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A síntese Dom Bosco e Dom Rua

Neste centenário da morte de Dom Rua fomos convidados a descobrir sua personalidade e seu espírito religioso. O grande desconhecido vai sendo pouco a pouco apresentado nos seus grandes traços: origem familiar, formação acadêmica, caráter, seguimento de Dom Bosco, trabalhos desenvolvidos na Sociedade Salesiana, superior geral. Um cenário riquíssimo. Começamos com a carta que Pascual Chávez nos escreveu em 2009, “Sucessor de Dom Bosco: filho, discípulo, apostolo. A figura humana e espiritual do Beato Miguel Rua”. Depois chegou o livro do padre Francis Desramaut em 2010. Uma obra que além de sintetizar escritos posteriores abriu horizontes novos para compreender Dom Rua. Uma perola a ser descoberta e valorizada nos estudos de salesianidade e na devoção popular ao 1o. Sucessor de Dom Bosco, sobretudo entre os salesianos cooperadores que tiveram durante o seu reitorado grande desenvolvimento.

Segundo o próprio Desramaut, ainda temos muito que estudar sobre Dom Rua a partir de seus cadernos de estudos de teologia e sua atividade literária, simples, porém, de grande espiritualidade e trato. Certamente virá à superfície questões ainda não entendidas sobre sua personalidade. Entretanto, algo me chamou a atenção na leitura do livro do padre Desramaut, quando ele diz que o bom salesiano ou o bom superior deveria realizar a síntese entre a amabilidade de Dom Bosco e a rigidez de Dom Rua. Ambos realmente se complementaram.

Agora entendo melhor o pensamento que Dom Bosco dirigiu a Dom Rua quando este foi eleito diretor do pequeno aspirantado de Mirabello: “Procura fazer-te amar mais que fazer-te temer”. Uma frase que se perdeu do contexto e entrou na tradição salesiana como um conselho pio e sem berço. De fato, Dom Bosco conhecia bem o padre Rua. O seu grande amigo e primeiro salesiano era um homem obediente, disciplinado, culto, fiel, mas rígido, disciplinador e se fazia temer quando aparecia. Ele cresceu num ambiente familiar disciplinado, estudou com os irmãos de La Salle numa rígida disciplina, formou assim um caráter forte, vibrante, disciplinado, alegre e ao mesmo tempo recolhido, dinâmico e observador dos mínimos detalhes. Era um fiscal nato podemos assim dizer.

Fiquei surpreso ao saber que Dom Rua foi o primeiro típico inspetor salesiano. Realizava exatamente o que Dom Bosco, desde sua paternidade, não conseguia, ou seja, vigiar, disciplinar os salesianos, formar as novas gerações no espírito do fundador, mantinha viva a chama das origens e a vida pobre, simples, de trabalho e oração. Ali nasceu o modelo do inspetor que Dom Bosco aos poucos traduziu para as Constituições. Dom Rua como inspetor visitava as casas, observava tudo, até a sujeira das escadas, as camas desarrumadas, os quartos dos salesianos, etc. Suas visitas eram temidas. Ele passava um pente fino na casa toda. Deixava observações objetivas a serem cumpridas e quando voltava no ano seguinte as cobrava. Sabia também elogiar os progressos. Era um vigilante do espírito salesiano.

Desramaut descreve as visitas do inspetor Dom Rua a algumas casas salesianas e nelas vemos a sua personalidade de inspetor – fiscal. Tinha diante de si todos os dados sobre a casa. É possível imaginar como os irmãos se preparavam para estas inspeções. Hoje ficaríamos apavorados se um inspetor chegasse com esta determinação. Imagino o inspetor entrando nos quartos dos salesianos para ver como está arrumado, quais objetos ali são contra a pobreza evangélica. Seria uma devassa. Quando estas informações da história salesiana aparecem à luz do dia é possível rever nosso retorno a Dom Bosco de uma forma mais concreta e radical. Não teríamos chão para viver tal visita inspetorial, pelo menos a maioria de nós seriamos reprovados. Retornar a Dom Bosco no espírito de Dom Rua é um tema a ser ainda estudado à luz de Dom Rua.

Para Dom Rua o espírito salesiano começa no quarto e chega ao pátio. Ele mesmo mantinha uma habitação simples e prática. Depois da morte de Dom Bosco não ostentou nenhum luxo. Simplesmente montou um pequeno escritório ao lado do quarto de Dom Bosco para não perder a proximidade do pai e fundador. Do pequeno escritório observava o pátio e os jovens, mas também descia para confessa-los, rezava com eles, atendia a todos.

Isto se contrapõe a nossa ausência do pátio. Resultado, talvez, da nossa cela abastecida. Dom Rua não queria sequer que os salesianos estudassem nos quartos. No espírito das origens o pátio é o nosso lugar de vivência com os jovens. Retornar a Dom Bosco é muito mais que uma longa lista de propósitos e reuniões. Trata-se de uma vida simples a serviço permanente aos jovens. Isto Dom Rua insistia e fazia as novas gerações viverem de forma radical. Ele aprendeu com Dom Bosco.
Também passei a entender melhor o que significa a expressão “Dom Rua é a Regra viva”. As novas gerações não precisavam estudar as Constituições para entender o espírito do fundador, bastava observar como vivia Dom Rua. Ali estava o espírito encarnado na alegria e no recolhimento, na acolhida e na disciplina, na criatividade e na discrição, na confiança e nas chamadas de atenção, no espírito de oração e na partilha, no amor a Dom Bosco e na praticidade da vida, na observância dos conselhos evangélicos e na serenidade de uma vida entregue aos jovens. De fato, o padre Rua internalizou o espírito salesiano. Mais tarde, quando assumiu o governo da Congregação, não apenas garantiu o que já existia, mas empreendeu novas fundações, trabalhou pelas vocações, investiu na Família Salesiana, convocou e renovou o modo de ser salesiano. Foi um gigante!

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