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HOMILIA DA ORDENAÇÃO EPISCOPAL

“Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!” Sl 117,24

São Gabriel da Cachoeira/AM – No dia 09 de fevereiro, o Núncio Apostólico me comunicou que o Papa Bento XVI me havia designado para ser bispo em São Gabriel da Cachoeira. Levei um susto. Solicitei um tempo para pensar e fui tentado a não aceitar. No silêncio do Mosteiro dos Cartuxos, onde me refugiei, percorri a trajetória de minha vida. Percebi o quanto Deus foi magnífico e infinitamente generoso. Concedeu-me muito mais do que ousei lhe pedir. Também me dei conta de tudo quanto aprendi e recebi da mãe Igreja. Recusar a nova missão seria uma ingratidão a Deus e à Igreja. E assim, pobre, limitado, pecador aceitei ser bispo confiando inteiramente na graça de Deus, no apoio da colegialidade episcopal, principalmente da querida CNBB, no testemunho de Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Aloísio Lorscheider e Dom Ivo Lorscheiter que me ordenou em 1975, na cooperação dos presbíteros e diáconos, na dedicação dos irmãos e irmãs da vida consagrada, na solidariedade fraterna dos cristãos leigos e leigas.

No decorrer dos dez anos em que estive na pobre, perseguida, mas sempre pascal Igreja de Roraima, fui acolhido como parente pelos Makuxi, Wapixana, Ingaricó, Ptamanona, Turepang, Wai-Wai, Waimiri-Atroari e Yanomami. Agora, peço licença para entrar nesta imensa região onde 95% da população é constituída por povos indígenas. Solicito para ser acolhido como hóspede pelos parentes das 23 etnias integradas em quatro famílias lingüísticas: Tucano, Aruak, Hup e Yanomami. Com Jesus desejo unicamente amar e servir dando continuidade ao heróico trabalho missionário, principalmente dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora que aqui se encontram há 94 anos. Na pessoa do Pe Damásio e da Ir Carmelita agradeço, em nome da Igreja, a generosidade e a doação da Família Salesiana. Espero contar sempre com a presença amiga e laboriosa de vocês.

Na pessoa do Pe Jorge, da Patrícia e do Pe Vanthuy, agradeço a todas as pessoas que, na precariedade dos recursos, souberam acolher os visitantes e preparar com esmero e beleza esta celebração. Hoje resplandeceu aqui o rosto de Igreja de São Gabriel da Cachoeira com mais de quinhentas comunidades espalhadas ao longo do Rio Negro e de seus afluentes. Aqui sentimos o palpitar da una, santa, católica e apostólica Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e conduzida pela força do Espírito Santo. A graça da sucessão apostólica, herança preciosa que nossa Igreja carrega em seus 2000 anos de caminhada, fez-se visível em Dom Walter Ivan de Azevedo, bispo emérito, que há oito anos ordenou Dom José Song Sui Wan e neste pobre servo que acaba de ser ordenado pela imposição das mãos de Dom José Song, de Dom Jayme Chemello, de Dom Roque Paloschi e dos demais bispos aqui presentes, que inclusive transpuseram as fronteiras da Colômbia – Dom Antonio Bayter – e da Venezuela – Dom Jesus Alfonso Guerrero – para nos unir na Abya Ayala, a Pátria Grande da América Latina. Na pessoa do caríssimo arcebispo de Manaus, Dom Luiz Soares Vieira, agradeço cordialmente a presença amiga de cada um dos bispos.

Abraço com emoção meu pai Jerônimo, com 87 anos e a mãe Dionilda, com 81 anos, que não puderam vir. Eles estão aqui representados nos quatro filhos, meus queridíssimos irmãos e também no Pe Antônio Taschetto, pároco de minha cidade natal. Dom Hélio Rubert traz a presença da minha Diocese de origem -Santa Maria-RS – que me enviou para a missão na Amazônia. Aos que vieram de mais longe ainda, saúdo-os na pessoa do Pe Amand Le Cock, da Bélgica, que representa a Fraternidade Universal de Charles de Foucuald.

E como não agradecer neste momento a Amazon Sat, “a cara e a voz da Amazônia” que, gratuitamente está transmitindo este evento, levando as imagens à casa de meus pais e dos jaguarienses, dos saudosos amigos e amigas de Roraima, dos irmãos de fé que nos acompanham de todos os recantos do Brasil.

Estou pisando devagar e com respeito esta extensão melhor preservada e mais bela da Amazônia. Não trago outro interesse a não ser o desejo de amar e servir a todos com Jesus e como Jesus. Peço que tenham paciência comigo, me ajudem e me corrijam sempre que for preciso. Aceitem-me como hóspede, irmão, humilde servidor.

Faço minhas as sábias palavras do Santo bispo Agostinho: “Atemoriza-me o que sou para vós. Consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou bispo, convosco sou cristão. Aquilo é um dever, isto uma graça. O primeiro é um perigo, o segundo salvação”.

Para concluir recordo as palavras que minha mãe me disse com lágrimas, há dez anos, ao lado de meu pai, quando parti para missão em Roraima: “Já que partes para tão longe e não posso mais cuidar-te, coloco-te nas mãos de Nossa Senhora. Ela saberá cuidar de ti melhor do que eu”. Maria de Guadalupe, Auxiliadora e Aparecida, Arcanjo São Gabriel cuidem de mim, cuidem dos irmãos e irmãs da Diocese, da Amazônia, do Brasil, da América Latina. Muito Obrigado! Gracias! Em Tucano: “Anhú buhtia!”; em Yanomami: “Ya búhi tobrarô!”; em Baniwa: “Matsiã!”; em Tuiuca: “Anukãmoã!”; em Baré: “Katuretê!”; em Nheengatu: “Kué katú retê penharã!”

Dom Edson Tasquetto Damian
São Gabriel da Cachoeira-AM, 24 de maio de 2009
Solenidade da Ascensão do Senhor
Memória de Nossa Senhora Auxiliadora

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