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A proposta vocacional nos rumos de Aparecida.

A mudança de época ajuda a compreender que existem novas formas de propor o projeto de conhecimento e seguimento de Jesus. Discípulo e missionário, definem este seguimento; contudo, pode parecer um modismo o uso desses termos, visto que usávamos muito antes de Aparecida em contextos diversos. Hoje, esta terminologia ganha novo significado, sobretudo, para aqueles que sentem algo que não é possível definir em palavras, que nós chamados de vocação, na intenção deste artigo, vocação especifica. Existe um chamado, arrisco a dizer, exclusivo, da parte de Deus a uma pessoa. Por que é assim eu não sei, mas aí estão eles e elas dando resposta generosa a partir deste apelo interior que nasce independente da vontade. Simplesmente um belo dia começa a surgir uma dúvida, misturada com uma dose de angústia, alegria e ansiedade, que não sabemos descrever, é um Mistério.

De repente algo nos seduz e envolve como se fosse outra pele, fazendo desaparecer os limites de nossos sonhos e projetos imediatos. Quando Deus bate na porta de nossa mente, vontade e desejos, tudo se transforma e ganha novo significado. É um sentimento que inquieta porque muda os rumos de tudo aquilo que parece normal: curtir a vida com alguém, amar e ser amado, ganhar dinheiro com uma boa profissão, sair do anonimato social e ser feliz. Mas o chamado de Deus coloca tudo isto de cabeça para baixo e transforma em relativo o que antes era absoluto.

Diante disto a proposta vocacional precisa de um projeto especifico, com metas e propostas atraentes. A pessoa que sente dentro de si este apelo não pode conceber a resposta como uma renuncia à vida plena, mas como doação total de si para ser um sinal do Senhor que ama, salva e reconcilia o mundo com o Pai.

O Documento de Aparecida nos oferece um caminho de formação para o discípulo que deseja compreender os sinais do chamado. Trata-se de um processo iniciático que ajudará o agente e, sobretudo, o destinatário a discernir os motivos interiores do chamado do Senhor.

Em nossos tempos faz-se urgente proporcionar aos jovens em discernimento um método concreto de formação que dê resultado a médio, curto e longo prazo. É importante que o jovem que segue o processo assuma o discipulado e chegue na casa de formação com uma experiência cristã concreta e válida. A casa de formação não pode ser o lugar iniciático da formação cristã, mas a continuidade e desenvolvimento da mesma com a proposta de vida religiosa. Passo, então, a descreve-lo como ajuda a todos aqueles que se dedicam em suscitar, acompanhar, discernir e cultivar, o Dom de Deus presente na vida de um cristão que chamado precisar saber responder.

1. Encontro com Jesus Cristo: Como diz o Documento de Aparecida (DA) “é preciso descobrir o sentido mais profundo da busca de Jesus Cristo” (278 a). No processo iniciático da proposta vocacional, verdadeira catequese, o significado da pessoa de Jesus Cristo na vida da pessoa deve ser muito clara. O que Jesus acrescenta? Por que ele é importante na minha vida? O iniciante deve responder a essas perguntas. A resposta não pode ser apenas racional, mas contato real “com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva […] de modo que fiquem fascinados” (DA, 243-244). A questão nos lembra o texto bíblico de Mateus 19,16-22 quando um jovem “ansioso” busca Jesus com uma pergunta para ele fundamental: “O que fazer para alcançar a vida eterna?”. No fundo a pergunta tem uma grande carga de presente, como disse Bento XVI aos jovens no Pacaembu, trata-se da busca do sentido da vida, o que fazer para que a vida tenha sentido? Uma vida inútil e anônima é a morte prematura de um jovem. Este encontro com Jesus a partir do querigma é fundamental. Sem isto não existe consciência vocacional e entrega exclusiva sem reservas e medos. Onde o jovem encontra Jesus? O próprio documento de Aparecida nos responde: “ na Igreja católica, nas Sagradas Escrituras, na Sagrada Liturgia, no Sacramento da Reconciliação, numa comunidade viva de amor e fraternidade, nos pobres, aflitos, enfermos, na piedade popular” (DA, 246-258ss). Este encontro com o Senhor trará aos jovens o sentimento de acolhida, de serem amados e a grande possibilidade de se realizarem.

2. A conversão: O encontro real com Jesus Cristo deveria nos tornar “livres e responsáveis”, dizia Bento XVI aos jovens em São Paulo. Uma liberdade que brota da acolhida de Jesus no dialogo fraterno e suscita a metanoia, a partir de dentro, rasgando a interioridade para que nasça o homem novo transfigurado em Jesus Cristo. Sem isto fica difícil seguir Jesus com generosidade e entrega radical como pede, sobretudo, a vida religiosa. A conversão é a queda da cavalgadura, com a cara no pó da terra e a cegueira, as trevas interiores, assim como experimentou Paulo. Aqui, então, é fundamental resgatar o valor do Batismo (DA, 278 b). O batismo torna-se ícone de Ananias (Atos 9,17) que nos faz recuperar a visão interior para ver a realidade a partir de Deus. Se o jovem não passar por este processo de voltar a ver não terá forças para seguir Jesus que chama. Não saberá esperar, não será humilde o suficiente para servir aos mais pobres, nunca responderá com generosidade porque a soberba, a ganância e a ansiosa busca de poder serão mais fortes. Minha proposta é redescobrir com os jovens os sinais que acompanham a ritualidade do batismo: o credo, a cruz, a unção, as promessas batismais. Somente com isto é possível a passagem pela Confirmação.

3. O Discipulado: Após a experiência de recuperar a vista (Atos 9,18), Paulo foi batizado, alimentou-se e recuperou as forças (v.19). Depois de um tempo de convivência com os demais irmãos começa a pregar nas sinagogas. No encontro com Jesus e na conversão, Paulo se torna missionário e, os que ouviam suas pregações ficavam perplexos (v.21). Esta perplexidade nasce também no coração do discípulo. Aquele que escutou primeiro antes de começar a falar permite que na sua vida o templo de Deus seja reconstruído. O discípulo responde com a vida aquela pergunta de Jesus: “Para vocês quem sou eu?” (Mt 9,20). Como Paulo, o discípulo responderá, “Cristo vive em mim”. Por isso é impelido a evangelizar (1Cor 9,16).

4. A comunhão: A pastoral vocacional é um processo educativo dentro de uma comunidade eclesial. Ali o jovem aprende o dinamismo que alimenta a vida do discípulo do Senhor: “A fração do pão, tinham tudo em comum, freqüência do Templo, partiam o pão nas casas com alegria e louvavam a Deus” (Atos 4, 42-46). Nesta comunhão os jovens precisam fazer experiência da vida religiosa. Muitos, infelizmente, não sabem mais o que é a vida religiosa! Não basta escutar ou ler sobre o assunto, mas tocar com as mãos, ver, contemplar com os religiosos e religiosas o significado de suas vidas em comunhão fraterna. Nossas casas devem se abrir para que os jovens possam entrar e rezar conosco, sentar à mesa da eucaristia e à mesa do feijão com arroz, ouvir nossas histórias e nos enriquecer com suas riquezas. Isto também é comunhão eclesial. Não será difícil para um jovem amar a Igreja se a Igreja se faz presença na vida dele.

5. A missão: A conscientização vocacional não permitirá que o jovem saia triste de nossas comunidades sem forças para deixar tudo pelo Reino. Bento XVI dizia aos jovens que não pode faltar na audácia da resposta o valor da vida e da educação. Sem elas a resposta será sempre mesquinha, faltará generosidade e evidenciará o egoísmo, que é também, de forma paradoxal, uma riqueza contraria ao valor da vida. Acredito que seria um bom estágio para todo jovem que busca ansioso o sentido para a própria vida passar por uma vivencia comunitária popular antes de pensar na vida religiosa. Em nossos dias alguns jovens passam pelo voluntariado, mas o mesmo está em função de uma comunidade religiosa, de um carisma. Isto é bom, mas não poderia ser primário. Para mim é importante a comunidade cristã como o lugar teológico da experiência de Deus. Falta para muitos religiosos/as hoje esta experiência. Muitos entram pela via da comunidade religiosa, mas não passam pela comunidade povo, ministérios, piedade popular, equipes de trabalho. A missão exige antes de falar, saber ouvir, saber compreender, saber celebrar para poder testemunhar.

Uma constatação pertinente que faço neste final de artigo é um eco ao que disse Bento XVI em Aparecida: “Os jovens não temem o sacrifício, mas, sim, uma vida sem sentido” (Discurso inaugural do Papa em Aparecida). Isto é verdade. A falta de perspectiva, a ausência de possibilidades de emprego, de estudo, de lazer, enfim, de crescer como gente, assusta a muitos jovens. Precisamos aproveitar deste gancho para propor o seguimento de Jesus Cristo desde a inserção numa comunidade cristã até a descoberta do chamado do Senhor para uma pertença exclusiva a ele.

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