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HOMILIA DO P VAN HECKE

Sábado 1 de Março de 2008-02-19
Os 6,1-6 e Lc 18, 9-14

Caríssimos irmãos:

Neste dia em que reflectiremos sobre a predilecção pelos pequenos e pelo retorno a Dom Bosco, a liturgia oferece-nos uma reflexão sobre duas atitudes cristãs e fundamentais: a oração e humildade.

O fariseu, cheio de presunção de ser justo diante de Deus, rezava como se encontrasse diante do espelho de si mesmo, fazendo o panegírico de si mesmo e desprezando “os outros”. E assim reduz a oração a um monólogo irritadiço e mesquinho, como uma caixa de ressonância do ego. Os outros tornam-se “ coisa posta de parte”, insignificantes e não convenientes. Parece que este homem não tenha necessidade de Deus nem da Sua Salvação.

Também o publicano se encontra diante dum espelho, mas o da misericórdia de Deus, procurando humildemente distinguir no seu rosto desfigurado os traços da piedade divina. O espelho da misericórdia de Deus no qual te percebes amado e salvo.

Não só a oração deve ser perseverante, como diz Lucas nos versículos precedentes mas verdadeira e sincera, isto é, que reflicta a realidade existencial do homem, necessitado sempre de ajuda e de perdão de Deus. A verdadeira oração nasce sempre dum coração humilde.

Jesus, de fato, declara justificado, aquele que se humilha. Humilhado!
Esta passagem parece sem sentido aos nossos ouvidos.
Mas que significa a humildade no Evangelho?

Diz-se que um é humilde quando se dobra diante da grandeza de um outro homem, ou quando exalta um génio com qualidades superiores às suas. Ora, isto não é humildade, mas honestidade. Humildade não vai debaixo para cima, mas de cima para baixo. Não significa que o mais pequeno reconheça o maior, mas que este, o maior, se incline com reverência diante do mais pequeno. Pode-se compreender que o maior se abaixe graciosamente ao nível do mais pequeno, o estime no seu justo valor, sinta piedade. Humildade, porém, é só quando o maior se inclina com reverência diante do mais pequeno.

Mas não será uma desvalorização de si mesmo? Não. “No acto de assumir o caminho da humildade, o grande sente-se ele mesmo estranhamente seguro, e sabe que quanto mais corajosamente ele se humilha tanto mais seguro se encontra de si mesmo”, diz Guardini.
E tem vantagens? Sim! A maior vantagem: no espírito de humildade se constrói precisamente a riqueza do mais pequeno enquanto tal. Não já no sentido de que o mais pequeno “tenha também” ele o seu valor, mas no sentido que, precisamente porque é mais pequeno, é precioso. Ele revela-se ao humilde cromo um profundo mistério. Quanto Francisco de Assis se ajoelha diante do Papa, não é humildade, mas, acreditando na dignidade do Papa, è somente verdade. Humildade é quando se inclina diante do pobre, humilhando-se ao seu nível, não apenas como benfeitor ou como alguém de ânimo nobre honra nele o homem, mas com o coração iluminado por Deus, que diante da sua exigência se lança aos pés como diante de uma misteriosa majestade. Quem não vê isto, deve ver Francisco como um exaltado. Quem não vê isto deve ver o nosso Pai Dom Bosco, acolhendo os rapazes da rua, como um louco. (e aconteceu)

Na última ceia o Senhor ajoelhou-se diante dos seus apóstolos e lavou os pés não para “renegar” a si mesmo, mas para revelar-lhes o mistério divino, presente dentro deles. (Jo 14,4).

Deus é o humilde-amante. Verdadeiramente este Deus inverte tudo o que o homem pretende edificar de si mesmo. Diante dele faz renascer em nós a última tentação, quer dizer: a um Deus assim não me inclino! Ao Ser absoluto, ao Dominador do universo, à mais nobre das ideias, a um divindade do Olimpo, sim. A este Deus – não!

Humildade cristã é cumprimento desta tentação de Deus. Ela implica, antes de mais nada, que o homem aceite ser criatura. Não senhor, mas criatura. Que aceite ser pecador. Não basta ainda, mas criatura deste humilde Deus, e pecador diante dele. Aqui está tudo.

Humildade quer dizer desprezar esta aspiração orgulhosa do próprio gosto, e inclinar-se não somente diante da majestade de Deus, mas especialmente diante da sua humildade. Quer dizer curvar o que é grande no mundo diante daquele que entrou no mundo como a semear o desprezo. Curvar-se diante de Cristo sob o peso da cruz.

Não confundir isto com debilidade que se deixa andar, ou com astúcia que se faz mais pequena do que é: muito menos com um instinto de auto-humillação de má intenção. Humildade e caridade não são virtudes de doentes. Derivam da Força criadora de Deus, que eleva todas as potências da natureza. Compreende-se a partir daqui que um homem pode ser humilde apenas na medida em que vive a grandeza que ele é, e deve tornar-se, diante de Deus.

Tocamos aqui, penso, num aspecto fundamental da vocação do nosso Pai Dom Bosco e o motivo pelo qual se ajoelhou diante dos jovens mais desprezados.

É este mesmo caminho que nos incita para os mais pobres, os que estão mais longe, onde quer que se encontrem, em direcção a estas avezinhas que jamais encontram lugar sob a árvore da sociedade, estes jovens que perderam o comboio bom da vida para dizer-lhes que não estão abandonados e esquecidos, que a vida não está limitada a ser feita de “drop-out” (marginais), para dizer que existe um Deus que ama, que não os esquece. Que este Deus é pai de Jesus Cristo que não faz a contabilidade dos pecados e dos erros, mas está sempre esperando o filho que quer voltar.

Para dizer aos jovens que nós salesianos, em nome de Jesus, não lhes pedimos um cartão de entrada ou um exame de admissão para serem ouvidos nas nossas casas ou para poder entrar na igreja.

Para lhes dizer: basta que sejais jovens. Façamos caminho juntos. Façamos povo, mesmo com pouca fé, mesmo com os nosso pecado como o publicano, mesmo se a um certo momento da vida tenhais perdido a estrada que conduz a Deus, mas caminhemos juntos em direcção a Deus, porque em vós está presente todo o amor de um Deus que é Alfa e Ómega da nossa vida.
Queremos rebaixar-nos para vos acolher na casa do Pai para gozar daquilo que diz o profeta Oseias na primeira leitura: “Apressemo-nos para conhecer o Senhor. Virá a nós como a chuva de Outono, como a chuva da primavera, que fecunda a terra”.

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