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5 anos de Bento 16: entre controvérsias e crises

Aos 83 anos o papa Bento 16 completou cinco anos de pontificado. Este período não está sendo fácil. Depois de 26 anos de pontificado de João Paulo II, o papa que subiu aos telhados para anunciar o Evangelho, um papa mediático, já era de se esperar que sua sucessão não seria uma tarefa simples. Ainda mais que um de seus principais colaboradores, o cardeal Ratzinger, assumiu posturas não tão agradáveis sempre, é claro, como porta-voz do Papa. Homem lúcido, culto e sereno, o teólogo Ratzinger esteve envolvido em controvérsias que não impediram o brilho de João Paulo II. O caso Leonardo Boff, por exemplo, envolveu o cardeal, e transformou sua imagem num homem carrancudo e exterminador de intelectuais da fé. Um absurdo, mas na época foi assim que o julgaram. Sua missão de Prefeito da Congregação da fé também não foi uma tarefa fácil.

Após a morte de João Paulo II ele se perfilou como o candidato ideal, embora, vozes de intelectuais católicos, teólogos e muitos fiéis, não aceitavam tal indicação. Entretanto, o conclave o elegeu num turbilhão de criticas. Nos primeiros dias o Papa Bento parecia tímido e pouco disposto a se expor, mas pouco a pouco saiu de sua costumeira atividade intelectual para a atividade pastoral e contato com os fiéis. Pedir e até esperar que Bento 16 fosse uma continuação semelhante ao papa anterior seria exigir demais; não porque Bento não tenha capacidade, mas porque ele tem o próprio estilo e ninguém esta obrigado a ser cópia de ninguém. Bento 16 é o homem de fé que entra no próprio quarto, fecha a porta e ora ao Pai na intimidade. Ali ele encontra a força para a missão. Desta capacidade de entrar na interioridade sai palavras objetivas, simples e cheias de sabedoria, que tocam a vida das pessoas.

Infelizmente até agora a mídia gerou uma cultura da distorção e da controvérsia na tentativa de denegrir a imagem do Papa e deixar a Igreja fora das questões de fundo da humanidade: injustiças, fome, racismo, guerras intermináveis, crise econômica.

Uma coisa é certa. Bento 16 incomoda. Suas palavras ferem estruturas consideradas intocáveis e mexe com conceitos religiosos hermeticamente fechados. A grande questão é que a sociedade humana está mergulhada no deserto da subjetividade e do relativismo. Estamos condenados a ouvir de tudo, não dizer nada e seguir alienados do todo. Esta estrutura o papa não aceita. Por isso, quem ousa dizer o contrário se torna incomodo. É perseguido e eliminado do sistema. É uma luta virtual porque a materialidade não é identificada, pois ela atua no sub-mundo do anonimato e do poder econômico. Há uma feroz luta pelo poder religioso, econômico e ético no contexto atual. Toda a campanha que atinge hoje o papa vem destes três poderes, sobretudo no Brasil. A sociedade brasileira é oportunista. Nela, os grupos neopentecostais de cunho eminentemente político e econômico, buscam o poder, e aproveitam do contexto atual para mostrar uma força que na realidade é pouca evangélica e muito mais de dominação. Trata-se de um caminho medieval de cruzada em busca da soberania. Para conseguir tal objetivo usam de qualquer arma, inclusive da perversa interpretação da Escritura para justificar pseudomilagres e prosperidade econômica. É um mercado religioso vergonhoso e corrupto que usa o outro gume da faca para ferir mentes frágeis e inverter valores evangélicos.

Por outro lado a sociedade brasileira sucumbe no abismo da corrupção política e social. Basta analisar o processo lento de análise do Projeto Ficha Limpa. Com este projeto iniciaríamos a verdadeira reforma política, pois tiraríamos das urnas os nomes de candidatos corruptos e daqueles que estão à mercê das facções religiosas neopentecostais. É um projeto de limpeza do lixo que se acumulou no legislativo brasileiro, porém tudo indica que não passará porque os próprios fichas sujas estão enterrando o projeto. A sociedade está refém do sistema pervertido. Cá entre nós, isto não é tema de debate, não interessa. Então, a própria sociedade escolhe temas de passagem para tirar o foco das chagas sociais. No momento é a pedofilia – entenda-se atos pedófilos aqueles praticados por uma pessoa adulta com outra pessoa antes da puberdade – trata-se de um doente, infantil, que precisa de cuidados, muito mais do que cadeia. O casamento, como alguns ingênuos defendem, não resolve o problema da pedofilia. Se assim fosse não teríamos tantos homens e mulheres, muitos casados, pedófilos. A questão é de doença e, se tratado tem cura.

Alguns pregam o fim do celibato como meio para acabar com a pedofilia. Parece até brincadeira. Não é o celibato a causa da doença. A grande questão é que a sociedade enveredou o caminho da perversão. Ela permite tudo; aliás, ela criou a revolução sexual. Ela criou as pulseiras do sexo e comercializou como moda. Como não consegue dar conta do tamanho do problema ela escolhe e leva à juízo determinados comportamentos para tirar de foco os problemas fundamentais. Hoje é a pedofilia relacionada aos padres católicos. Amanhã será a liberdade de culto. É apenas uma questão de oportunismo. Não que a questão da pedofilia deva passar em brancas nuvens, é um pecado que fere a Igreja, mas ela não foi gerada pela disciplina do celibato e, sim pela perversão social. É também uma ferida social.

A crise que Bento 16 enfrenta hoje terá sua noite dos sentidos, ou seja, sua purificação. Entretanto, a noite escura que a sociedade vive ainda suscitará muitos conflitos e perdas, tais como: a prostituição infanto-juvenil; a degradação do comércio e o do consumo de drogas, inclusive já se discute o comercio de drogas tidas como benévolas; o pansexualismo que invade nossas casas com programas como BBB, contudo, sobre isto ninguém fala porque está dentro do sistema econômico. As mulheres que participam destes programas já entram e saem, em sua grande maioria, com o propósito de posarem nuas nas revistas masculinas. O fim justifica os meios. Entretanto, a sociedade anestesiada culpa o celibato como causa da pedofilia. Nesta sociedade da subjetividade tudo está a um clique, mas nem tudo é honroso.

Os oportunistas lanças pedras sobre uma Instituição que ainda luta pela igualdade, pela justiça, pelo fim das guerras, pela divisão justa dos bens, pela solidariedade continua, pelos valores do amor, do respeito e da vida (Cf. carta encíclica Cáritas in Veritate. 27). A Igreja é uma das Instituições brasileiras que ainda consegue manter vivo no coração do povo a esperança e o desejo de transformação. É oportuno, portanto, num ano eleitoral e diante de um Projeto que busca limpar do legislativo os corruptos, investir numa campanha que tire a Igreja das lutas profundas da sociedade, como é o caso da usina de Belo Monte. Desmoralizando a Igreja é mais fácil implantar sistemas de dominação inescrupulosos que não respeitam o meio ambiente e muito menos o ser humano. Desmoralizar Bento 16 significa eliminar uma voz que grita contra um sistema neoliberal que esquece os pobres ou os trata como meros coitadinhos. O papa colocou o dedo na chaga da crise econômica e os oportunistas criaram uma campanha para tirar sua autoridade moral (Cf. Cáritas in Veritate, 2009). Assim critica Bento 16 o sistema econômico opulento: “Enquanto os pobres do mundo batem às portas da opulência, o mundo rico corre o risco de deixar de ouvir tais apelos à sua porta por causa de uma consciência já incapaz de reconhecer o humano” (Cáritas in Veritate, n. 75). Esta sociedade da perversão não suporta este tipo de critica.

Lembremo-nos que Jesus Cristo não morreu sem uma causa, mas devido sua radical posição critica ao sistema de opressão religiosa e econômica da época. Foi julgado pelo poder religioso e condenado como um blasfemo; julgado pelo poder romano foi considerado um agitador do povo. Sua sentença foi assinada pela união dos opressores e oprimidos que se uniram para condenar o justo. Ainda hoje os dois poderes se juntam para condenar, eliminar, matar e denegrir. Como dizia Pascal: “A paixão de Cristo continua ainda hoje nos sofrimentos do povo”. A Igreja “ferida” sofre a paixão. A sociedade pervertida sofre a paixão. Mais do que nunca precisamos de salvação. Vem Senhor Jesus!

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