filosóficos encontrou o livro a Imitação de Cristo e, como Inácio passou pelo mesmo processo de descoberta do Senhor, sobretudo, com relação ao Mistério de Cristo e a Eucaristia. Foi a partir desta leitura que Dom Bosco se converteu de fato ao seguimento de Jesus deixando as leituras clássicas e se afeiçoando aos textos devocionais.
Quando padre novo em 1842, no Convitto Eclesiático, Dom Bosco começa a freqüentar os retiros espirituais inacianos promovidos pelo padre Cafasso em Lanzo para leigos, padres e religiosos. Foi um aprendizado importantíssimo. Durante 32 anos (1842 a 1874), Dom Bosco pregou retiros e fez a experiência de ser retirante. Depois que o arcebispo de Turim proibiu que Dom Bosco usasse a casa de retiro com os meninos do oratório ele começou a realizar os retiros em Valdocco fazendo assim o passo metodológico dos retiros para a pedagogia salesiana: retiro da boa morte, estudo da vida dos santos, a necessidade da confissão freqüente, a direção espiritual, etc. Tudo isto parte de uma metodologia maior própria dos exercícios de Santo Inácio. Uma riqueza que infelizmente muitos de nós salesianos desconhecemos.
Santo Afonso Maria de Ligorio, advogado, grande orador. Decidiu-se pela vida religiosa e fundou o Instituto do Santíssimo Redentor, redentorista. Sua teologia voltada para a misericórdia de Deus e, portanto, para o bem estar do penitente mexeu muito com a teologia clássica da predestinação e do rigorismo, bastante influenciadas pelo jansenismo. Para aquela teologia a compreensão de Deus é de juiz implacável que não perdoa o menor pecado humano. Na confissão o padre deve ser o juiz e mostrar toda a triste realidade do pecado. Afonso combateu tudo isto e sua teologia ajudou a modificar a compreensão da reconciliação.
Dom Bosco foi formado no seminário de Chieri nesta teologia rigorista. Contudo, quando chega ao Convitto Eclesiatico, em 1841, dirigido pelo padre Cafasso, as coisas mudam. Ali os padres novos aprendiam a ser padres de verdade, ou seja, pastores com a teologia de Santo Afonso. Tinham aula, reflexão em grupos e apostolado nos cárceres e hospitais de Turim. Eles se aproximavam dos mais pobres e viviam suas dores e angustias. Esses padres s formavam com outra sensibilidade pastoral. Era também comum no Convitto acolher meninos famintos e alimentá-los. Dom Bosco começou ali a ter contato com os meninos mais pobres da grande Turim e passava algum tempo com eles na catequese e nas brincadeiras. Visitando os cárceres o padre Bosco vai se sensibilizar com os mais pobres. Escutá-os na confissão e, a partir do método de Santo Afonso, chega a tocar os corações deles.
Quando Dom Bosco se decide a gastar a vida pelos jovens pobres e abandonados de Turim o fez com a ajuda dos seus dois grandes amigos: padre Cafasso e teólogo Borel. Este ultimo foi tão generoso com Dom Bosco que quando morreu não deixou nada, nem tinham dinheiro para comprar um caixão pra ele. Tal foi sua generosidade para com Dom Bosco.
É assim que Deus escreve a historia e desfaz os planos das nações e das pessoas (Sl 32).Ele arranca o joio na hora certa e deixa o trigo para alimentar os famintos de justiça e de salvação. Inácio e Afonso são dois santos que muito influenciaram na espiritualidade salesiana e na sua pedagogia. É assim que Deus colabora conosco na construção da história.