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Discipulado e maestria

A V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, realizada de 13 a 31 de maio de 2007, no Santuário Nacional dedicado a Nossa Senhora Aparecida, deixou um legado precioso. É o Documento de Aparecida. É o anseio da Igreja Católica iluminada por sua consciência missionária e sua convicção de estar no mundo a serviço. Um serviço que focaliza a centralidade da vida, sua promoção e sua defesa. Este anseio de servir melhor tem como meta dar à configuração institucional da Igreja uma feição nova, configurada mais autenticamente ao Evangelho do seu Senhor, de quem recebeu a missão e envio, quando ele disse aos seus onze discípulos: “Foi-me dada toda autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,16-20).

Este anseio de uma configuração institucional mais missionária para a Igreja, sublinha o Documento de Aparecida, visa, de modo especial, a qualificação da vivência da fé de todos os discípulos e discípulas de Cristo Jesus. Esta vivência qualificada da fé supõe uma revisão séria de tradições vividas, de hábitos adotados, de modificações de hábitos culturais, muitas vezes contrários aos valores do Evangelho. Este é um questionamento que precisa ser assimilado por todos os cristãos. Um questionamento que supõe aceitar um processo de passar a limpo o próprio coração, atingindo a própria conduta.

Assim, superando o simples estar na Igreja, com uma pertença pouca qualificada em gestos comprometidos de fraternidade e solidariedade. Ainda pensando a vida da Igreja, este processo de qualificação afrontará o gravíssimo problema do déficit de fé que assola a vida moderna e permeia também as instituições religiosas. Este déficit de fé se comprova em muitas circunstâncias e de muitos modos. Por exemplo, a presença e uso dos instituídos que configuram a instituição em benefício próprio, sem aquele amor que encharca todo aquele que vive uma inserção profunda e diária no mistério de Deus. Este déficit de fé também se revela na medida em que se pensa o institucional da Igreja na mesma compleição sociológica de outras instituições, obscurecendo o sentido da experiência do mistério do amor de Deus. Em conseqüência, aparece o comprometimento da vivência da fé de modo profundo, uma confusão do seu sentido e a vivência descomprometida em relação aos valores do Evangelho.

O horizonte do Documento de Aparecida indica procedimentos para tocar profundamente esta configuração da Igreja, a vivência da pertença a ela e esta imprescindível qualificação da vivência autêntica da fé. Esta vivência autêntica da fé, na condição de discípulo e discípula de Cristo Jesus, aponta o Documento de Aparecida, tem que se tornar um serviço da Igreja ao mundo, à sociedade contemporânea, tocando sua compreensão para abrir caminhos de maior solidariedade e vivência mais efetiva da fraternidade universal. A missão permanente que a Igreja Católica assume na América Latina e no Caribe, compromisso desta V Conferência Geral, não é uma disputa numérica, em termos de membros, no cenário religioso plural contemporâneo. Esta será uma conseqüência natural. O coração humano, embora em meio a turbulências e sombras, está à procura do que é autêntico e sincero; verdadeiro e bom.

Esta é uma convicção prévia de que aí está o bem, no que é duradouro. Assim, os compromissos do Documento de Aparecida apontam para uma qualificação da vivência da fé pela dinâmica do discipulado, oferecendo um serviço qualificado ao mundo contemporâneo para ajudá-lo a sair de impasses graves na ordem social e política, humanitária e relacional. Estas metas precisam ser atingidas. Atingi-las satisfatoriamente significa repensar a vida e definir suas dinâmicas num sério confronto entre o que significa discipulado e maestria. A condição de mestre seduz muito. Uma sedução que muitas vezes gera prepotências e arbitrariedades, segregações e acirramento das exclusões. Há, pois, um caminho mais eficaz e duradouro para a maestria que o mundo precisa, dando ordem e direções mais humanas e evangélicas ao seu destino. Esta maestria se conquista pela condição do ser discípulo. Não é tão simples assumir esta condição. O orgulho e a vaidade nos corações pervertem de maneira brutal.

O discipulado é uma experiência. Uma experiência que inclui percursos próprios. Estes percursos supõem exercícios quotidianos. Estes exercícios diários podem modular o coração de maneira nova. Vale a pena conhecer para experimentar a proposta de ser discípulo e discípula de Cristo Jesus. Uma aposta que dará bons resultados. Uma aposta que começa na capacidade de assumir-se como discípulo, em tudo, e não mestre. É um percurso educativo para amar mais e de modo verdadeiro. Todos são convidados a fazer este percurso neste encontro semanal.

* Dom Walmor Oliveira de Azevedo é arcebispo de Belo Horizonte (MG)

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