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1o. Seminário da Cáritas paroquial Padre Miguel Rua

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA E A CARIDADE

No último dia 26/09 realizamos na Paróquia São José – Aleixo, o 1o. Seminário da Cáritas. Refletimos sobre a identidade da Cáritas, o perfil do voluntariado e formamos a equipe animadora com o diretor executivo. Abaixo o texto da palestra proferida pelo pároco padre João Mendonça.

O papa Bento XVI afirma que “a caridade é a via mestra da Doutrina Social da Igreja” (Caritas in Veritate, 2). São Vicente de Paulo dizia que a caridade é uma dama e não pode esperar. O próprio Deus se expressa na caridade. Ele é gratuidade. Ao contemplarmos a criação vemos que tudo se origina de um dom maior concedido a todos nós por Deus, porque “Deus é caridade”. Sem isto o amor torna-se vazio e mentiroso (CV, 4). Assim, a caridade é gratidão, fruto de um amor recebido de graça. Numa leitura trinitária podemos dizer que a caridade é gratuidade da parte de Deus Pai que derrama abundantemente sobre nós graças após graças e nos envia o Filho amado. Jesus, então, é este Filho, o amor total e gratuito do Pai, que doa sua vida como gratidão total para que todos tenham vida (Jô 10,10). Desta gratuidade e gratidão, brota o amor do Espírito Santo. Amor redentor que se derrama em nossos corações (Jo 13,1; Rm 5,5). Por conseguinte todos nós somos herdeiros da caridade e convocados a difundi-la no mundo. Deste dinamismo nasce a Doutrina Social da Igreja, ou seja, caridade na verdade.

Neste sentido a caridade é maior que a justiça, porque ama e doa sem reservas. Sou capaz de partilhar movido pela caridade com senso de justiça. Não posso dar ao outro o que não me pertence. Nem posso me apropriar de algo que não é meu para fazer caridade. Por isso amar o outro é desejar que ele desfrute do BEM COMUM (CV, 5). Existe um bem individual que está ligado ao bem social, o de todos nós. Quem trabalha pelo bem comum é justo e caridoso. Quando trabalho pelo bem comum do meu irmão estou justamente cuidando dele. Bento XVI diz na Caritas Veritate, “Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê resposta também às suas necessidades reais” (n. 7). Fechar-se a esta ação comum é mergulhar no mais profundo egoísmo negando, portanto, o valor da caridade e da justiça. Uma sociedade egoísta e consumista como a nossa tende a negar o valor da caridade e do justo desenvolvimento humano.

Em nosso país, Estado, cidade e bairro, ainda paira uma nuvem desta cultura egoísta e consumista:

1. A fome: São muitos os Lázaros que ficam à margem da porta daqueles que esbanjam fortunas em festas, casas e luxo desenfreado. A fome é fruto de uma “escassez de recursos sociais” (CV, 27). É a sociedade que priva o acesso de todos, sobretudo dos mais pobres à mesa comum. Esta fome está relacionada também a escassez de água. Uma grande contradição em nosso Estado, Vivemos às margens de rios imensos e temos carência de água potável para todos.

2. O respeito pela vida é outro problema serio em nossos dias. A pobreza provoca altas taxas de mortalidade, sobretudo em regiões mais pobres. É também vergonhoso o controle demográfico na base do aborto legalizado ou clandestino. A ideologia de que a mulher tem direito de decidir se aceita ou não o filho, independente de qualquer valor ético é produto, como muito bem disse o Papa na Inglaterra, “de uma selva de liberdades de autodestruição e arbitrária” que elimina o valor moral e ético da vida do outro para salvaguardar uma liberdade egoísta e consumista.

3. Nega-se também hoje o verdadeiro sentido da religião e do direito à liberdade religiosa. No Brasil vivemos um momento delicado de um fundamentalismo liberal anticlerical que deseja eliminar o valor da transcendência da vida das novas gerações. Por outro lado, sofremos de um fanatismo religioso que gera intolerância, interpretações personalistas da Bíblia para conseguir benefícios econômicos, curas armadas para convencer e converter, distorções da Palavra de Deus e exploração da emotividade do povo.

A caridade rompe com todo este sistema de injustiça e nos ensina a sermos pessoas de doação. “O ser humano, nos diz Bento XVI, está feito para o dom, que exprime e realiza a sua dimensão de transcendência” (CV, 34). A Cáritas paroquial será o braço social da evangelização na medida em que conjugar subsidiariedade e solidariedade. Com isto quero dizer o seguinte: a subsidiariedade é uma ajuda à pessoa carente de tudo, sempre numa relação emancipativa, nunca de dependência ou assistencialista(CV, 57). Por sua vez, a solidariedade é a partilha, doação de quem dá e de quem recebe. A Cáritas funcionará como a conjugação de ambas fazendo parceiras e gerando iniciativas que ensine a pescar e ao mesmo tempo una forças para que todos trabalhem pelo bem comum. Não haverá verdadeira caridade sem subsidiariedade e solidariedade paroquial e social.

A Doutrina Social da Igreja é tudo isto: a busca do bem comum, da justiça e da verdade. A Cáritas paroquial nasce deste principio. Não criaremos mais uma instituição para distribuir donativos, mesmo que o faremos quando necessário devido nossas urgências sociais, mas ela nasce para ser uma interlocutora com as organizações do bairro, com os políticos, com os comunitários, com as Ongs, com a Igreja Particular de Manaus, para responder com atitude de gratuidade, gratidão e amor, aos apelos dos mais necessitados entre nós.

Jesus ficou horrorizado quando avistou uma grande multidão faminta e cansada e, com um gesto de doação total de si, distribui dois Paes e cinco peixes, recolhendo ainda doze cestos cheios. João Paulo II quando visitou a Nicarágua ficou também perplexo quando viu surgir do meio da multidão oprimida uma faixa que dizia: SANTO PADRE, O POVO PASSA FOME. Hoje em nossa paróquia muitos passam fome: fome de educação, fome de alimento, fome de segurança, fome de água potável, fome de lugar para o lazer sadio, fome de qualificação profissional, fome de oportunidades, fome de habitação, fome de dignidade. A Cáritas paroquial padre Miguel Rua não vai resolver tudo, mas buscará meios para saciar estas fomes.

Uma última palavra sobre o nome padre Miguel Rua. Ele viveu no século dezenove (1830 a 1910). Foi o primeiro sucessor de Dom Bosco. Um homem de grande coragem e ousadia que abriu a Congregação salesiana para a atividade missionária e ação social. Foi durante o seu governo que o Papa Leão XIII publicou a famosa encíclica Rerum Novarum, sobre a questão social. Padre Miguel Rua assumiu os desafios daquele documento papal e inseriu os salesianos no campo social sem reservas. Estamos celebrando neste ano o centenário da sua morte. Como se trata de um bem-aventurado, portanto venerável pela Igreja, cuja memória celebramos dia 29 de outubro, queremos inaugurar focialmente nossa Cáritas com o nome dele e pedir que ele nos ajude a ser o rosto da caridade de Deus no hoje da nossa Ação Evangelizadora. Beato Miguel Rua, rogai por nós!

Pe. João Mendonça, sdb

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