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Alguns aspectos da Teologia da arte em Dom Bosco

Que Dom Bosco (1815-1888) tinha bom gosto podemos comprovar por seus escritos e obras que construiu. Ele sabia escolher os amigos e também o que lhe agradava. Aqui não quero aprofundar este lado da relação interpessoal em Dom Bosco, mas seu bom gosto para a arte, sobretudo, como expressão da fé. O recente Congresso teológico que participei em São Paulo de 24 a 26/09 motivou-me para escrever este breve artigo, pois o tema O sagrado nas artes: a experiência de Deus na história humana suscita alguns questionamentos. Fica de fora desta analise a questão literária, rica em Dom Bosco, mas impossível de estudo neste momento.


As primeiras experiências de fé em Dom Bosco começaram na sua infância no colo de sua mãe contemplando a natureza. Ela falava do Deus que tudo providenciava e ao qual devemos obediência. Era o Deus que via tudo, que não deixava seus filhos abandonados. Que fala com todos seus filhos. O Deus de Abraão, Isaac, Jacó. Um Deus quase materializado na literatura, nas artes, na cultura cristã camponesa da época. Esta imagem de Deus João vai levar consigo toda a vida, inclusive na arquitetura religiosa que ele mesmo ajudou a construir.


A teologia que Dom Bosco estudou no seminário de Chieri entre os anos 1837 a 1841 foi marcada pelo rigorismo e pelo jansenismo. É muito forte a imagem de Deus juiz que julga com severidade o pecador. Ao mesmo tempo é oferecida a idéia de salvação numa vida de piedade e de obediência a Deus. Neste sentido a imagem de Deus que passa é de grandeza, severidade e majestade. Dom Bosco realiza uma síntese de todos esses elementos na ação pastoral e nos belos ornamentos das capelas que ele edificou para acolher os jovens.


Entre os nove e dez anos (1825) ele teve um sonho que vai marcou toda a sua vida. Naquele sonho a imagem de Deus que João descreve é de um SENHOR MAJESTOSO. O SENHOR era muito comum na época porque sempre se apresentava a pessoa de Deus como adulto, nobre e diferente do homem camponês. Era um tipo de imagem que atraia pelo contraste com a dureza do homem do campo, tanto é assim que Joãozinho fica marcado com esta imagem imponente de Deus. O adjetivo MAJESTOSO era também muito comum na devoção popular do Piemonte e da Europa em geral desde o período medieval onde predominava o catolicismo. Deus é majestoso, quer dizer, elegante, nobre, rei, quase inacessível. No seminário a experiência com pinturas clássicas de santos despertarão nele a devoção e um ritmo de contato com o divino de forma mais prazerosa, por isso nossa espiritualidade é alegre, otimista e esperançosa. Ele passava horas na capela do seminário contemplando o quadro de santos como São Francisco de Sales, São Vicente, o belíssimo quadro da Consolata, padroeira de Turim, absorvido em oração. É uma arte que expressa a ação de Deus naqueles santos e ao mesmo tempo inspiram em João o desejo da santidade.

A forma como toda esta riqueza artística teológica aparece na vida de Dom Bosco começa no oratório de Valdocco. Ali, no meio dos meninos e procurando passar para eles valores cristãos, DB começa construindo ambientes de acolhida e oração. O primeiro foi a capela Pinardi, pequena, teto baixo, que reuniu os primeiros oratorianos. Ali começa uma experiência de Deus nova na vida daqueles meninos abandonados. A capela era uma casa de acolhida, nela todos podiam entrar, sentar no chão, na janela, onde fosse possível; o importante era poder olhar para o sacrário onde estava Jesus, o salvador, e a lado a pequena imagem da virgem Imaculada que Dom Bosco mesmo mandara talhar. Eram expressões vivas de uma religiosidade que falava por si; o segundo foi a construção de uma Igreja maior, a igreja de São Francisco de Sales. Bela, simples e cheia de significado. Nela Dom Bosco mandou colocar o quadro de São Francisco de Sales. As formas delicadas do santo davam a entender aos meninos e aos salesianos o perfil de salesiano que se deveria ser: bondosos, serenos e amigos. Ainda hoje a igreja inspira o desejo de permanecer ali em contemplação diante daquelas pinturas que falam de Deus no interior de nossas vidas; o terceiro foi a Basílica de Maria Auxiliadora. Nela está presente o sentido mais profundo da arte religiosa que animava a vida de DB. A Basílica é a expressão da transcendência, da auto-superação de tudo que é humano, como se o céu tivesse tocado na terra. A idéia primeira de DB era colocar no quadro toda a corte celeste, mas ficou impossível, então, o quadro se tornou um ícone da compreensão que ele tinha do SENHOR MAJESTOSO.

Em primeiro lugar podemos destacar que toda a decoração da basílica está voltada para o quadro da Auxiliadora. Parece que tudo se volta para ela, a rainha do céu. Na realidade é isto mesmo. Maria é a majestosa rainha no centro do quadro, de pé e descalça, ornada com as jóias de Deus: o cetro, a coroa, o Filho Jesus os braços, os anjos, os apóstolos, os profetas, a Trindade, a Igreja inteira. É como se o imaginário religioso não conseguisse abranger tudo, porque somente Deus o Senhor Majestoso pode. Em segundo lugar o quadro é o ícone do Senhor Majestoso da mentalidade religiosa e espiritual de Dom Bosco. Ele, o quadro, é a expressão da sua concepção de Deus. Parece que Dom Bosco queria nos dizer que Deus é o todo que abraça aquele quadro dando sentido a sua missão.

Outro elemento importante da estética religiosa como transmissão da fé na ação de Dom Bosco são os elementos que norteiam seus sonhos: animais, colunas, navios, papas, bosques, indígenas, mártires, etc. Aos poucos esses símbolos e as belas pinturas que foram feitas dão vida a nossas igrejas e expressam um conteúdo catequético de grande impacto na espiritualidade salesiana. Por exemplo: o sonho das duas colunas tido numa noite de 1862 e narrado aos meninos e salesianos em 30 de maio do mesmo ano, é uma obra de arte da fé de Dom Bosco. Ele contempla da terra firme uma batalha no mar bravio. Um navio muito grande navega em meio a protestos de pequenos navios armados de canhões. No meio dos tiros o papa cai morto e outro papa aparece. É um momento muito difícil da Igreja (grande nave). As pequenas são naves de protestantes e outros perseguidores da Igreja. Surgem no meio do mar duas colunas com correntes que se fixam na grande nave para salva-la dos ataques. Uma coluna traz a imagem da virgem Maria com um cartaz que diz Maria Auxiliadora; em outra coluna mais forte e alta aparece bem no alto uma grande hóstia com os dizeres salvação dos cristãos. Temos a pintura deste sonho em Turim. É magnífica. Na pintura podemos contemplar a confiança de Dom Bosco na ação de Deus nos rumos da Igreja. A arte expressa a fé, o interior de um religioso que sintoniza com o difícil momento eclesial daquela metade do século dezenove.

Voltando ao quadro gostaria ainda de dizer que a bela forma como Dom Bosco manda pintar a imagem de Maria e sua presença no alto da Basílica representa algo mais. Para ele crê não é apenas algo racional, mas sentimento, afeto, amor. Dom Bosco ama tanto o Senhor Majestoso que não se contenta apenas em ornar a Basílica por dentro, mas continua fora com o mesmo esplendor quase dizendo que tudo fala de Deus e que aquela beleza nos leva ao céu e o céu desce na terra. Olhando a basílica de fora podemos imaginar o céu que transcende em beleza. Em tudo está a majestade de Deus que nos cria salvando.



Também com o mesmo requinte e beleza ele constrói a pedido de Leão XIII a Basílica do Sagrado Coração em Roma com o estilo clássico como se fosse uma continuidade da Basílica Maria Auxiliadora dando ênfase ao Coração do Senhor Majestoso que se une ao coração da mãe. No fundo é uma arte que expressa e envolve o sentido profundo do amor que salva, um coração que ama, porque na religiosidade da época o coração é que pensa, ama e se reconcilia com Deus (Cf. Pietro Stella, Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, vol. 2, p.38).


Dom Bosco foi assim um evangelizador também através da beleza. Ele mesmo dizia com respeito a ornamentação das capelas: “Para Deus tudo do melhor”, quer dizer, o luxo, o belo, o bom gosto não podia ser economizado nestes ambientes porque eles falam da beleza de Deus. Podemos dizer que a estética na teologia da arte é vinculação da graça de Deus, o amor; o feio, sobretudo, na arte sacra é o pecado.



Algumas questões:



1. O que a teologia da arte pode revelar de Deus no atual contexto do Brasil?
2. O que seria mais difícil mudar a moldura ou a pintura em relação ao ser religioso/a, padre, teólogo?



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