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Notícias

Apresentação do Instrumento de trabalho do CG26

Caríssimos Irmãos,

a mim me foi confiada a tarefa de apresentar-vos o ‘Instrumento de trabalho’, elaborado pela Comissão pré-capitular, de que fiz parte. Empresto portanto minha voz aos demais componentes da Comissão: P. Carlos Socol (China), P. Ivo Coelho (Índia), P. Marek Chrzan (Polônia), P. Vicente Tirabasso (Argentina), P. José Pastor Ramírez (Antilhas), P. Guilherme Basañes (Angola), P. Ángel Fernandez Artime (Espanha), P. Jean-Noel Charmoille (França) e Sr. Giampietro Pettenon (Itália).

Sob a presidência do Regulador, P. Francesco Cereda, a Comissão pré-capitular se reuniu em 1º-12 de outubro de 2007; estudou as contribuições dos Capítulos inspetoriais da Congregação, dos grupos de irmãos e dos irmãos individualmente, concernentes aos cinco núcleos temáticos; preparou a seguir o Instrumento de trabalho do CG26.


O trabalho da Comissão pré-capitular

Conforme as línguas utilizadas pelos documentos dos Capítulos inspetoriais, a Comissão se subdividiu em três grupos lingüísticos: o grupo ítalo-francês, que estudou 34 Capítulos inspetoriais; o grupo luso-espanhol, 33; e o grupo inglês, 31. O grupo ítalo-francês se constituía do P. Marek Chrzan, P. Vicente Tirabasso, P. Jean-Noel Charmoille e Sr. Giampietro Pettenon; o grupo luso-espanhol, do P. José Pastor Ramirez, P. Ángel Fernandez Artime e por mim; o grupo inglês, do P. Carlo Socol, P. Ivo Coelho e P. Guilherme Basañes.

O trabalho realizado foi intenso, sério e frutuoso. Alternavam-se tempos de estudo pessoal, encontros dos grupos lingüísticos, momentos de assembléia, que sintetizava os resultados dos grupos, enriquecia ou modificava os elaborados, buscava maiores convergências, levando em conta as diversidades lingüísticas e culturais. Tentamos assim colocar em relevo os elementos fundamentais da riqueza de conteúdos e da variedade das propostas. Segundo a indicação do Reitor-Mor, quisemos afinal oferecer um Instrumento de trabalho fiel e claro nos conteúdos, ágil e simples na linguagem. E sintético.

O clima fraterno, sereno e alegre identificou-nos no viver esta experiência com espírito de serviço e de comunhão. Nos momentos de oração e de estudo nos sentíamos unidos a toda a Congregação que, através das contribuições capitulares, fazia transparecer a riqueza dos irmãos, a vitalidade do trabalho pastoral, a presença em tantas fronteiras do mundo, a força espiritual e carismática, a missão profética em favor dos jovens, num mosaico de culturas, etnias e idiomas.

Os Capítulos inspetoriais facilitaram o trabalho da Comissão porque seguiram a metodologia do discernimento indicada pelo Regulador e pela Comissão Técnica. Fio condutor dos trabalhos foi a carta do Reitor-Mor “Da mihi animas cetera tolle”. Os pedidos da carta, os núcleos indicados e as perspectivas propostas foram as linhas proféticas que guiaram os Capítulos inspetoriais e os trabalhos da Comissão.

OS Capítulos Inspetoriais

Os documentos dos Capítulos inspetoriais estavam enriquecidos por numerosas citações das Constituições, sinal tangível do desejo de dar profundidade espiritual às reflexões e da necessidade de uma volta carismática às nossas raízes. Os artigos da nossa Regra, com que inicia cada núcleo temático do Instrumento, querem ilustrar o tema: esses são os artigos que foram maiormente citados pelas Inspetorias.

Do trabalho dos Capítulos Inspetoriais gostaria de sublinhar os núcleos temáticos, sobre os quais as Inspetorias mostraram um trabalho amplo, articulado e envolvente.

Volta a Dom Bosco. Tal núcleo pôs em evidência a necessidade de conhecer Dom Bosco, de amá-lo mais, estudando o contexto em que viveu, o desenvolvimento da sua mentalidade, as etapas da sua vida. Trata-se de um retorno à sua espiritualidade, à “pedagogia do amor” que o inspirou e à pastoral rica de paixão evangélica que o conduziu. Dom Bosco, pai, mestre e modelo, é o ícone vivo que nos pede repartir dele mesmo, para propor, atualizar e reforçar a identidade carismática. Cada salesiano é chamado a olhar para Cristo com os olhos de Dom Bosco, a pôr-se na sua seqüela com um estilo de vida obediente, pobre e casto, a dedicar-se aos jovens com coração livre e aberto, a evangelizar especialmente os mais pobres. O bicentenário do nascimento de Dom Bosco em 2015 nos oferecerá um tempo oportuno para realizar uma significativa caminhada de preparação. Esta celebração jubilar será um convite a pedir a Dom Bosco que retorne para o meio de nós; e nos pede um empenho por que cada um de nós volte para o meio dos jovens

Urgência de Evangelizar. A evangelização se lhe depara, à Congregação, como um dos grandes desafios do futuro. Coragem e audácia foram os motivos condutores recorrentes com que as Inspetorias entrevêem a proposta evangelizadora para o terceiro milênio. A centralidade de Jesus Cristo na nossa ação pastoral, a promoção de uma formação humana e cristã, a catequese sistemática, o confronto com a Palavra de Deus e a experiência de uma profunda vida espiritual nos permitirão superar a pastoral do só entretenimento e da só promoção social. A educação é chamada a dar uma grande contribuição à evangelização. Tudo isso pede às nossas comunidades que sejam evangelizadas, para serem via de evangelização, com salesianos autênticos, crentes e críveis. Elas deverão dar maior atenção aos contextos regionais.

Necessidade de Convocar. No coração da Congregação palpita o desejo intenso de envolver, de convocar e de propor aos jovens a experiência carismática de Dom Bosco. Sente-se, hoje mais que nunca, o desafio de criar uma cultura vocacional em cada ambiente, de modo que toda a pastoral juvenil possa ser realmente vocacional. No mundo salesiano há uma clara consciência de que não podemos eximir-nos de fazer propostas concretas e explícitas que motivem e orientem os jovens rumo de uma opção pelas vocações apostólicas, sejam elas laicais, presbiterais, consagradas. Dom Bosco compreendeu que perante as numerosas necessidades dos jovens sozinho não daria conta. Por isso apelou para a disponibilidade e a capacidade de numerosas pessoas. Um cuidado especial se pede pelas vocações consagradas salesianas, especialmente pela vocação do salesiano coadjutor.

Pobreza evangélica. Os núcleos concernentes à pobreza evangélica e às novas fronteiras exigiu das Inspetorias fazerem uma radiografia corajosa da nossa maneira de viver e do testemunho que damos, e olharem as fronteiras de empenho pastoral onde trabalhamos como resposta ao grito dos jovens que pedem esperança. Um estilo de vida pessoal simples e austero, a disponibilidade a qualquer missão, trabalho e serviço pelo Reino de Deus, o não se amarrar a uma obra, tornarão crível o nosso testemunho profético. Cada coirmão e comunidade é chamado a superar as contradições e as incoerências que não permitem viver em plenitude o serviço aos jovens sem reservas, superando a concepção da missão ‘part-time’, a sedução do aburguesamento e a indiferença perante o drama mundial da pobreza.

Novas fronteiras. Perante as numerosas situações e as diferentes necessidades dos jovens, Deus nos pede individuar as prioridade da missão salesiana. A ascese do sistema preventivo urge-nos a ir aos jovens mais necessitados e a deslocar-nos para o lugar em que eles se encontram. Emerge em diversas regiões da Congregação que hoje todos os jovens são necessitados, mas que o são sobretudo aqueles em que se acumulam a pobreza material, a afetiva, a espiritual e a cultural. O espírito impele-nos a ouvir as razões do jovem oprimido, imigrado, excluído e marginalizado. Como o bom samaritano somos solicitados a ir aos jovens, não só a esperar por eles. Por isso, não devemos trabalhar somente em nossas obras mas também em rede com outras organizações e agências educativas, em sinergia com a Igreja Local, com o ambiente e com a FS.

Os Capítulos inspetoriais evidenciaram com transparência e realismo a situação das Inspetorias, pondo em relevo pontos fortes, recursos e energias atuantes no âmbito da comunidade; mas não faltou a coragem de evidenciar fraquezas, fragilidades, fechamentos sobre si mesmos, rigidez e omissões que, com freqüência, causam problemas ao vigor do nosso carisma salesiano. Parece-me poder afirmar que coragem e audácia sejam as atitudes mais recorrentes, mediante as quais as Inspetorias podem olhar o futuro com esperança.


Critérios de leitura do Instrumento de trabalho

Para ajudar à compreensão do Instrumento de trabalho, evidencio antes de tudo os conteúdos, que fizeram de fio condutor no estudo dos Capítulos Inspetoriais.

Experiência Espiritual. O lema “Da mihi animas cetera tolle” é a síntese da mística e da ascética salesiana, como se expressa no ‘sonho dos dez diamantes’. Aqui se entrelaçam duas perspectivas complementares: a do semblante visível do salesiano, que manifesta a sua audácia, a sua coragem, a sua fé, a sua esperança, a sua entrega total à missão; a do seu coração escondido de consagrado, cuja nervura se constitui de convicções profundas, que o levam a seguir Jesus Cristo no seu estilo de vida obediente, pobre e casto.

Dom Bosco. É necessário estudá-lo, amá-lo, imitá-lo e invocá-lo (C 21). Devemos conhecê-lo como mestre de vida, em cuja espiritualidade nos abeberamos quais filhos e discípulos; como fundador, que nos aponta o caminho da fidelidade vocacional; como educador, que nos deixou como preciosa herança o Sistema Preventivo; como legislador, enquanto as Constituições, que Ele diretamente e a seguir a história salesiana nos deu, oferecem-nos uma leitura carismática do evangelho e da seqüela de Cristo.

Evangelização e educação. O binômio “educar evangelizando e evangelizar educando” é a síntese do maior dom que possamos dar à sociedade e à Igreja. O encontro dos jovens com o Dom Bosco de hoje, através da pessoa de cada salesiano, fará emergir quanto de melhor há no seu coração” na realidade em que se encontra a sua liberdade” (C 38).

Conversão. Hoje mais que ontem, no coração dos salesianos, nas comunidades e nas Inspetorias, se sente o desejo de responder aos grandes desafios do mundo, às necessidades e ao grito dos jovens. Para superar a indiferença, o relativismo, requer-se uma verdadeira conversão do coração. Deparamo-nos com o desafio de pensar de modo novo e de tornar solidário o nosso tempo. A nossa visão é aquela de uma Igreja comunhão, que fala uma língua nova e orienta com coragem para as novas fronteiras da cultura e da sociedade.

Testemunho. Espera-se pelo nosso Capítulo Geral com a esperança de uma renovada paixão por Deus e pelos jovens, convencidos de que Deus se manifesta através das urgências dos lugares. Será então possível, através de um testemunho de vida pessoal e uma decidida atitude de desprendimento e de liberdade perante os bens materiais e os nossos desejos, colocar tudo a serviço dos outros e viver o “cetera tolle”.

Pentecostes. O convite do Reitor-Mor a olhar o evento do Capítulo Geral 26 como um novo Pentecostes, “deixando-nos guiar pelo Espírito de Deus” a fim de conhecer a vontade de Deus e para um melhor serviço à Igreja, foi sentido pelas Inspetorias como um intenso momento de relançamento que nos permita constituir comunidades evangelizadoras, nos dê a coragem de propor o evangelho e nos ofereça uma “nova língua” para compreender e ser compreendidos pelos jovens de hoje.

Esperança. Também a esperança, como a fé, deriva da escuta. Podemos ser “sal da terra e luz do mundo” se nos alimentarmos da Palavra, que dá uma forma original e única à vida e à esperança. E’ capaz de esperar quem se reconhece amado por Cristo; mas nisto está também a origem da missão do salesiano, movido a ir aos jovens porque alcançado pela graça e surpreendido pela misericórdia de Deus.

Proponho-vos agora alguns elementos de metodologia do Instrumento de trabalho. Nele aparece clara a correlação existente entre os três momentos do discernimento: os elementos do “chamado de Deus” são retomados na avaliação da “situação” e tornam-se referências a que as “linhas de ação” buscam dar resposta.

As “linhas de ação” indicam os objetivos de alcançar, os processos de ativar e as atividades que lhe ajudam a realização. Este passo da metodologia requereu maior atenção, vista a vontade de que o CG26 fosse um Capítulo projetual, não doutrinal. Essas linhas de ação buscam ser a tradução operativa do chamado, em vista da transformação positiva da situação. Sobre elas o Capítulo Geral deverá dedicar maior trabalho.

Interessante resulta nas linhas de ação a parte chamada “questionar-se”. Ela se refere à mentalidade que se deve converter e as estruturas que se devem mudar. Para poder responder ao apelo de Deus na hora presente, enfrentar os desafios e colher as oportunidades, e pôr em ato as linhas de ação, é preciso revirar enfoques e práxis que com freqüência inconscientemente se sotopõem às nossas opções. Esta parte aspira por isso a fomentar a conversão.

Creio, sem presunção, poder afirmar que o documento exprime uma grande fidelidade às contribuições que chegaram dos Capítulos Inspetoriais: fidelidade ao conjunto dos conteúdos, fidelidade ao espírito e ao sentido profundo das palavras e das metáforas, fidelidade aos contextos culturais. Isto foi possível graças à riqueza e diversidade dos componentes da Comissão pré-capitular, procedentes de todas as Regiões da Congregação.

Caríssimos Irmãos,

ao concluir esta panorâmica de reflexões, gostaria de em meu nome pessoal e em nome de todos os membros da Comissão agradecer ao Reitor-Mor por ter-nos pedido prestar este serviço. Esta experiência foi de grande enriquecimento para cada um de nós. Permitiu-nos respirar a plenos pulmões o oxigênio vital de uma Congregação mundial viva e promitente.

Preparamo-nos antecipadamente a viver este “novo Pentecostes” da Congregação, convencidos de que o Espírito paira sobre nós. Tal experiência renovou em nós o desejo de viver a nossa missão no meio dos jovens, estando com eles. Para os jovens abre-se uma grande esperança para o futuro, sabendo que podem contar com salesianos corajosos e audazes que por eles não se pouparão ”até ao último respiro”. E’ a mesma experiência que, faço votos, se possa realizar no Capítulo Geral. Acompanhe-nos neste tempo a mão materna de Nossa Senhora Auxiliadora.

P. Alberto Lorenzelli

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