A corda bamba e a certeza
Em tempos de incertezas quanto ao futuro procuro uma fonte que oriente meus sonhos de evangelizador. Fui encontrar em Dom Bosco sonhador. Os sonhos de Dom Bosco eram como uma corda bamba que ligava dois pontos tendo o menino Bosco caminhando encima com os olhos voltados para frente.
Dom Bosco mesmo conta em suas memórias que quando menino costumava amarrar uma corda entre duas árvores e dava espetáculos para os amigos. Ele sentia a corda tremendo, mas nunca olhava para baixo, mantinha a cabeça erguida e os olhos voltados para o horizonte. Na verdade os sonhos de Dom Bosco podem ser considerados como esta corda tremula sobre a qual ele buscava luz e caminhava com segurança. Apesar das dificuldades e dos dissabores que enfrentou nunca baixou a cabeça nem manifestou medo. Mais tarde as duas árvores foram sendo simbolizadas nas duas colunas: a coluna onde está Maria Imaculada e a coluna da Eucaristia. Nelas ele apoiou os projetos e suas certezas.
Os sonhos indicavam um futuro cheio de realizações. Dom Bosco foi um religioso proativo. Rico em iniciativas, e otimista quanto aos resultados. Não encontrei ainda um texto que revelasse um Dom Bosco pessimista, desorientado e frágil. Encontro sempre uma personalidade aberta aos sinais dos tempos: queria seus salesianos em mangas de camisa, imaginou os salesianos externos, criou cursos noturnos para os jovens trabalhadores, queria seus salesianos preparados e os mandou estudar, criou uma tipografia e publicou inúmeros livros para os jovens e seus colaboradores, incentivou a comunhão freqüente para os jovens do oratório numa época marcada pelo jansenismo, dedicou horas confessando seus jovens para melhor conhecer a interioridade deles, escolheu pessoalmente os primeiros salesianos tirando-os do meio dos meninos, incentivou a piedade popular entre os jovens, criou o associacionismo formando verdadeiros lideres juvenis, despertou vocações sacerdotais e religiosas, sonhou e realizou a expansão da Congregação, amou a Igreja e educou a amar. A corda era tremula, mas o menino que caminhava nela sabia onde queria chegar, e chegou!
Vivemos uma época marcada pela fragilidade dos sonhos, das utopias, das ideologias e dos lideres sonhadores. Caímos na tentação do niilismo, um clima agnóstico e frio que nos arrasta para um vazio imenso, que somente Deus pode saciar. Aqui nos encontramos com duas imagens bíblicas que nos dias de hoje podem trazer novo alento e perspectivas de futuro. Refiro-me aos textos do Bom Samaritano (Lc 10,25-37) e da Samaritana (Jo 4,4-42). Em ambos aparece o sonho de Jesus: por um lado a revelação de que a busca das pessoas só encontra verdadeira fonte que sacia no encontro com Deus. Assim foi com a Samaritana. Uma mulher que na sua desenfreada busca de amor teve cinco maridos e parece que não encontrou e nenhum deles o que desejava. Em Jesus ela descobre a água viva, uma nova humanidade que vence os interditos da natureza humana e chega ao profundo de Deus. Imediatamente ela se torna missionária. O outro fato é o Samaritano. Um homem excluído religiosamente e culturalmente como a Samaritana que pára diante de uma pessoa sangrando e age com compaixão. Aqui o outro sonho de Jesus, a revelação do Deus da compaixão e da misericórdia, que não faz acepção de pessoas e ama todos como filhos. Um Deus acima das Leis e dos preceitos religiosos.
Jesus também andou encima de uma corda bamba e acabou na cruz, mas Deus o ressuscitou. Isto nos anima a continuar sonhando olhando para frente, pois somente ele pode nos Salvar. Dom Bosco acreditou neste Deus e viveu como se visse o invisível. Creio também que João Paulo II passou pela mesma experiência. Rejeitado por muitos dentro e fora da Igreja e amado pela grande massa popular juvenil e adulta, realizou sonhos missionários e abriu a Igreja para os grandes problemas do século XXI. Agora é a hora de avançar. VIVA OS SONHADO