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A Vivencia cristã como lugar do encontro com Deus: inquietações vocacionais

O Ato de fé não é estático, mas dinâmico. Crê em algo é importante, mas é preciso passar do genérico para o opcional. No caso da crença cristã, cremos num único Deus que quis se revelar ao longo da história (Heb 1,1-4), assumindo formas diversas de comunicação até chegar a se fazer presente na história humana assumindo com carne e osso nossa humanidade (Jo 1,1ss). Ele amou com coração humano, aprendeu a trabalhar com mãos humanas e assumiu nossas dores (GS 22). Contudo nosso ato de fé começa exatamente como Dom, presente gratuito de Deus. Começa também aqui o desenrolar do processo de conscientização do ato de fé.


Ora, pensando nas novas gerações de jovens chamados à vida religiosa e ao ministério presbiteral, sinto-me no dever de colocar no papel o que venho amadurecendo a respeito. No mesmo dinamismo que vemos uma onda tímida, mas crescente de jovens pedindo para serem admitidos na vida religiosa, vemos também o recolher das ondas que levam muitos deles para fora da vida religiosa e do ministério presbiteral. A fragilidade das vocações na atual conjuntura eclesial e do mundo está deixando perplexa a Igreja e muitos Institutos religiosos que não conseguem se mover por falta de pessoal. De certa forma a vida religiosa corre o risco de estagnar nas estruturas sem ter fôlego para respirar outros ares.


Aponto alguns elementos desta fragilidade vocacional sem querer fechar o circulo de debates procurando sempre encontrar saídas, pois o Senhor continua fazendo maravilhas mesmo com nossas deficiências em ler os sinais dos tempos.



1. Á carência de uma vivencia comunitária iniciática: é notório na história pessoal dos jovens em nossas casas de formação a falta de referencia a uma comunidade cristã na qual ele começou a experimentar o ato de fé. Sendo Dom, a fé começa a se desenvolver dentro de uma experiência de ritos, sacramentais e sacramentos, ambiente juvenil, diálogo com o mundo dos adultos, catequese. Ora esta gama de experiências é como gotas de água caindo no grão que vai desabrochando até se tornar árvore e dar frutos. Muitos de nossos jovens pulam esta fase da vida. São carentes de uma comunidade onde a religiosidade fomenta a fé, educa na leitura da Palavra de Deus, no amor a Igreja, no trabalho em grupo e na escuta dos apelos de Deus, dando-lhe assim consistência humano-religiosa.



2. A entrada numa casa religiosa: sem a vivência da fé no ambiente popular os jovens chegam a nossas casas com um despreparo grande para viver com homens e mulheres que já fizeram uma opção de vida supondo a vivência cristã. Os religiosos e religiosas formam uma comunidade aquecida pelo fogo do carisma fundacional. Ora, um jovem que entra a fazer parte desta estrutura fraterna vai pular a fase da fé celebrada nos sacramentais e sacramentos para um ato de fé maduro, de pessoas que organizam a vida não mais na diversidade da religiosidade popular, mas do carisma. É uma pena esta dura realidade. É verdade que os jovens recebem o testemunho destes religiosos, contudo é um adentrar-se fora de hora num contexto de pessoas maduras sem passar pelo diálogo construtivo. Sim, porque a vida fraterna em comunidade, começa a ser exercitada a partir do noviciado. Não se improvisa uma vivência comunitária. O que acontece normalmente? Os jovens entram numa casa religiosa e se encontram com um grupo de pessoas de variadas culturas e sensibilidades, isto se reproduz também na alimentação, na forma de rezar e nos valores. Ora, um jovem que pulou fases vai sentir um choque tremendo, depois passa por um período de adaptação e identificação com a proposta, por fim se encanta com o projeto que ele vê pela primeira vez, sem nenhuma outra experiência que ajude a avaliar e amadurecer. Eles se tornam uma espécie de religiosos sem passar pelo processo formativo inicial. Perdem o precioso e gradual processo iniciático à vida religiosa.



3. O desconhecimento da vida religiosa: hoje a nossa juventude, mesmo aquela que freqüenta nossas paróquias e ambientes educativos, não sabem mais o que significa a vida religiosa. Eles conhecem as estruturas, mas desconhecem o significado dos homens e mulheres que ali vivem. Eles são amigos dos religiosos, mas não sabem o que eles são. A cultura religiosa perdeu o significado simbólico dos religiosos. Os sinais visíveis do ser religioso como pessoa consagrada num estilo de vida em contato com as pessoas está encolhendo. Cada vez mais estamos ausentes dos grandes momentos de visibilidade. Não temos e não somos sinais. O mundo da tecnologia é feito de símbolos visíveis que geram redes de comunicação com linguagens próprias. Dominar a linguagem é compreender a comunicação. Quais são nossos símbolos de comunicação?



4. Tudo tem seu tempo e sua hora: os jovens que chegam na vida religiosa e postulam o significado de nossas vidas, daí vem a palavra postulante, precisam de tempo para interpretar os sinais que encontram. Não adianta querer propor tudo. Não podemos cair na tentação de acelerar os processos. Cada tempo deve ser vivido com intensidade de intenções e iniciativas. O aspirante à vida religiosa precisa aprender a saborear pelo cheiro e não pelo consumo. É observando, tendo contato com os religiosos, sendo discípulo, vivendo no grupo de coetâneos, alimentando-se dos sacramentos, participando da vida da comunidade cristã e descobrindo os sinais do ser religioso é que o jovem irá descobrir o apelo de Deus na sua história. Não se pode amar o que não se conhece. Eis o problema que aflige tantos jovens que deixam a vida religiosa de repente. Eles não a amam. Não tiveram tempo de aprender a amar o desconhecido. Para muitos a vida religiosa é uma alternativa de vida, mas não a vida como significado. Por isso cada hora, fases formativas, deve ser vivida cavando em si a identificação com o projeto. É preciso cuidar do broto, enxertar nele a identidade, porque a árvore depois de grande segue seu rumo independente do desejo do dono. Cada fase da formação é como a poda que permite à seiva chegar até o final dos ramos permitindo assim que a formação toque a pessoa em profundidade.



5. Educar para a liberdade: muitos jovens são afetivamente carentes porque a família faltou como lugar de afeto e sexualidade. Às vezes eles encontram na vida religiosa pessoas que assumem a paternidade e a maternidade até inconscientemente. Este tipo de apadrinhamento é danoso. Pegos pelo afeto os jovens se sentem prisioneiros destes religiosos. Recebem presentes, privilégios, tratamento vip e perdem a liberdade. Ficam tão escravos que não sabem mais optar, e se tornam apáticos, desmotivados e afetivamente ligados a uma amizade que eles têm medo de decepcionar. Faz-se urgente inverter esta situação porque ela é uma das causas da fragilidade vocacional. Pode até ser minúscula dentro das estruturas, mas ela é daninha. Quem não sabe ser livre nunca poderá ser responsável por seus atos, pois estará sempre ligado a um tu que o escraviza. As novas gerações precisam gozar de liberdade co-responsável para agir com significado caso contrário não terão força para vencer as incongruências da vida.



6. A carência econômica: o tema é muito delicado, mas deve ser enfrentado. Não quero fazer juízos sobre os comportamentos, contudo é necessário ler os sinais. A maioria dos jovens que batem na porta das casas religiosas são de origem pobre; alguns vêem da exclusão social, até a fome passaram na infância. Os “filhos da pobreza” sofrem carências de alimento, de estudo, de auto-estima, de oportunidades. A vida religiosa, mesmo os Institutos que têm poucos recursos, oferecem segurança, bem-estar, estudo, oportunidades, viagens, fraternidade, disciplina. Ora, para alguns jovens esta é uma boa chance de vida com dignidade; a questão que se coloca é a seguinte: como fica o chamado de Deus, Dom e Mistério? O jovem pode permanecer na vida religiosa não por uma motivação interior, mas externa, fundada nos bens que o Instituto pode lhe oferecer. Isto é danoso seja para a pessoa quanto para a própria vida religiosa. Avaliando o processo vocacional, que necessariamente deveria ser personalizado, não podemos descuidar esta sofrida realidade.



7. Dons de natureza e graça: a vocação é sempre um mistério. É a Trindade quem chama. A iniciativa é toda do Pai. O mestre é Jesus. O Espírito consagra e envia. Nesta ciranda de Deus o jovem chamado de forma exclusiva para o Senhor precisa entender que dizer sim significa abraçar o projeto do Reino. Isto quer dizer deixar-se guiar pelo Senhor! A resposta vocacional não é uma exclusão do meio do povo, mas um ser para o povo a partir de um carisma específico. Deus dá a quem ele chama os dons de natureza necessários para o serviço. A pessoa que responde com generosidade deve investir nestes dons fazendo-os desabrochar um após o outro. A fidelidade será dinâmica, nova a cada fase da vida.



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