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Encontro Nacional de Diretores em Brasília

1. EVENTO: aconteceu em Brasília do dia 02-04 de março do corrente, no Centro de Convenções Instituto Israel Pinheiro, o Curso Nacional de Diretores do qual participaram 34 sacerdotes provenientes de cinco inspetorias brasileiras. O principal tema dos momentos de estudo e partilha foi o Ministério da Animação e Governo do Diretor Salesiano. O Evento foi organizado pela Comissão Nacional de Formação da CISBRASIL (Conferência dos Inspetores do Brasil). O assessor do encontro foi o professor, doutor, William César Castilho Pereira, psicólogo clínico, analista Institucional, assessor da CRB Nacional e professor da PUC de Belo Horizonte. Apesar da seriedade do tema do encontro, a metodologia a adotada pelo assessor foi muito suave, baseada em apresentação e estudo de “casos”, filmes, trabalhos em grupos e plenários. Segue uma síntese do conteúdo desse evento.

2. SUBTEMAS: diversos subtemas foram discutidos, tais como: a questão da autoridade, os relacionamentos interpessoais na comunidade, a gestão do prazer (lazer) como experiência da vida comunitária, a diversidade de modos de governos, a questão das subjetividades dentro da comunidade, a gestão das nossas obras, afetividade na comunidade, orientações para o acompanhamento de problemas, etc.

3. LIDERANÇA CENTRALIZADORA: quanto à questão comunitária refletiu-se sobre dois modelos de comunidade: a homogênea e a heterogênea. O modelo de comunidade homogênea vive uma experiência de vida fraterna ilusória e utópica, porque a individualidade dos seus membros é suprimida. O seu líder uniformiza as relações e os comportamentos. Nesse modelo o protagonismo é promovido pelo líder que em tudo se manifesta e motiva os membros da comunidade conduzindo-os à ação. Nesse modelo o ideal é o “eu” do líder; quando ele não está tudo cessa ou se acaba. Nesse modelo o líder pauta seu agir unicamente apoiado pela estrutura institucional da qual é representante; nesse modelo de governo a força do instituído é muito grande, está muito centralizado na norma (lei). A questão afetiva é pouco evidente nas relações desse líder. Um dos grandes limites dessa forma de governo é a falta de promoção da subjetividade dos membros; isso empobrece a comunidade.

4. LIDERANÇA PROMOTORA DA SUBJEITVIDADE: o modelo de comunidade heterogêneo é aquele no qual a sua beleza não está na uniformidade dos indivíduos, mas na promoção da subjetividade de cada membro da comunidade. Essa comunidade é movida não só pela utopia (sonho!), mas também leva em conta os desejos e necessidades dos indivíduos que compõem a comunidade. É uma comunidade real, marcada pelas contingências. Trata-se de uma comunidade profundamente marcada pelo “parâmetro feminino”, poético, místico, afetivo, relacional e por isso nela há naturalmente sadias tensões e conflitos. Nesse contexto comunitário o líder é um animador de pessoas, gestor de talentos que estimula os membros da comunidade à transcendência (e não à obediência passiva!), ao dinamismo subjetivo (pessoal), ao envolvimento, entusiasmo, paixão e doação. Nessa forma de animação e governo (sadiamente democrática) a riqueza da comunidade está nos valores e atitudes de cada indivíduo, afinados com os princípios e valores da instituição. Nesse modelo o equilíbrio entre o instituído e o instituinte gera o desafio da promoção de novas formas de organização da vida comunitária animada pela criatividade dos membros e do próprio animador. Diante desses dois modelos não podemos, por outro lado, assumir uma atitude maniqueísta; ambos têm aspectos positivos e riscos. Contudo, o segundo modelo de animação e governo é bem mais salesiano.

5. UMA TRÍPLICE MISSÃO A SER HARMONIZADA: refletiu-se também sobre o desafio que cada diretor tem de harmonizar em seu agir o tríplice papel de ser Sacerdote, Educador e Gestor de instituições (Colégio, Faculdade, Paróquia, Obra Social…) que tem metas e exigências próprias, características e públicos beneficiários diversos, legislação e controles específicos. Para que essa gestão seja saudável o diretor deverá estar atento às orientações da Inspetoria, da Congregação, bem como, estar antenado às exigências do Estado (leis) para o setor no qual está atuando, servir-se de bons assessores, estudar em vista de qualificar-se para o serviço… Vivemos em uma sociedade de direitos e não podemos “levar tudo com o coração”. Nesse âmbito o papel do inspetor deve ser aquele de animador que escuta, busca conhecer e orientar salesianamente respeitando as realidades próprias de cada área de trabalho. O inspetor, no exercício de sua função deve ser guiado pelo princípio da subsidiariedade (de ajuda, de ser facilitador); para isso deverá ser respeitoso para com a justa autonomia das comunidades; quando isso não acontece se promove um clima de medo e de insegurança que geram a infantilização dos gestores das obras e comunidades.

6. A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO: diante dos diversos problemas e novos desafios culturais discutidos se percebeu a urgência de um sério investimento na formação dos Salesianos em vista de capacitá-los para a serena convivência nas comunidades e competência na gestão da obras. A formação também contribui para a experiência da partilha e da solidariedade entre as várias comunidades dentro da inspetoria. O processo de formação deve ser motivacional estimulando o indivíduo a assimilar valores e a operacionalizá-los em atitudes. Por outro lado, a diversidade da proveniência dos candidatos à Vida Religiosa com suas amplas experiências de vida, constitui um grande desafio para compreender e assimilar as exigências da Vida Religiosa, bem como, a assimilação dos valores da espiritualidade salesiana. Isso requer um sério investimento na formação de novos formadores antenados aos tempos.

7. TEMPOS DE MUDANÇAS: muitas mudanças têm ocorrido em nossa cultura, isso provocou um novo modelo de família, de igreja e outro “tipo” de comunidade, ou seja, com sensibilidades diferentes que também nos pede nova forma de organizá-la internamente em sintonia com os tempos. O contexto de transformação cultural proporciona naturalmente dentro das comunidades religiosas, grupos e instituições, uma forte experiência de conflitos de gerações ocasionados pela nova sensibilidade emergente profundamente marcada pelo aspecto afetivo, subjetivo, transitório, flexível, desejo de autonomia, narcisista. Diante dessa sensibilidade cultural muito diferente daquela do passado marcada pela razão prática, disciplina rígida, limites predefinidos e controles externos, as novas gerações de religiosos enfrentam grandes desafios. A justa atitude não é aquela da contraposição do “ontem” ao “hoje”, mas da busca do reconhecimento da validade ética e religiosa dos valores tanto do passado como do presente. No mundo da virtualidade diminui a intensidade da relação (presença física), mas aumentam também as formas de controles virtuais sobre o indivíduo. Isso é mais difícil, pois requer mais maturidade do mesmo. A consciência de “pertencimento” hoje é muito mais exigente do que no passado; é justamente isso que dá sustentabilidade ao indivíduo diante de seus compromissos. Enfim, uma postura crítica é necessária, pois nem tudo o que reluz na pós-modernidade, é ouro.

8. A GESTÃO DE OBRAS: contata-se ainda a presença de conflitos de diretores com os leigos. Essa conflitualidade é oriunda de uma idéia de gestão centrada ainda na pessoa do salesiano, do padre, do religioso que tudo determina até como as coisas devem ser feitas. Onde muito se valoriza a tomada de iniciativa dos salesianos gera-se conflito com os leigos por não aceitá-los e promovê-los. A congregação tem dado grandes passos no sentido de envolvimento e ampliação da corresponsabilidade com os leigos (cf. CG 24), mas nem todos os salesianos têm conseguido acompanhar esse processo. Há salesianos que não aceitam a competência técnica dos leigos e se impõem pelo fato de serem religiosos ou padres. Disso decorre o fato de não serem capaz de se sentarem e planejarem a rotina dos trabalhos com os leigos. A não transparência é outro fator causador de conflitos: disso deriva a necessidade de se divulgar o que se faz, porque o fazemos e promover a comunicação direta, honesta e transparente com os profissionais que trabalham na obra salesiana. Não basta se levar em conta os aspectos institucionais (ferramentas técnicas) propostos pela congregação ou pela inspetoria (POI, PEPSI) para a gestão salesiana, é necessário que o diretor cresça na capacidade de ser animador de pessoas; isso exige que ele tenha uma grande capacidade de trato humano: valores, atitudes, gestos, virtudes… Trata-se do perfil humano e religioso do diretor/gestor. A gestão da obra não deve estar centrada na pessoa do diretor, mas na comunidade salesiana qual núcleo central animador. O diretor / gestor, fiel em sua dinâmica missão, deve zelar pela integração de todos os setores da obra (evitando o setorialismo), motivar os leigos ao estudo e à reflexão (salesianidade), primar por valores e atitudes como a sinceridade, cuidar da transparência administrativa e financeira, fundamentar sua motivação pessoal e iniciativas concretas, estimular a participação de todos na CEP, cultivar uma atitude escuta dinâmica, promover um clima de relações humanas afetivamente consistentes na CEP, evitar o paternalismo, levar em consideração os limites dos irmãos e dos leigos, acompanhar o desenvolvimento de processos (pedagógicos, pastorais, etc.), exercitar–se arte de gerir conflitos, dar sentido e ressignificar o serviço da autoridade conforme as circunstâncias, manter viva a utopia do Reino de Deus (nosso motor movente), usar quanto possível ferramentas da administração geral e as conquistas das ciências humanas (psicologia, sociologia, etc. ) quanto à gestão de pessoas.

9. DISCERNIMENTO: o processo de discernimento para a composição das comunidades por parte dos inspetores e seus conselhos deve levar em conta os desafios concretos das obras para que a pessoa do diretor não seja sobrecarregada de responsabilidades. Quando se toma cegas decisões (apressadas) não se leva em conta a complexidade das questões que compõem o contexto existencial da obra e nem da comunidade salesiana; por sua vez, também, às vezes, não se leva e conta a fragilidade existencial dos irmãos combalidos por suas limitações. Decisões erradas causam prejuízos à animação de pessoas. Contudo, segundo os contextos, nem sempre o diretor da comunidade religiosa se identifica com o gestor da obra.

10. LINHAS DE AÇÃO: no último dia do evento, em trabalho de grupo, foi solicitada dos participantes a sugestão de linhas de ação que pudessem servir para orientar a vida dos diretores, servindo também como material de reflexão para a Comissão Nacional de Formação. A seguir elencamos algumas das mais convergentes idéias: zelar pela formação permanente (humana, salesiana e teológica) de todas as gerações em vista da promoção da solidez humana, carismática e teológica da pessoa do religioso; promover eventos de partilha das dificuldades e conquistas na gestão da vida das nossas comunidades e obras; promover em todas as comunidades a elaboração do Projeto de Vida Comunidade; facilitar quanto possível a participação de todos os salesianos e irmãos formandos na caminhada da Reflexão da CRB; zelar pela pastoral vocacional com uma dinâmica e metodologia em sintonia com os tempos (tipo de jovem de hoje); devido a complexidade das obras, subsidiar os diretores com cursos sobre a gestão de pessoas.

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