– Por P. José Ivanildo de O. Melo, sdb –
Entre os dias 19 e 25 de setembro estive em viagem a El Salvador, um pequeno país da América Central, rico de belos lugares e de um povo extraordinariamente feliz. Fui para o Encontro Continental de Comunicação Social, promovido pelo Dicastério de Comunicação Salesiana.
Participaram 29 comunicadores, delegados, delegadas e coordenadores de comunicação de 19 inspetorias representando mais de 12 países do continente. Uma viagem cheia de escalas, aprendizados, experiências culinárias, contato com uma nova língua e pessoas.
O encontro foi bastante intenso. Fomos recebidos por uma equipe super animada, compartilhamos experiências, tivemos formação sobre as novidades do Desing Thinking. Nos momentos livres conhecemos a Playa Costa del Sol, banhada pelo oceano pacifico, visitamos o lindo Mirador Plaza Del Vucán. Experimentei a tradicional pupusa de maiz con queso, loroco, chicharron y frijoles e tantas outras novidades.
Tivemos também visitas religiosas. Impressionei-me com a magnífica Paróquia de Nossa Senhora Auxiliadora, com mais de 40 grupos paroquiais e 40 missas semanais, dez aos domingos. Esta bela paróquia é ornada por uma bonita cúpula e torre lateral com 90 metros de altura. De lá é possível contemplar as cercanias de El Salvador, rodeada por montanhas que em outros tempos foram vulcões.
Destaque especial a visita a Catedral do Divino Salvador e a cripta do Beato Oscar Romero. Aí celebramos a missa. Em seguida visitamos a capela do seu martírio e sua casa, hoje transformada em um pequeno museu cuidado por religiosas que no mesmo espaço administram o Hospital da Divina Providência, para doentes em estado terminal. Não há palavras para descrever a escuta do áudio de sua última homilia e o som da bala que lhe entregou a palma do martírio enquanto mirava sua camisa machada de sangue, com o rasgo da bala, aí exposta.
Mas esta viagem me reservou ainda uma outra inesperada graça. Desde ordenado fiz o propósito de rezar missa diariamente. Esta promessa não poucas vezes me impôs sacrifícios de celebrar em altas horas ou muito cedo, especialmente em dias de viagem. Com povo ou sem (em caso de séria necessidade), ofereço a Deus, o que ele me chamou a realizar– o sacrifício de seu Filho pela redenção do mundo.
Pois bem, durante minha passagem pelo aeroporto de Tocumen/ Panamá, que recebe escalas de mais de 90 países da América Latina e Europa, como tinha muitas horas de espera resolvi andar um pouco no ambiente. Há um verdadeiro mosaico de pessoas e sotaques. Muitas nacionalidades- espanhóis, americanos, árabes… e assim por diante. Como de costume por todos os lados fui vendo as diversas lojas Duty Free de perfumes whisky, roupas, eletrônicos, fast food de todos os gostos.
Passando no centro da transição entre os portões, me surpreendi com uma plaquinha – Capilla. Sim, há um a capela no aeroporto, e de muito bom gosto. Nas laterais, vitrais da via-sacra imitam janelas, uma bela imagem de Maria com seu filho no colo ao lado direito do presbitério, um singelo altar tendo por trás o sacrário em forma de sol. Por um minuto pensei ter sido preparada pela proximidade da Jornada Mundial da Juventude, prevista para acontecer no país em Janeiro de 2019. Mas não, a Capela dedicada à Virgem de Loreto, foi inaugurada no dia 24 de fevereiro de 2011, por iniciativa da primeira dama do país, senhora Marta Linhares de Martins.
Mas o que de fato me edificou foi ver a quantidade de pessoas que minuto por minuto param a orar. Comissários de bordo, comandantes, passageiros de diversas línguas e procedências se ajoelham aos pés da Virgem Santíssima, voltam o olhar ao Sacrário e fazem suas preces. Alguns com formulário de oração, outros espontaneamente se alternam em gestos que inspiram devoção. Bem verdade que alguns somente param admirados na porta, outros talvez até reclamem de não ser um ambiente ecumênico (…?).
Uma das placas na entrada da capela marca o horário fixo de missa aos domingos – 1Pm. Ao lado uma outra anotação – para celebraciones de misa, favor dirigirse al salón diplomático. Salida del muelle norte.
Esta possibilidade me encheu de alegria, e lá fui eu conferir se poderia celebrar a Eucaristia. Sim, poderia. Me entregaram duas chaves – sacrário e sacristia. Aí estão os paramentos e todo o necessário para a missa. Tomei o formulário, marquei as partes fixas, escolhi a oração eucarística, preparei o cálice. Tudo pronto! Um misto de alegria, intenções e receio.
Bastou me colocar paramentado no altar e diversas pessoas ocuparam toda a capelinha. Umas 20 pessoas. Que surpresa! Esta foi minha primeira missa celebrada em língua espanhola, e confesso, foi como a primeira missa celebrada em minha cidade natal no dia 10.09.2017.
O evangelho do dia era o texto de Lucas 8, 19, a família de Jesus. Nas poucas palavras em espanhol que dirigi a assembleia recordei como é bonito nos sentirmos família de Deus. De fato, cada um de nós, vindo de diversos lugares, nos reunimos ao redor do Senhor, com sua mãe, e mesmo se não nos compreendemos perfeitamente, nos sentimos filhos, irmãos e irmãs e a liturgia nos ajuda nessa missão.
Ao final atendi confissões, dei a benção a pessoas e objetos, ouvi quem me perguntavam sobre de onde era e para onde ia… A um senhor que se aproximou bastante falante lhe disse que não compreendia bem espanhol, ao que me disse – Não importa, padre. O que importa é que trouxestes a Eucaristia para nós. Não pude deixar de me emocionar.
O que levo desta viagem, entre as tantas experiências feitas, é que para os discípulos do Senhor toda parada, grande ou pequena, toda experiências, qualquer escala, em um aeroporto ou em uma montanha vulcânica é sempre uma oportunidade de amar e servir. O ministério que recebi é um dom para mim e para os meus irmãos, expressão incomparável do amor de Deus por nós. E esta é uma linguagem comunicativa que todos entendem.