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AMAZÔNIA: novos caminhos para Igreja e para uma ecologia integral

Por Comissão Inspetorial de Comunicação-CIC

Palestra proferida pelo indígena Tuyuka, P. Justino Sarmento Rezende, durante o Encontro Pan-Amazônico salesiano, realizado em Manaus/AM, entre os dias 1 a 4 de novembro de 2018.

ABRINDO A CONVERSA

Queridos irmãos salesianos e estimadas irmãs salesianas estamos iniciando esse Encontro significativo para nossas vidas e nossa missão na Amazônia. O Sínodo move-nos a buscar novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, juntamente com as comunidades salesianas, comunidades indígenas e dioceses. É a expressão da colegialidade favorecendo a participação de todos dentro de diversas fases do processo sinodal: acolhida à convocação, sentirmo-nos convocados, participando das consultas/escutas e colaborando com as propostas. O Papa Francisco pede que as propostas sejam valentes, com ousadia e sem medo.

CONVOCAÇÃO PARA O SÍNODO

IMG_2853 (Medium)Assim disse o Papa Francisco (15/10/2017): “atendendo o desejo de algumas Conferências Episcopais da América Latina, assim como ouvindo a voz de muitos pastores e fieis de várias partes do mundo, decidi convocar uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica. O Sínodo será em Roma, em outubro de 2019…” O encontro do Papa Francisco com os povos indígenas (PM, 19/01/2018) marca o início do Sínodo. Após o estudo com o Conselho da Secretaria Geral do Sínodo o Papa Francisco divulga (8/03/2018) o tema: AMAZÔNIA novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Na mesma data divulgou os nomes dos membros do Conselho Pré-sinodal.

A partir da convocação segue um longo processo de preparação do Sínodo. O Documento Preparatório foi estudado e aprovado (12-13/04/2018) pelo Conselho Pré-Sinodal, com a participação do Santo Padre. Agora o Documento já está nas comunidades, dioceses, congregações e instituições que realizam suas assembleias, estudando o Documento e escutando o Povo de Deus que expressam suas angústias, desafios e perspectivas. A novidade do Sínodo é pensar a Igreja a partir das bases e acolher as contribuições das bases. Não vem de cima para baixo. A realização do Sínodo está situada numa visão de comunhão, solidariedade eclesial e solicitude de todo o Povo de Deus pela Igreja que vive e peregrina em terra Amazônica.

A REPAM pode ser considerada como o lugar social, teológico e eclesial no Sínodo, pois ela convoca e provoca. A ela foi confiada pensar numa proposta metodológica. A figura do Cardeal Dom Claudio Hummes e demais bispos é marcante nesse Sínodo. Os membros do Conselho Pré-sinodal pertencem às sete Conferências Episcopais dos países Pan-Amazônicos. O Sínodo é uma extensão e complemento da Laudato Sì – Cuidado da Casa Comum (2015). A indicação dos assessores também foi importante, pois foi baseada na formação, conhecimento, vivência da realidade, para dar a conhecer em profundidade todo o complexo panorama da realidade Pan-Amazônica. Outra presença que marca: uma mulher na assessoria e uma no Conselho Pré-Sinodal.

O Sínodo está sendo um acontecimento de extraordinária magnitude com repercussões em nível global para toda a Igreja e para o mundo inteiro. O Sínodo nos provoca aos debates de temas que vão desde a evangelização dos povos até aspectos concernentes à ecologia e a salvaguarda da criação, dada a peculiar situação que esta região ocupa no planeta. O Sínodo trata também das lições de convivência e de cuidado com a criação que os povos amazônicos e indígenas podem ensinar para todo o planeta. Sem dúvida aprender com outros povos, também.

ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO PREPARATÓRIO

O Documento ficou organizado com preâmbulo, as três partes seguindo o método ver, discernir (julgar) e agir. Completa-se com o questionário referente a cada parte. A metodologia sinodal é participativa desde o processo de preparação, celebração, aplicação das orientações sinodais. O Documento contempla aspectos pastorais, teológicos, eclesiológicos e análise da realidade da Igreja e das sociedades Pan-Amazônicas, em comunhão com a realidade eclesial latino-americana e universal. O Sínodo não é somente para os povos amazônicos nem somente para os povos indígenas. O Sínodo trata de problemas de uma região, mas tem alcance universal, para toda a Igreja e para todas as sociedades. Nós salesianos não podemos ficar fora disso!

O Preâmbulo (1-5) mostra que o Sínodo acontecerá em Roma – Outubro de 2019, para afirmar que esse Sínodo não é somente um evento regional, mas é de toda a Igreja católica. O Sínodo deve ser feito para e com o povo de Deus da Amazônia. Ele deve estar atento à biodiversidade, multietnicidade, pluriculturalidade e plurirreligiosidade dos povos amazônicos. O Sínodo deve apontar caminhos para o cuidado do cosmo/mundo.

I – VER – IDENTIDADE E CLAMORES DA PAN-AMAZÔNIA (n. 6-34)

Descreve algumas realidades da região Pan-Amazônica, de pessoas que moram nas pequenas comunidades e centro urbanos. A Igreja quer conhecer a riqueza do bioma, os saberes e a diversidade dos povos da Amazônia; quer conhecer os povos indígenas, suas lutas por uma ecologia integral, seus sonhos e esperanças, suas histórias, memórias, espiritualidades; conhecer a história da Igreja, modos de evangelização e suas mudanças; reconhecer as resistências dos povos amazônicos à colonização e aos projetos desenvolvimentistas pautados na exploração desmedida, na destruição da floresta e dos recursos naturais; conviver com a Amazônia e com o modo de ser de seus povos, com seus recursos de uso coletivo compartilhados; defender a Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes projetos econômicos desenvolvimentistas; ver a identidade e os clamores do Povo de Deus, especialmente dos povos Indígenas; ver a biodiversidade do territorio e defender a região com as suas florestas, águas e povos; ver e conhecer melhor a caracterização da diversidade sociocultural, política e econômica da Amazônia; conhecer os povos Indígenas com sua Identidade, processos históricos e as ameaças atuais; ver a atual situação sociodemográfica e seus principais desafios em toda Pan-Amazônia; ver e revisitar a memória histórica e eclesial dos Povos da Pan-Amazônia; ver para reafirmar a Justiça e os direitos dos povos; ver a espiritualidade e sabedoria dos povos dessa imensa região.

II – DISCERNIR – PARA UMA CONVERSÃO PASTORAL E ECOLÓGICA (35-64)

Expressa a necessidade de compreender, valorizar, agradecer, defender as realidades apresentadas na primeira parte, à luz da Palavra de Deus, do magistério da Igreja universal, do magistério da Igreja Latino-americana e dos conhecimentos, saberes e sabedorias dos povos amazônicos e dos povos indígenas. O Sínodo quer discernir para Anunciar o Evangelho de Jesus na Amazônia, observando as seguintes dimensões: dimensão bíblico-catequética; dimensão social; dimensão ecológica; dimensão sacramental; dimensão eclesial-missionária. É uma parte do documento muito importante, iluminada pela Palavra de Deus e pelo magistério eclesial nos provoca a sermos mais comprometidos com a vida humana e com o cuidado da ecologia, pois uma depende da outra.

III – AGIR – NOVOS CAMINHOS PARA UMA IGREJA COM ROSTO AMAZÔNICO (65-90)

IMG_2866 (Medium)Aqui estão presentes os desafios lançados para que os povos amazônicos, indígenas, leigos e leigas, jovens, missionários e missionárias, sacerdotes e bispos vislumbrem, sonhem, apresentem propostas, visibilizem a importância dos povos amazônicos, de suas comunidades cristãs locais que tem um alcance universal. Mostrem o que significa ser uma Igreja com rosto amazônico: nas pastorais, catequese, evangelização, celebrações, sacramentos, formações… Diz o Papa Francisco: os novos caminhos exigem que a Igreja na Amazônia faça propostas “valentes”, que devam ter “ousadia” e “não ter medo”. O Sínodo nos convida para a construção de novos caminhos: uma Igreja com rosto amazônico; dimensão profética; ministérios com rostos amazônicos; novos caminhos. Todos os temas são importantes, mas o que mais preocupa ao Papa Francisco é a questão de acesso à eucaristia (missa) e isso nos faz pensar sobre os Ministérios ordenados (sacerdócio).

QUESTIONÁRIO

O Questionário contido no Documento Preparatório serve para consulta às bases, para orientar as Assembleias sinodais. Os encontros são realizados entre os diferentes estratos sociais, assembleias, peregrinações. Não há necessidade de responder todas as perguntas. Podem ser criadas outras perguntas relevantes para ajudar o Sínodo.

AUSÊNCIAS

O leitor atento logo descobre que o Documento Preparatório não trata de diversas questões, temas, problemas, desafios, avanços, retrocessos e ações boas que existem na região Pan-Amazônica. Vocês meus irmãos salesianos e irmãs salesianas com o olhar salesiano devem ter percebido que está ausente o tema da juventude e outros temas. No Conselho Pré-Sinodal (12-13/04/2018) foi orientado que o documento fosse pequeno, sem a pretensão de trabalhar todos os temas, mas devia ser um instrumento provocador para que os povos da Amazônia pudessem participar propondo temas importantes referentes aos povos amazônicos e povos indígenas.

ATITUDES PRESENTES NO DOCUMENTO PREPARATÓRIO

É importante entender os temas do Sínodo em profundidade e perceber atitudes presentes: posição firme frente aos “novos colonialismos“; sermos insistentes na defesa da justiça e dos direitos humanos; reconhecer os valores culturais dos Povos Indígenas, valorização da sua identidade, ver a resistência ao modo de vida capitalista com a proposta do Bem Viver (Papa Francisco expressa como: Futuro Sereno para evitar a apropriação política da temática). A conversão pastoral e ecológica é o eixo central do documento; o documento insiste no exercício da escuta recíproca: escutar os clamores dos povos da Amazônia; ouvir as comunidades privadas da eucaristia dominical; sentir na pele a dificuldade de elaborar uma proposta de uma Igreja com rosto Amazônico; manter-se numa abertura para dialogar com a diversidade de espiritualidades das grandes tradições religiosas e culturais; o documento faz apelo para a convivência com a Amazônia à luz da Laudato Sì, construindo uma convivência na Casa Comum.

PALAVRAS-CHAVE

O Documento Preparatório contém palavras importantes que nos ajudam a entender a importância da região Amazõnica em questão eclesial, social e a ecologia, uma está interligada à outra. Cada palavra nos abre para outras situações profundas, elas não são somente palavras: América Latina, Amazônia, Bacia Amazônica, Casa Comum, Diversidade, Fronteiras; Ameaça, Política, Conflitos socioambientais, Violência no campo, Destruição, Grandes projetos, Etnocídio, Genocídio, Tráfico de pessoas, Contrabando de migrantes, Deslocamento compulsório, Contaminação, Feridas, Clamores; Colonização, “novos colonialismos”, Desenvolvimento, Economia da borracha, Floresta, Progresso, Migrações, Riqueza, Pobreza, Miséria; Justiça, Libertação, Coletividade, Comunidade, Participação, Partilha, Simplicidade, Novos paradigmas, novos caminhos, Transformação, Verdade, Rupturas; Terra Sem males, Bem-viver, Sobriedade feliz, Futuro sereno; Ecologia integral, Encontro, Escuta; Caminho Sinodal, Conversão ecológica, Igreja, Igreja a caminho, Igreja em saída, Igreja que sonhamos, Igreja Samaritana; História, História missionária, Memória, Ministérios, Missionários (as), Povo de Deus, Povos Indígenas, Rosto Amazônico, Rosto Indígena.

FECHANDO A CONVERSA

Caros irmãos salesianos, irmãs salesianas o Sínodo da Amazônia é um evento da Igreja Católica, porém, seus resultados ultrapassam a instância eclesial. Todos os povos da Amazônia e do mundo são prejudicados quando as florestas, as águas, o ar, as culturas são destruídas. Os trabalhos do Sínodo atingem diversos setores das sociedades nacionais e internacionais. Eu digo para vocês que estão acontecendo centenas de assembleias (escutas) nesse momento e surgem centenas de contribuições. A partir do próximo ano acontecerão diversos eventos nas universidades em Roma, Estados Unidos e em outros países, foram pensados para a visibilização da importância da Amazônia para a vida do mundo. Por isso, muitas pessoas não gostarão dos trabalhos do Sínodo, pois vão em contramão dos interesses de grandes empresas que querem explorar a Amazônia. Por isso, dizemos que o Sínodo é um evento político-ético por defender a vida humana e a ecologia.

Nós salesianos e salesianas temos esse momento importante para a retomada de nossas histórias, refletir e decidir escrever novas histórias. Temos que dar atenção para algumas situações que escampam em nossos espaços educativos, evangelização, catequese, formação das lideranças comunitárias, lideranças políticas, gestores sociais; dar atenção para a formação de religiosos/religiosas, ministérios ordenados junto aos povos amazônicos e povos indígenas para que a Igreja e a Congregação Salesiana ganhe um rosto amazônico e rosto indígena. Por outra parte, o tema do Sínodo precisa transitar em nossas escolas, Obras Sociais, Faculdades e Universidades. Nós temos condições de contribuir muito, pois nós atendemos muitos destinatários. Nesse momento eu estou apostando que nós temos que ajudar muito mesmo, nós somos aliados, irmãos e irmãs dos povos amazônicos e os povos indígenas. Sejamos amigos, amigas deles, escutemos o que eles têm para nos dizer! Reassumamos as palavras do Papa Francisco (PM, 19/01/2018): “confio na capacidade de resistência dos povos e na vossa capacidade de reação perante os momentos difíceis que vos toca a viver. Assim o tendes demonstrado nas diferentes batalhas da história, com as vossas contribuições, com a vossa visão diferenciada das relações humanas, com o meio ambiente e com a vivência da fé”.

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