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“Acompanhamento de vocações homossexuais”

Este é o titulo do livro do Pe. José Lisboa Moreira lançado pela Paulus neste ano. Um livro importante para os animadores e animadoras vocacionais, mas também para os provinciais, bispos e agentes de pastorais.


Nunca foi tão complexa a realidade das relações sociais como hoje. Nunca tivemos tantas aberturas e quebras de paradigmas de comportamentos como hoje. Por isso, à luz do espírito que animou o Concílio Vaticano II, é preciso ousar para avançar. Neste aspecto a compreensão da homossexualidade, ou como dizem os estudiosos o homoerotismo (Cf. Lisboa, p. 17), deve ser melhor conhecido para proporcionar a todo o Povo de Deus verdadeiro discernimento e possibilidades de vida plena para todos os homens e mulheres, independentemente de suas inter-relações.

O livro do padre Lisboa, ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios da CNBB (1999-2003) é de grande valia para o estudo e acompanhamento vocacional de pessoas homossexuais. A tese fundamental é: uma pessoa não pode ser excluída do processo de discernimento e de acompanhamento vocacional apenas pelo fato de ser homossexual (Idem, 16). Para chegar nesta formulação e nos critérios de discernimento e itinerário vocacional o autor parte da análise dos pronunciamentos do Magistério da Igreja, que não condenam a condição homossexual, pois esta é uma condição existencial que não pode ser escolhida (Idem, 14-15).

O livro tem 4 capítulos assim distribuídos:


Introdução: nela o autor chama a atenção do leitor para o fato de que a homossexualidade não é vista mais como um tabu na sociedade e que pessoas homossexuais estão assumindo cada vez mais papéis sociais de destaque porque não é “vista mais como uma perversão”. Mesmo nos grupos e associações católicas, mesmo dentro da hierarquia, a presença de homossexuais é cada vez mais evidenciada. A questão presente é a confusão que existe na identificação do ser homossexual. “De fato, diz o autor, a realidade, encoberta e camuflada, incentiva práticas e comportamentos que afetam seriamente não só o âmbito da fé e da espiritualidade, mas também, a dimensão psíquica do ser humano que acabará perdendo o controle e se desequilibrando por completo” (Idem, 7). A tendência de alguns bispos e provinciais em adiar soluções ou simplesmente lavar as mãos sobre a questão está se revelando contraproducente.



1º Capítulo: Do preconceito à acolhida. A primeira constatação que nos faz o autor é de que desde 1973 a homossexualidade não é mais considerada como “doença” pelos psiquiatras, mas sim como “uma preferência emocional e uma conduta sexual também admissíveis” (Idem, 11). Os homossexuais, travestis, trans-sexuais e outros, são os mais excluídos e auto-excluídos dentro da Igreja. Os animadores e animadoras vocacionais não podem ver os homossexuais como pessoas pecadoras e irremediáveis. O conceito de homossexualidade é complexo, mas o autor consegue impostar a questão com a seguinte resposta: “É uma orientação sexual pela qual pessoas, em sua vida adulta, sentem atração preferencial por alguém do mesmo sexo, mantendo ocasionalmente relações genitais” (Idem, 19). Segundo este conceito é possível, sempre a partir de um discernimento, que pessoas homossexuais possam assumir compromissos na idade adulta ou no casamento, na vida religiosa e no celibato. Para isto é importante que a pessoa seja ajudada a ter pleno conhecimento da própria situação existencial. Este capítulo faz-me recordar os numerosos jovens que vivem em nossas obras e centros de formação, que podem ter questões homossexuais não resolvidas, e que devido ao preconceito se auto-excluem de uma abertura com os formadores e educadores, com medo de serem eliminados do ambiente. É triste isto.



2º Capítulo: O acompanhamento de vocacionados homossexuais: O miolo da questão neste capítulo é se as nossas estruturas de Pastoral Vocacional e animadores e animadoras estão preparados para acompanhar jovens e adultos que se sentem homossexuais. Não é possível acompanhar uma pessoa homossexual se não existe um ambiente – comunidade – livre de preconceitos. Somente num ambiente de ampla acolhida é possível conhecer a pessoa a partir de sua história familiar. “A verdadeira personalidade de uma pessoa está escondida no seu coração, na sua interioridade”(Idem, 29). Para entrar nesta interioridade uma equipe não pode ser amadora, tem que contar com pessoas preparadas que saibam ler no cotidiano das pessoas sua real situação. O autor, então, destaca duas tipologias de homossexualidade a serem observadas: 1. A chamada periférica: a pessoa normalmente assume gestos, rebolados, tom de voz… de pessoas homossexuais, “efeminados”, mas não sentem atração por pessoas do mesmo sexo. O problema é que ao ver uma pessoa efeminada logo se colocam apelidos, comentários maldosos e se mata a possibilidade de diálogo; 2. A chamada estrutural: a pessoa não tem gestos, às vezes são homens sarados, machões, porém, sentem forte atração por outros homens. O mesmo acontece com mulheres. Por isto conclui o autor “a homossexualidade estrutural é a verdadeira homossexualidade”(Idem, 33). A animação vocacional tem como desafio identificar o tipo de homossexualidade para poder intervir. Em seguida o autor nos dá um itinerário de acompanhamento vocacional para pessoas homossexuais. É um processo pedagógico bastante interessante que merece nossa atenção. Nele é indispensável a presença de pessoas especializadas que ajudem a fazer o processo.



3º Capítulo: Discernimento para a vida celibatária: Não basta ter boa vontade para a vida celibatária é preciso ter as condições. No caso das pessoas homossexuais, como também dos heterossexuais, um estilo de vida sexual afetivo ativo e constante, torna difícil a vivência do celibato. O estado compulsivo da pessoa se torna uma força irresistível que elimina qualquer tipo de controle, além de provocar sérios danos à personalidade. Às vezes pode se transformar num vicio. Quando estas pessoas se esforçam para viver celibatários acabam por contrair problemas sérios como: tensões, ódio, intransigências, frustrações, irritações… e se tornam pessoas perigosas. Também o autor nos ajuda a distinguir a homossexualidade de patologias sexuais, como é o caso da pedofilia. Contudo, em todos os casos, é preciso ter presente a pessoa e as possibilidades de recupera-las, mesmo que não seja encaminhada para a vida religiosa. O autor nos recorda que a animação vocacional não pode ser uma coisa fechada, apenas para suscitar padres e freiras, mas está a serviço da comunidade eclesial para que todos tenham vida. No final do capítulo o autor nos dá um processo de discernimento vocacional que se fundamenta no ato de se autoconhecer para poder servir.



4º Capítulo: Acompanhamento vocacional de homossexuais leigos: A animação vocacional precisa ajudar os agentes leigos a se descobrirem e potencializarem sua condição de serviço nas comunidades eclesiais. Por isto a animação vocacional será personalizada favorecendo aos leigos homossexuais a condição para terem vida plena e serem tratadas na sua singularidade. Neste sentido a fidelidade a pessoa mesma, apostando nas suas possibilidades favorecerá o discernimento das vocações laicais. Ninguém pode ser rejeitado de um discernimento pelo fato de ser homossexual. Diante disto o autor nos proporciona um itinerário vocacional adaptado para esta situação de leigos e leigas, que muitas vezes vivem de sobressaltos sua condição com medo da perseguição e da marginalização dentro da própria comunidade de fé. A Igreja não pode fechar suas portas para ninguém, pois “quando o cristianismo marginaliza, deixa de ser seguimento de Jesus” (Idem, 84).



Conclusão: Pe. Lisboa conclui o livro afirmando os pontos fundamentais defendidos por ele, sobretudo que os homossexuais têm direito de fazerem um processo de discernimento vocacional. Por isto os animadores e animadoras devem conhecer muito bem o que seja a homossexualidade distinguindo das patologias sexuais. Faz também uma dura crítica a algumas instâncias da vida eclesial que tentam empurrar com a barriga os problemas e não assumem o debate. Afirma também: “Os responsáveis pela animação vocacional, especialmente os bispos, não podem continuar tratando os vocacionados e vocacionadas como se fossem assexuados” (Idem, 89).



Como agente de pastoral vocacional eu fiquei contente com o livro e o recomendo. Na verdade é a primeira vez que tenho contato com um livro sobre o tema, fora, é obvio, dos Documentos emanados das Congregações Romanas. Por isso aquelas questões que merecem debate devem ser enfrentadas com abertura e sem preconceitos. O que não podemos é nos fechar ao problema achando que com isto não teremos em nossas casas de formação, comunidades eclesiais e nos membros da hierarquia e nas instâncias de governo da vida religiosa pessoas homossexuais. Aliás, eles já estão lá.



Para nós, salesianos, há um princípio de Dom Bosco: “Quem não tem fundada esperança de poder conservar, com o auxílio divino, a virtude da castidade nas palavras, nas obras e nos pensamentos, na professe nesta Sociedade, porque muitas vezes se encontraria em perigo” (Constituições Salesianas, 82). Este critério nos impõe uma reflexão serena e ousada. A missão salesiana se desenvolve no contexto plural das juventudes e classes populares. Isto nos coloca dentro do “vulcão afetivo-sexual”, sobretudo, dos jovens que se manifestam nos prazeres e desprazeres, nos amores bem resolvidos e nos amores falidos, nas buscas insaciáveis e nos desencontros trágicos. Somos também envolvidos e constantemente chamados a ouvir os sentimentos, a discernir os anseios, os rompimentos do amor e a explosão do erotismo na vida de tantos jovens e adultos, que não encontram, muitas vezes, outro colo que não seja o nosso para confiar suas mais profundas dores e alegrias. Ora, isso exige do educador-evangelizador liberdade, gestão e sexualidade integrada no projeto de vida seja ele de consagração ou não. “Atualmente se percebe a grande necessidade que os indivíduos têm de encontrar um espaço amigo, cordial e afetuoso, em que possam encontrar acolhida para suas subjetividades e ao mesmo tempo uma identidade para suas individualidades ameaçadas” (CRB, Documento Base XXI AGO, 2007, p. 62).



Evidentemente que um homossexual estrutural não tem condições de realizar um projeto de consagração religiosa com paz e segurança pessoal. Nossa vida consagrada não serve para esconder problemas, muito menos a repressão da afetividade e da sexualidade. Nossas casas religiosas não podem servir para esconder pessoas desintegradas consigo, com o mundo e com Deus. Os casos que existem devem ser tratados com o princípio da caridade dando às pessoas o devido respeito e oportunidades de um acompanhamento profissional e espiritual.



A questão fundamental, no meu modo de ver, é o preconceito. Nossa educação machista nos impele facilmente a excluir. Contudo, é preciso iniciar um processo de conversão de mentalidade para cuidar das pessoas e de suas riquezas, depois ajuda-las a organizar os sentimentos e opções.



Uma “nova fronteira” está ai, ao alcance dos nossos olhos. Não podemos permitir que o preconceito nos cegue. Abramos os olhos para ver o Senhor nos desafios que o contexto da modernidade nos apresenta.



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