CÍRCULOS BÍBLICOS, UMA EXPERIÊNCIA
Tudo iniciou em 1978, no 3º ano do CAT (Curso de atualização teológica para leigos) no Pio XI em São Paulo. Visitando o nosso Instituto de filosofia em Lorena conheci o Pe. Jonas Abib que estava iniciando a comunidade CANÇÃO NOVA. Quis ver a coisa e acabei ficando um mês naquela comunidade formada pelo Pe. Jonas, duas irmãs salesianas e uma dezena de jovens. Foi aí que descobri a Bíblia como Palavra de Deus. Esta descoberta foi para mim um verdadeiro marco na minha compreensão de vida cristã e religiosa. Daí em diante o amor pela Palavra de Deus foi aumentando. Nada mais me interessava a não ser uma cada vez maior compreensão da Palavra de Deus escondida no livro que chamamos de BÍBLIA.
Em maio de 2001, na EST, umas pessoas pediram ao Pe. Bira para formar um grupo de estudo bíblico. Pe. Bira aceitou e depois dos primeiros encontros pediu-me se queria assumir o grupo. Aceitei na hora. Eram seis pessoas. Propus ao grupo de dar continuidade tendo como objetivo principal o caminho para uma pastoral bíblica de conjunto. Apresentei a proposta de assumir o PROJETO SER IGREJA NO NOVO MILÊNIO (SINM) e, continuamos o do livro da CNBB Curso Bíblico Popular, Atos dos apóstolos já iniciado pelo Pe. Bira.. A primeira coisa a fazer era explicar o que era um Círculo bíblico e aprendemos fazendo. A partir do segundo encontro outras pessoas se uniram e o grupo aumentava a cada encontro. Os encontros foram regulares, sempre às 6ª feiras de cada semana. Foi este grupo que formou o 1º círculo bíblico da EST.
Todas as ocasiões eram boas para fazer propaganda da nova atividade pastoral da EST: avisos nas missas, cartazes, faixas, propaganda boca a boca, panfletos, etc…O número das pessoas ia aumentando sempre mais. Em junho do mesmo ano o grupo era tão grande que não cabia na capelinha onde costumava se reunir. Assim foi desmembrado. O novo grupo começou fazer os seus encontros nas casas dos participantes, sempre uma vez por semana. O Sr. Antônio acompanhava os dois grupos. As reuniões têm um roteiro bastante simples: Invocação ao Espírito Santo, um fato da realidade atual, leitura do texto da Bíblia, confrontar a vida com a Bíblia, orações espontâneas, o Pai nosso. Tudo permeado com cantos e muita liberdade das pessoas de falar.
No mês de outubro do mesmo ano, uma senhora convidou o irmão Antônio para iniciar um novo círculo bíblico na rua dela. O grupo estava muito animado e acolheu a Palavra de Deus com muita alegria. Era o terceiro grupo de círculo bíblico.
O que me chamava a atenção era ver a alegria das pessoas que aprendiam a manusear a Bíblia. A felicidade que estas pessoas sentiam em entender certas passagens já ouvidas centenas de vezes, mas que somente agora estavam compreendendo o significado. A Bíblia estava entrando na vida delas, a Palavra de Deus estava iluminando suas vidas. Jesus não era mais aquela personagem distante, mas se tornava presente. Suas palavras (de Jesus) eram entendidas, vividas, clareavam suas dúvidas, sustentavam nas dificuldades.
Foi neste tempo que vim a conhecer o CEBI (CENTRO ECUMÊNICO DE ESTUDOS BÍBLICOS). Pedi uma assessoria para a nossa incipiente pastoral bíblica. Encontrei uma pronta resposta positiva. Conheci assim o método do CEBI a LEITURA POPULAR DA BÍBLIA. Por ocasião do Natal fizemos uma confraternização com os três grupos que não se conheciam ainda.
Com a assessoria do CEBI decidimos de fazer de dois em dois meses uma ESCOLA BÍBLICA aberta a todas as pessoas. Era aos domingos das 9:00 às 16:00 horas. Estes dias de estudo ajudaram muito no entendimento da Bíblia e na vivência cristã das pessoas.
Para animar os grupos acontecia uma vez ao mês o encontro de formação dos coordenadores dos 3 grupos. A partir de 2002 já tínhamos um calendário com as atividades a serem desenvolvidas ao longo do ano. Assumimos a animação da missa no 2º sábado de cada mês. Aos poucos os grupos que se reuniam ao redor da Bíblia formavam verdadeiras comunidades. Os problemas da rua ou do bairro eram compartilhados. Mesmo problemas familiares eram resolvidos nos círculos bíblicos, pois a amizade e confiança entre as pessoas eram muito grande.
Em fevereiro de 2002 surgiu um novo grupo numa rua bem distante da Escola. Este grupo foi de início assessorado pelo Sr. Antônio e outras pessoas pertencentes a outros grupos. Foi o 4º grupo.
Aos poucos os leigos/as começaram assumir cada vez mais os encargos que a Pastoral bíblica precisava. As aulas da ESCOLA BÍBLICA BIMESTRAL, na sua organização, foram assumidas pelas coordenações dos grupos. Nas festas da Escola a Pastoral Bíblica se faz presente com a sua barraca. Sempre que na cidade acontecia algum curso sobre Bíblia alguns dos grupos participava.
Em agosto de 2003 foi lançada a proposta de fazer uma ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL. Foi feita uma pesquisa para ver o melhor horário e o grau de aceitação. Assim em setembro, mês da Bíblia, de 2003 iniciamos a ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL. Assumiram o compromisso de assessorar esta atividade, além do Sr. Antônio, 4 pessoas. Continua ainda hoje, com os seus altos e baixos.
Em fevereiro de 2004 fizemos uma celebração especial para fortalecer nossa fé e nossa caminhada, foi a REVITALIZAÇÃO DO NOSSO BATISMO. Foi uma manhã de estudo para conhecer e reviver este sacramento. Renovamos a cerimônia do Batismo.
Em outubro de 2003 surgia um novo grupo numa rua bem mais longe da Escola. Era o 5º.
Aos poucos a Pastoral Bíblica era assumida cada vez mais pelos leigos. Os coordenadores de cada grupo formaram uma Coordenação geral encabeçada por uma pessoa. Eu fiquei no assessoramento, na animação, no acompanhamento. Aprendi e estou aprendendo muito em cada círculo bíblico que freqüento.
Cada círculo funciona como um espelho, onde a Bíblia e a Vida se refletem. Cada roteiro focaliza um assunto determinado da vida de hoje e a ligação Bíblia-Vida é provocada através de perguntas. Em tudo isso não tem nenhuma rigidez, mas muita liberdade. Quando alguém apresenta um problema o grupo procura ajudar a pessoa da melhor maneira possível. Os mais tímidos são estimulados a se manifestar.
Os Círculos Bíblicos focalizam muito a importância da Comunidade, pois a Bíblia leva a viver em comunidade, conviver em comunidade leva a servir o povo e servir ao povo leva a desejar um conhecimento mais aprofundado do contexto de origem da Bíblia, pois nela se descobre a nossa própria vida e nossa história pessoal e comunitária. A Bíblia nasceu do povo para o povo, por isso deve ser interpretada comunitariamente pelo povo, a partir dos pobres, dos excluídos e marginalizados. A VIDA é o centro da Bíblia. Deus é o Deus da Vida e quer vida plena para o seu povo. A Bíblia não é fim a si mesma, mas está a serviço da interpretação da VIDA. A Bíblia sozinha não funciona; é como o coração; quando arrancado fora do corpo, da comunidade e da vida do povo, morre e faz morrer. Lendo a Bíblia em comunidade se descobre o óbvio: uma história de opressão igual a que as próprias pessoas vivem hoje. Uma história de luta pelos mesmos valores de ontem e de hoje: terra, liberdade, justiça, partilha, vida de gente, fraternidade, dignidade…
O nosso Reitor Mor, Pe. Pascual escreveu uma linda carta sobre a importância da Bíblia na nossa vida. É um dos textos que mais utilizo nos encontros de animação. Diante da sangria de católicos para outras religiões e igrejas quem sabe se a Bíblia não seria a solução? O Concílio Vat. II incentivou o uso da Bíblia na catequese e nas atividades pastorais. Por longos séculos ao povo católico foi tirada a Bíblia. Está na hora de devolver ao povo o que é dele.
Antonio Stefani, sdb.