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Francisco: um nome e um projeto

Desde o dia 13/03, quando foi eleito Jorge Mario Bergoglio, e assumiu o nome de Francisco, o bispo de Roma que “veio quase do fim do mundo”, como ele mesmo se apresentou pedindo a benção do povo; presenciamos em seus gestos de humildade, uma verdadeira conversão pastoral do ministério petrino, deixando tudo aquilo que distancia do povo. Ele saiu de si para ir ao encontro do povo. Aliás, Francisco demonstra grande atenção às pessoas desde sua primeira aparição pública. Toca nas pessoas e se deixa tocar. Abraça e se deixa abraçar. Beija e se deixa beijar. Francisco deixa de lado um estilo de pontificado com ranço de monarquia e assume a simplicidade, o contato direto, a transparência, a ternura e o povo como lugar do encontro libertador com Deus.

É fascinante acompanhar o papa na Praça de São Pedro mergulhado no meio do povo. Ele gasta mais tempo saudando as pessoas do que discursando. O discurso é breve, direto e sempre centrado em três ideias, bem ao estilo jesuíta. Francisco, portanto, é um nome que recorda o despojamento e a alegria de João XXIII e a comunicação não verbal de João Paulo II. O nome do santo medieval que ele assumiu foi daquele que se despojou de suas vestes nobres na Praça de Assis e disse: “Não tenho mais pai e mãe”. Assim vejo agora Francisco. Ele se despojou diante da Praça de São Pedro, pediu para ser abençoado, não usou as roupas finas tradicionais e disse que os cardeais o chamaram quase “do fim mundo”. E, é para este mundo excluído que ele se dedica, o mundo dos pobres. Sem mencionar até agora a Teologia da Libertação, Francisco tem mostrado que veio para ser o ícone da mesma, sem frases de efeito e discursos inflamados, mas no abandono do isolamento, da nobreza e dos privilégios, do luxo e da distancia do povo, renovando assim o “famoso pacto das catacumbas” feito por um grupo de bispos durante o Concílio Vaticano II, entre eles estava Dom Helder Câmera. Aqueles bispos abandonaram seus palácios, roupas luxuosas e privilégios para se tornarem servos de todos e ter o cheiro do povo, com bem disse Francisco.

Num discurso aos Núncios Apostólicos o papa Francisco traçou o perfil dos novos bispos: não quer carreiristas, intelectuais fechados em escritórios, sonhadores de dioceses importantes. Os bispos de Francisco serão homens tirados do meio do povo com o cheiro do povo. Aqui ele rompe com um clericalismo exacerbado que há décadas tem marcado algumas instâncias do presbiterado, do episcopado e, porque não dizer, da vida religiosa consagrada. Por tanto, Francisco é também um projeto de Igreja que está em processo, cujo eixo é a ternura – misericórdia, como ele mesmo disse na sua homilia inaugural: “Não tenham medo da ternura”. Ser terno, humano, capaz de abraçar e beijar sem perder a firmeza e o sentido da justiça. Pediu aos seminaristas e noviços/as que fujam do provisório, do aburguesamento e de uma vida religiosa medíocre e insossa e sem fermento. Pediu generosidade e entrega radical ao Reino.

Na chegada ao Brasil para a JMJ Francisco demonstrou carinho, simpatia e proximidade e disse claramente que não tinha “ouro nem prata” apenas Jesus Cristo. Deixou claro que não é um soberano, mas um missionário discípulo do Senhor; este é o seu verdadeiro tesouro e projeto na linha de Aparecida. Sua ida ao Santuário da Aparecida deixa claro que este documento será seu único projeto de governo. Foi aos pés da mãe Maria para dizer a todos que é preciso “conservar a esperança, deixar-se surpreender por Deus e viver a alegria” (homilia em Aparecida). É óbvio que Francisco é um papa na contramão de uma cultura prisioneira do neocolonialismo, do hedonismo, do consumo, do individualismo. Ele é um ponto branco que vai clarear a escuridão da atual crise mundial sem líderes, chefes e profetas. Francisco está respondendo com gestos o questionamento de João Paulo II no Ano Santo quando perguntou como deveria ser o ministério petrino. Poucos responderam e os que tentaram não imaginavam que Deus suscitaria um papa, num momento de crise, como bem disse Bento XVI, carismático: “o Senhor deu-nos muitos dias de sol e brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em toda a história da Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que, naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor (27/2/13). Não imaginávamos que teríamos um papa terno que levaria a Igreja na tempestade com a presença firme do Senhor. De fato, a Igreja é rocha e nada a destruirá.

O primeiro papa latino-americano que Deus suscita, acredito eu, fruto do documento de Aparecida, com um projeto de pontificado renovado em seus gestos, palavras e organização, revela um discípulo missionário que não veio para se servir do Reino, não que os outros papas se serviram, mas este está inovando. Ele veio para ser de fato o servo dos servos. Claro, ainda é cedo para um juízo histórico, porém, a partir do que estou vendo e ouvindo, Francisco deixará uma marca indelével na história dos papas.

Aguardo ainda as mudanças na Cúria Romana com o trabalho da comissão dos oito. Oxalá a comissão consiga assessorar o papa numa reforma institucional profunda para devolver a credibilidade ao governo da Igreja. Queira Deus que a JMJ devolva aos jovens o amor a Igreja, proximidade e valiosa presença rejuvenescedora.

Pe. João Mendonça, sdb

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